Título: BB reduz taxa de juros do crédito rural
Autor: Riomar Trindade e Paulo Soares
Fonte: Gazeta Mercantil, 14/09/2004, Agribusiness, p. B-12

Para os agricultores, a medida é válida mas os custos de produção ainda são muito elevados. O governo federal decidiu reduzir as taxas de juros de algumas operações de financiamento do crédito rural operadas pelo Banco do Brasil (BB). A partir de hoje, as taxas de juros dos empréstimos concedidos com recursos livres caem entre 3,5 e 4 pontos percentuais, situando-se no intervalo de 1,3% a 1,7% ao mês, de acordo com a classificação de risco do produtor. Até então, essas taxas oscilavam de 1,6% a 2% mensais. O Banco do Brasil estima que a medida beneficiará cerca de 150 mil produtores rurais.

O anúncio foi feito ontem, de forma simultânea, pelo ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Roberto Rodrigues, na abertura do congresso dos supermercados, no Rio de Janeiro, e pelo vice-presidente de Agronegócio do BB, Ricardo Alves Conceição, em Brasília. "Essa medida, tomada em conjunto com o banco e o Ministério da Fazenda, resultará numa significativa redução do mix dos juros cobrados dos produtores", afirmou Rodrigues.

Custos altos

"É uma medida positiva mas os juros ainda são muito elevados para a agricultura", disse o presidente da comissão de agricultura da Câmara, deputado Leonardo Vilela (PP-GO). Segundo ele os juros totais pagos pelos agricultores estão nos mais altos patamares dos últimos seis anos. Além disso, completou o parlamentar, os custos de produção aumentaram muito e as commodities agrícolas despencaram no mercado externo.

Agricultura e Fazenda

A redução dos juros na agricultura é resultado de entendimentos iniciados no mês de julho pelo ministro da Agricultura Roberto Rodrigues com a diretoria do Banco do Brasil (BB) e com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Ricardo Conceição salientou que a redução, anualizada, representa queda de 4%.

Segundo Conceição, a redução beneficiará cerca de 150 mil produtores que tomaram empréstimos no banco. "Agora, os recursos começam a fluir com maior rapidez", afirmou Ricardo Conceição.

Segundo ele, cerca de 75% dos produtores que contraíram crédito rural serão beneficiados. Ricardo Conceição disse ainda que a redução das taxas de juros dos empréstimos concedidos com recursos livres ocorreu tendo em vista o aumento da demanda por crédito, fenômeno resultante da elevação dos custos de produção e de dificuldades dos produtores em obter recursos em outras fontes, como os bancos privados, as tradings e até mesmos postos de gasolina que fornecem combustíveis.

Na opinião de Conceição, a queda dos juros de recursos livres auxilia a antecipação da aplicação pelo Banco do Brasil de R$ 5 bilhões em crédito rural para o mês de setembro, conforme anúncio feito pelo governo em 31 de agosto. O objetivo é garantir recursos suficientes para o plantio da safra 2004/05, concentrado principalmente entre os meses de setembro e novembro. "Se precisar, o que acho difícil, o BB colocará à disposição dos produtores mais R$ 1 bilhão este mês", disse Conceição. De acordo com ele, essa verba suplementar, se necessária, seria antecipada do orçamento de aplicações em crédito rural de outubro.

A dotação de R$ 5 bilhões é o maior volume de crédito já oferecido pelo banco em um único mês. O BB deve aplicar R$ 7,6 bilhões no setor entre julho e setembro - primeiro trimestre do atual ano-safra -, o que resultará num volume R$ 1 bilhão superior à safra passada. Pelas contas do Banco do Brasil, a instituição responderá pela aplicação de R$ 25,5 bilhões do total de R$ 46,45 bilhões previstos para a safra 2004/05.

Desestímulo à produção

Na opinião de Vilela, os custos de produção subiram mais que os preços pagos pelas principais commodities agrícolas, o que provocou a queda na renda dos agricultores e diminuiu a capacidade de investimento na lavoura durante a próxima safra. "Isso pode gerar desestímulo à produção", afirma.

Este tema será discutido em audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados amanhã pela manhã. Segundo Vilela, o momento é delicado porque os produtores rurais "correm risco de endividamento, podendo ser obrigados a reduzir a produção em relação à safra passada", afirmou.

Os recursos para comercialização estão sendo discutidos pelos produtores rurais e os representantes da equipe econômica. Na safra 2003/04, foram destinados apenas R$ 217 milhões, quando a demanda seria de no mínimo R$ 800 milhões para uma política de sustentação dos preços pagos aos produtores, informa Vilela. "Por isso os preços do milho caíram tanto."

Para comparar, Vilela citou que em 1998 o governo destinou mais de R$ 2 bilhões para a comercialização. "Até o momento, a Fazenda aceita liberar R$ 500 milhões, mas continuamos negociando."