Título: Governo e oposição abrem guerra por cargos
Autor: Falcão, Márcio
Fonte: Gazeta Mercantil, 10/04/2008, Politica, p. A8

Brasília, 10 de Abril de 2008 - A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Cartões exclusiva do Senado ainda nem foi instalada e provoca novos embates entre governo e oposição. Nos bastidores, os líderes partidários articulam a composição da nova comissão, que promete ser protagonizada por caciques de ambos os lados. O entendimento dos partidos é de que depois do esvaziamento da CPMI dos Cartões pela oposição, a disputa entre governistas e oposicionistas deve esquentar as investigações do mau uso dos cartões. Ontem, o PMDB foi o primeiro partido da base governista a indicar seus escolhidos. Serão os senadores Valdir Raupp (RO), líder do PMDB no Senado, Gilvan Borges (RR) e Romero Jucá (RR), o líder do governo na Casa. "É claro que estamos preocupados. Cada CPI merece uma atenção especial e vamos amarrar bem esta questão", afirma a líder do governo no Congresso, Roseana Sarney (PMDB-MA). Do lado oposicionista, PSDB e DEM já se acertaram. Os senadores Efraim Morais (PB) e Demóstenes Torres (GO) representam o DEM. A vaga dos tucanos deve ser preenchida pelo senador Marconi Perillo (GO) ou pelo senador Álvaro Dias (PR). Das 11 cadeiras na CPI, os governistas será maioria mais uma vez com oito votos. Para o quadro que está sendo costurado se concretizar, governo e oposição terão que remanejar parlamentares nas outras comissões da Casa. Pelo regimento, um senador só pode ocupar um cargo titular e uma suplência nas comissões. No caso do líder do PMDB, por exemplo, ele terá que deixar a titularidade na CPI das Ongs. O Plano B do PMDB é repassar a vaga para o presidente do Conselho de Ética do Senado, Leomar Quintanilha (PMDB-TO). A idéia dos governistas é que Raupp seja o presidente da CPI dos Cartões do Senado. "Estamos preparados para a briga. Vamos discutir com todo bloco os melhores representantes que o governo pode escalar", disse Raupp. A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), que propôs fazer em massa as indicações envolvendo todos os partidos aliados não tem pressa. A indicação pode ocorrer até a próxima quinta-feira. Caso os partidos não entreguem os nomes, o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), pode escolher os integrantes. "Não estamos com a menor pressa", desconversou. Indiferente aos governistas, a oposição já prepara arsenal para disputar uma vaga no comando da CPI, mesmo sem a disposição do governo para ceder uma vaga. O argumento é que o DEM é o segundo maior bloco e, portanto, tem direito a um assento. Esvaziamento A estratégia da oposição para a CPMI dos cartões é continuar o esvaziamento da sessão de hoje. A presidente da CPMI, senadora Marisa Serrano (PSDB-MS), disse acreditar que as atividades públicas da comissão serão encerradas na semana que vem, uma vez que os governistas rejeitaram requerimentos de convocação de autoridades e quebras de sigilo dos gastos da Presidência. A senadora marcou reunião da CPI na próxima terça-feira.Se não tiver avanços, Serrano vai pedir apenas que o relator, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), conclua o relatório final com os resultados dos trabalhos da comissão. Na sessão de hoje da CPMI, apenas 12 parlamentares - de um total de 24 -- assistiram aos depoimentos da ex-ministra da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, e do diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda, que pouco contribuíram para as investigações da CPMI. Da parte da oposição, os deputados Vic Pires (DEM-PA) e Índio da Costa (DEM-RJ) foram os únicos a fazer perguntas. O diretor-geral Abin, Paulo Lacerda, defendeu o sigilo dos cartões corporativos da Presidência e destacou que os gastos são fiscalizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU). "O sigilo é absolutamente necessário. Não podemos ficar expostos a qualquer tipo de ameaça ao primeiro mandatário, ao vice e seus familiares. Temos o exemplo num país vizinho ao nosso onde uma ex-candidata veio a ser seqüestrada e até hoje está presa, gerando toda uma comoção mundial", explicitou Lacerda, se referindo a Ingrid Bettancourt, ex-candidata à presidência da Colômbia, presa pelas Farcs. Em seu depoimento, a ministra negou que tenha usado de "má fé" nas despesas com os cartões. Segundo ela, os gastos com R$ 171,5 mil foram para cobrir despesas com hospedagem, alimentação e transporte, sendo todos dentro do cumprimento de agenda de trabalho. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 8)()