Título: As mudanças de Raúl
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Fonte: Correio Braziliense, 18/04/2011, Mundo, p. 15

CUBA Presidente pede limitação de mandatos a 10 anos e defende abertura econômica Os mil delegados do Partido Comunista de Cuba (PCC) ¿ única legenda reconhecida pelo governo da ilha ¿ apoiaram ontem a proposta de reforma política e econômica feita pelo presidente Raúl Castro em um longo discurso no sábado. O chefe do Executivo apresentou uma série de medidas que prometem levar o país a uma economia mista, sem o atual controle ferrenho do Estado. As propostas incluem a limitação do tempo de mandato dos detentores dos principais cargos políticos a cinco anos, podendo haver uma reeleição para igual período. Até a próxima terça-feira, os integrantes do PCC analisarão 311 projetos que pretendem tirar a ilha da estagnação monetária. Este é o sexto congresso do partido e o primeiro em quase 14 anos.

¿As palavras de Raúl devem constituir uma profunda reflexão para a mudança de mentalidade, principalmente nos quadros (internos da legenda). Se não chegarmos a uma mudança de mentalidade aí, não conseguiremos isso na população¿, lembrou a delegada Raquel Zalavarría, reconhecendo que o PCC é o maior responsável pela estrutura burocrática que reina no país. Em seu discurso, o presidente cubano afirmou que as reformas são urgentes, ¿para garantir a irreversibilidade do socialismo.¿ Castro apontou, também, que o regime só continuará com a participação de pessoas jovens no governo.

Enérgico, o irmão de Fidel pediu a erradicação do ¿dogma¿, dos ¿slogans vazios¿, do ¿favorecimento¿ e da ¿mentalidade de inércia¿ vigentes em meio século de socialismo. O líder apontou como necessárias a abertura ao setor privado, a descentralização da agricultura, a eliminação de subsídios e a autonomia empresarial. O analista cubano Arturo López-Levy, do Instituto Internacional para o Estudo de Cuba, afirmou que o limite de mandatos é um passo histórico em direção às reformas institucionais. ¿O modelo `Fidel no leme¿ é substituído. Há, agora, uma crítica ao voluntarismo e à improvisação¿, destacou.

Pessimismo Mesmo assim, a oposição local reagiu em tom pessimista às propostas de Raúl Castro. O ativista Elizardo Sánchez afirmou que 10 anos a mais de governo castrista podem ¿arruinar¿ a ilha e classificou o discurso do chefe do Executivo como uma ¿verdadeira ameaça¿. Da mesma forma, pronunciou-se Berta Soler, uma das líderes do grupo Damas de Branco, formado pelas esposas de ex-presos políticos. ¿Aqui não mudou nada, as reformas de Raúl são cosméticas, para que ele fique no poder pelo tempo que resta a ele de vida¿, assinalou, em referência aos 80 anos que o presidente cubano completará em junho. Ontem, as Damas de Branco fizeram uma marcha pelas ruas de Havana, reafirmando a luta pela liberdade de pessoas opositoras ao regime.

Para ativistas moderados, as medidas propostas no congresso do PCC são válidas, apesar de tardias. ¿É positivo, apesar de, obviamente, isso ser deixado apenas para seus sucessores, pois a limitação para o próprio general Raúl Castro não faz sentido¿, lembrou o advogado René Gómez. Ontem, Castro voltou a classificar os dissidentes de ¿mercenários a serviço de uma potência estrangeira¿. ¿É mais do mesmo, eles agem como se as pessoas que discordam do governo não fossem cidadãos cubanos¿, rebateu Gómez. Além da reforma política e econômica, os membros do PCC elegerão uma nova cúpula para a legenda, até agora encabeçada por Fidel. O ex-presidente é primeiro-secretário do partido e Raúl, o segundo, desde a fundação do grupo, em 1965.