Título: Redução de gastos públicos pode conter alta de juros, diz CNI
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/04/2008, Nacional, p. A5

Brasília, 11 de Abril de 2008 - Representantes da indústria nacional temem que o Banco Central eleve a taxa básica de juro (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana que vem, para conter a forte demanda. A taxa cresce acima de 7% desde o último trimestre do ano passado, sendo a maior dos últimos 12 anos. Para evitar um corte do juro a Confederação Nacional da Indústria (CNI) defende a redução dos gastos públicos que cresce acima do PIB e, em parte, é um dos responsáveis pelo avanço da procura por produtos na economia. A instituição reitera que o aperto monetário deverá conter os investimentos no setor produtivo e frear a aceleração da economia brasileira. "Reduzir gastos públicos é a melhor opção para limitar a pressão sobre os preços", destaca a CNI, em nota técnica divulgada ontem. O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem se demostrado preocupado com as ameaças inflacionárias. Disse que o governo permaneceria atento ao aumento dos gastos correntes, em uma demonstração de evitar que o Banco Central elevasse a Selic. Dessa forma, o Ministério do Planejamento anunciou esta semana que o corte no orçamento da União deve ficar em R$ 19,4 bilhões, cifra que já tinha sido defendida por Mantega. Com a elevação das taxas de inflação, cresceu nos últimos dois dias o sentimento do mercado de que o colegiado do Copom elevará os juros em ao menos 0,25 ponto percentual na reunião que acontece entre 15 e 16. O Ìndice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) relativo ao mês passado, divulgado anteontem, subiu 0,48%, frustrando as expectativas do mercado, em torno de 0,30% e 0,40%. A inflação nos últimos 12 meses já alcança 4,73% e supera o centro da meta estabelecida pelo Banco Central para este ano, de 4,5%. A CNI reconhecer o forte aumento do consumo. Ela diz, entretanto, que a oferta de produtos na praça é compatível com a demanda, uma vez que as empresas têm investido na produção. E por isso, diz, não existem sinais de restrição que justifiquem aumento dos juros. "Os investimentos crescem em um ritmo que se mostra suficiente para permitir que a produção industrial se amplie sem gerar pressões sobre a utilização da capacidade instalada, restrições à oferta de produtos ou elevação de custos nas empresas". A CNI enfatiza ainda que o nível de utilização da capacidade instalada variou de, 83,1% para 83%, entre o quarto trimestre de 2007 e os dois primeiros deste ano, mesmo com o aumento da produção. No mesmo período, a produção industrial subiu de 7,9% para 9,2%. Para manter a inflação sob controle, a Confederação recomenda a necessidade de equilibrar a macroeconomia. Ou seja, o governo precisa limitar as despesas_ que cresceram 13,3% no ano passado _ em períodos em que a economia brasileira vai bem e apresenta forte dinamismo. O ideal, diz, é que o gastos públicos, aumentassem apenas quando a atividade econômica estivesse baixa. Assim, puxaria a economia para cima. De acordo com a entidade, os gastos do governo crescem desde 2004 acima do PIB. A média foi de 4,6 pontos percentuais acima do PIB. "E não há sinais de reversão, pois no primeiro bimestre deste ano o governo central desembolsou 15,1% a mais do que em igual período do ano passado", diz a nota. Além do forte aumento da demanda, a nota da CNI mostra o avanço do salário pago pelos industriais, que subiu 7,2% no primeiro bimestre deste ano em relação a igual etapa de 2007. A saúde das empresas, somada ao aumento dos gastos e a expansão do crédito no mercado elevam os recursos na praça. E é para tal cenário que o foco do Copom está direcionado, o que faz elevar as expectativas de aumento de juro para controlar a demanda. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()