Título: BC deve confirmar sinais e subir juro
Autor: Carvalho, Jiane; Góes, Ana Cristina
Fonte: Gazeta Mercantil, 11/04/2008, Finanças, p. B1

11 de Abril de 2008 - O discurso duro do Comitê de Política Monetária (Copom) nas últimas atas já deu resultado. Além de conduzir as expectativas do mercado - 17 das 19 instituições ouvidas crêem numa alta de 0,25 ponto na Selic - a "certeza" de um ajuste para cima na taxa já provocou uma alta nos juros ao consumidor, efeito da antecipação promovida pelos bancos. Boa parte dos analistas acredita que o juro subirá mais por conta do discurso empreendido pelo BC, do que por necessidades impostas pelo quadro econômico. A taxa Selic, após cair de 19,75% para 11,25% ao ano entre setembro de 2005 e outubro do ano passado, vem sendo mantida estável há quatro encontros consecutivos do Copom. A maioria esmagadora dos economistas ligados a instituições financeiras prevê alta de 0,25 ponto percentual na Selic. Caso o Copom confirme as expectativas, esta será a primeira elevação no juro básico desde junho de 2005. Mas a idéia de que a Selic subirá esta semana não é unânime. Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, o mercado já fez o trabalho para o BC ao elevar os juros cobrados dos consumidores, se antecipando a uma alta na Selic. "O discurso do BC já deu resultado. Ele vai evitar o ônus de elevar a Selic, até porque não é necessária uma alta agora sob os aspectos técnicos", avalia Agostini. "O Banco Central sabe que não vai evitar uma alta nas commodities com juro interno maior, a intenção dele já foi atingida e agora dá para deixar o juro inalterado." De fato, desde que o Copom endureceu o discurso nas atas em janeiro deste ano, o juro vem apresentando trajetória de alta. Os juros das operações de crédito subiram pelo terceiro mês consecutivo, segundo pesquisa da Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) divulgada ontem. Março registrou taxa média de juros de 7,28% ao mês, a maior desde junho de 2007. Nas operações de crédito para pessoa física, todas as linhas tiveram elevação. A taxa de juros média geral para pessoa física apresentou uma elevação de 0,03 ponto percentual no mês correspondente, passando a mesma 7,25% ao mês. Além de causar uma elevação nos juros ao consumidor, outro efeito do discurso mais duro do Copom foi elevar as estimativas de inflação. Hoje, segundo Relatório de Mercado do BC, analistas prevêem IPCA no centro da meta em 4,50% este ano. "As próprias projeções do IPCA começaram a subir após as atas muito duras do BC", lembra Agostini. Embora o juro cobrado pelo setor financeiro venha subindo, o que pode colaborar para conter o crédito e o consumo, a maioria dos analistas acredita em alta da Selic. Marcela Prada, economista da Tendências Consultoria engrossa o coro dos economistas que acreditam em uma Selic indo a 11,50% ao ano. A economista atribuiu sua previsão à estimativa do IPCA acima da projeção do mercado e às declarações do diretor de Política Econômica do Banco Central, Mario Mesquita. Ele afirmou que a principal ferramenta para conter a inflação é aumentar os juros. "A Selic deve encerrar o ano em 12,25%", afirmou a economista. O sócio-gestor da Advisor Asset Management, André Delben, vê exagero na curva da taxa de juros. "A curva de juros DI está muito alta para os próximos 12 meses. É uma reação exagerada", diz. Delben acredita que a Selic feche o ano em 12,25%. "Na verdade, há espaço para manter a Selic, mas o BC sinalizou a vontade de subir o juro e agora a tendência é a confirmação de seu discurso." Para o economista-chefe da corretora Ágora, Álvaro Bandeira, um aumento na Selic atende às pressões de curto prazo. "Os indicadores de longo prazo estão bem", ressalta. O economista do banco Real ABN Amro, Cristiano Souza, prevê o início de um ciclo gradualista de alta na Selic. "Acredito que o BC dê início a um ciclo gradativo de altas na Selic", avalia. Para Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores, "o BC demonstrou muita vontade de aumentar os juros e agora deve confirmar os sinais emitidos". (Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(