Título: Carioca é alvo de disputa política no Senado
Autor: Severo, Rivadavia
Fonte: Gazeta Mercantil, 16/04/2008, Infra-estrutura, p. C4

Brasília, 16 de Abril de 2008 - O governo e a Petrobras voltaram a negar, ontem, a notícia do megacampo de petróleo da estatal Carioca, na Bacia de Santos, que poderia chegar a 33 bilhões de barris, a maior descoberta dos últimos 30 anos no planeta. As explicações de autoridades governamentais minimizaram a informação sobre a nova reserva repassada na segunda-feira pelo diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), Haroldo Lima. O diretor de exploração e produção da estatal, Guilherme Estrella, disse ontem, em Brasília, que a empresa necessita de pelo menos três meses para confirmar o potencial do poço Carioca, operado pela Petrobras (45% de participação), em parceria com a britânica BG (30%) e a espanhola Repsol (25%). Entrevista concedida no Fórum Econômico Mundial de Cancún, no México, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, disse à agência "Reuters" que a empresa não é capaz de "confirmar" se o campo de Carioca contém 33 bilhões de barris. "Nós não podemos confirmar essa estimativa", disse. "Nós estamos em um estágio muito inicial. Assim que concluirmos o processo de perfuração, teremos informações melhores", acrescentou. Embora não exista confirmação sobre o volume do poço de Carioca, o vazamento da informação, ainda que oficiosa como disse o próprio diretor da agência de regulação do setor, ainda ontem causava impactos na bolsa de valores de São Paulo ( (ver matéria ao lado). Os analistas e investidores não engoliram as explicações do governo e continuaram apostando no anúncio da véspera. No dia dos desmentidos, Haroldo Lima negou que tenha anunciado a descoberta do campo gigante. Segundo ele, trata-se de informações que já são de conhecimento de especialistas e da mídia internacional e citou uma revista norte-americana que publicou uma matéria em seu site sobre o assunto. "A Petrobras comprovou tudo o que eu disse ontem. Já está na imprensa internacional. Os americanos podem tomar conhecimento do aumento de nossas reservas e os brasileiros não podem?", indagou o diretor da ANP, que participou de debate sobre royalties do petróleo na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, Segundo Lima, a informação que ele repassou na palestra de segunda-feira na Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio, dizia que fontes não oficiais falavam que as reservas poderiam ser de 33 bilhões, que seria a terceira maior do mundo, a maior descoberta nos últimos 30 anos e que seria até cinco vezes maior do que as reservas de Tupi. O diretor da Petrobras, que também estava presente no Senado, no entanto, correu em desmentir o anúncio e disse que são especulações que não respondem a critérios técnicos. De acordo com Estrella, somente após os testes de produção que serão realizados no campo é que a Petrobras vai começar a estimar sua capacidade e quanto ele poderia ter de reservas. Estrela estimou em, pelo menos, três meses esse prazo. O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, tratou de colocar panos quentes sobre o assunto e disse que o anúncio já havia sido retificado pela Petrobras e pelo próprio ministério no dia anterior. Já o Ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reclamou do modo como foi anunciada a descoberta. No senado, a discussão tomou ares de disputa partidária. Durante o debate sobre royalties do petróleo na Comissão de Assuntos Econômicos, os senadores governistas defenderam a revelação de Lima, enquanto a oposição bateu forte no anúncio do diretor. O senador Francisco Dornelles (PP-RJ), foi quem destoou da briga partidária e mesmo fazendo parte da base governista foi duro com Lima e disse que a revelação de dados privilegiados e sigilosos não poderia sair da ANP. Ontem, o Ministério Público Federal do Rio de Janeiro informou que existe a possibilidade de instauração de um inquérito administrativo em relação à informação sobre o campo Carioca. "A matéria será distribuída e será escolhido um procurador que vai decidir se será instaurado um inquérito administrativo ou não", informou a assessoria à "Reuters". Apesar dos desmentidos de ontem, o governo havia especulado, durante a divulgação da descoberta do campo de Tupi, em novembro do ano passado, que o potencial de óleo e gás na camada de pré-sal, a mesma do campo de Tupi, poderia chegar a um volume entre 50 a 70 bilhões de barris, se estendendo em uma área entre 800 quilômetros e 1.000 quilômetros, desde o litoral do estado do Espírito Santo, até Santa Catarina, o que colocaria o Brasil entre os dez maiores detentores de reservas mundiais de petróleo, como a própria ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, chegou a ventilar. As reservas do Campo de Tupi estão estimadas entre 5 e 8 bilhões de barris que representam cerca da metade das atuais do país que são de 14 bilhões de barris. Depois da descoberta de Tupi, a Petrobras anunciou outro campo gigante, o de Júpiter. (Gazeta Mercantil/Caderno C - Pág. 4)(