Título: Antes do previsto
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 21/04/2011, Economia, p. 12

Apesar dos esforços do governo em domar o dragão da inflação, os brasileiros devem preparar o bolso e apertar o orçamento nos próximos meses. A prévia do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-15), divulgada ontem, deu o alerta: a carestia deve estourar o limite da meta de 6,5% já em abril, muito antes do fim do terceiro trimestre, como previu o Banco Central. O indicador foi de 0,77% entre 16 de março e 12 de abril ¿ nos últimos 12 meses, acumulou 6,44%. Analistas ouvidos pelo Correio estimam que os preços devem ter alta de, no mínimo, 0,80% no mês fechado, ficando acima do máximo estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).

O rompimento do teto inflacionário era esperado pelos economistas entre junho e julho, mas foi antecipado pela escalada dos combustíveis, causada pela crise de abastecimento do etanol. ¿O mercado esperava que a inflação ultrapassasse os 6,5% em algum momento do ano, mas veio antes pela falta do produto nas bombas¿, afirmou Fábio Romão, da LCA Consultores. Segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o preço da gasolina avançou 4,28% na prévia de abril, enquanto o etanol subiu 16,40%. Juntos, esses itens foram responsáveis por 0,24 ponto percentual do indicador.

Em virtude disso, Romão estima que o IPCA acumulado em abril chegue a 6,6%. ¿Com o IPCA-15, calibrei meus cálculos e estou projetando 0,85% para o mês, o que vai levar a uma taxa de 6,6% em 12 meses¿, previu. A avaliação do economista-sênior do Espírito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, também é de que o aumento do etanol continue pressionando a inflação. ¿Com o início da safra, o álcool hidratado (utilizado diretamente nos veículos) deve ter uma suavização nos preços, mas o anidro (misturado à gasolina) ainda continuará a subir¿, explicou.

A queda dos preços, segundo os economistas, só ocorrerá a partir de maio. ¿Em geral, essa devolução acontece em abril, mas só vai ser captada entre maio e junho. Independentemente dos combustíveis, imagino que a inflação em 12 meses fique igual ou acima do teto da meta pelo menos até outubro¿, ponderou Romão.

Os alimentos também contribuíram com o IPCA-15 em abril ao subirem 0,79%. Os produtos que mais influenciaram foram a cebola, cujo o preço subiu 22,56% no período; a batata-inglesa, com alta de 10,05%; e o leite pasteurizado, que deixou de registrar deflação de 0,38% em março para ter reajuste médio de 1,58% em abril. Segundo Romão, o grupo deve permanecer mais ¿comportado¿ nos próximos meses, mas outras pressões, como as do vestuário (em função de novas coleções) e os reajustes de remédios, autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), devem pressionar o indicador.

Ovo de Páscoa sobe 12,21% em Brasília O ovo de Páscoa, vedete dos supermercados nesta época, ficou 10,63% mais caro este ano, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas em sete capitais brasileiras. Brasília teve o maior aumento médio (12,21%) e Salvador, o menor (9,13%). Ambos os valores, no entanto, superam o Índice de Preços ao Consumidor (IPC-BR), medido pela instituição, de 5,86%. A dica para quem não abre mão do chocolate é pesquisar preços, que podem variar até 40% entre os fabricantes. Em compensação, outros itens tradicionais nas mesas neste feriado tiveram queda. O bacalhau ficou 6,12% mais barato em comparação com 2010, enquanto a cebola e a batata-inglesa recuaram 29,95% e 33,99%, respectivamente. O azeite de oliva também vai pesar menos no bolso, com retração média de 6,78%. (GC)