Título: BC sobe para US$21 bi projeção de déficit em conta-corrente
Autor: Monteiro, Viviane
Fonte: Gazeta Mercantil, 24/06/2008, Nacional, p. A5
Brasília, 24 de Junho de 2008 - O Banco Central (BC) elevou de US$ 12 bilhões para US$ 21 bilhões a projeção para este ano do déficit em transações correntes, um dos principais indicadores do Balanço de Pagamentos do País. A cifra equivale a 1,49% do Produto Interno Bruto (PIB). Caso se confirme, esta será a maior taxa como proporção do PIB desde 2002, quando alcançou 1,51%. Essa piora foi minimizada pelo chefe do departamento econômico do BC (Depec), Altamir Lopes, para quem o forte ingresso de investimentos estrangeiros diretos (IED) fará frente ao déficit em conta-corrente. "Só o investimento direto seria mais do que suficiente para financiar o resultado negativo das transações correntes", disse, ao comentar a Nota sobre o Setor Externo referente a maio, divulgada ontem pela autoridade monetária. Para Lopes, o déficit em transações correntes tende a se acomodar ao longo deste ano, uma vez que se espera um arrefecimento das remessas de lucros e dividendos, que tiveram um volume alto entre o segundo semestre de 2007 e início deste ano. Em maio, o resultado negativo em conta-corrente foi de US$ 649 milhões, em comparação com US$ 3,31 bilhões no mês anterior. Esse valor ainda ficou acima do déficit apurado em maio de 2007, de US$ 151 milhões. Por outro lado, a estimativa do BC é que a entrada de investimentos ganhe força no segundo semestre. Em maio, o ingresso de capital foi de US$ 1,9 bilhão ante US$ 1,36 bilhão apurado em igual período de 2007. No acumulado do ano, esses investimentos somam US$ 13,6 bilhões, ou 2,44% do PIB. Em igual etapa do ano passado, o ingresso de recursos no País atingia US$ 11 bilhões. Por conta disso, o BC elevou a previsão para o IED de US$ 32 bilhões para US$ 35 bilhões, o que representaria 2,48% do PIB. Essa seria a maior entrada de investimentos estrangeiros no País desde o início da série histórica, em 1947. E superaria o recorde de US$ 34,3 bilhões do ano passado. Remessas de lucros Entre janeiro e maio as empresas estrangeiras instaladas no País enviaram às sedes no exterior US$ 10,9 bilhões, em lucros e dividendos. É praticamente o dobro do apurado em igual período do ano passado, de US$ 5,1 bilhões. Apenas em maio, o montante foi de 1,7 bilhão, cifra semelhante a de igual período do ano anterior. Diante do aumento dos gastos de turistas brasileiros no exterior, devido à desvalorização do dólar diante do real, o BC também elevou a projeção para as remessas de viagens de US$ 4 bilhões para US$ 5 bilhões. Além disso, revisou para baixo o superávit da balança comercial, de US$ 27 bilhões para US$ 25 bilhões em virtude do maior ritmo de crescimento das importações em relação às exportações. O Brasil vem atraindo o apetite de investidores em decorrência da obtenção de grau de investimento. Lopes afirma que houve aumento significativo na entrada de recursos no País em razão da conquista da classificação. No mês passado somaram US$ 1,94 bilhão, em comparação com US$ 1,37 bilhão registrados em maio do ano passado. "Em decorrência da obtenção do investment grade, o apetite por aplicações em portfólio (aplicações em ações e em renda fixa) no Brasil aumentou e tivemos que revisar os números", afirmou Lopes. O BC elevou a previsão para as aplicações em ações e em renda fixa para US$ 25 bilhões. A previsão anterior era de US$ 12 bilhões. Até agora, essa rubrica acumula US$ 14 bilhões. No acumulado do ano, o déficit em transações correntes totaliza US$ 14,717 bilhões, o equivalente a 2,57% do PIB. E reverte o resultado positivo de US$ 1,8 bilhão apurado em igual etapa do ano anterior. Nos últimos 12 meses encerrados em maio, o saldo de transações correntes ficou deficitário em US$ 15,153 bilhões, o equivalente a 1,11% do PIB. Enquanto isso, em igual período do ano passado, as contas eram superavitárias em US$ 13,398 bilhões. Em maio, o resultado global do balanço de pagamento somou US$ 4 bilhões, quase quatro vezes menor do que o apurado em igual mês de 2007 (US$ 15,3 bilhões). No acumulado do ano, o montante é de US$ 16,6 bilhões, abaixo dos US$ 50,8 bilhões na mesma etapa de 2007. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()