Título: Para analistas, governo deveria reduzir dívida
Autor: Cavalcanti, Simone
Fonte: Gazeta Mercantil, 01/07/2008, Nacional, p. A5

São Paulo, 1 de Julho de 2008 - Em vez de investir na criação do fundo soberano, o governo deveria aproveitar o período favorável nas contas públicas para reduzir o percentual do Produto Interno Bruto (PIB) relativo a juros pagos pelo estoque da dívida. Leonardo Miceli, da equipe de economistas da Tendências Consultoria Integrada, explica que, enquanto o fluxo de pagamento de juros se mantém estável em torno de 6% do PIB, o superávit tem uma trajetória instável em torno de 4% do produto. De fato, de acordo com a nota do Banco Central divulgada ontem, nos últimos 12 meses encerrados em maio, a economia do governo foi equivalente a 4,43% do PIB, mas a carga de juros chegou a 6,06%. Exatamente por esse motivo, o Brasil fecha as contas todos os anos no negativo, formando o déficit nominal. "Seria o momento de aproveitar o superávit nominal e, realmente, reduzir a dívida para que o percentual de juros diminuísse para 5% por exemplo", diz, "Com certeza, o governo se beneficiaria disso no futuro". O economista sugere que o Tesouro Nacional faça mais resgates do que emissões de títulos públicos da dívida interna. Ou ainda não faça renovação da dívida ou parte dela que esteja para vencer. Para Miceli, isso poderia forçar a redução do percentual de juros a serem pagos, melhorando o fluxo das contas públicas. Lygia Cesar, da MCM Consultores Associados, concorda com o raciocínio. No entanto, a economista lembra que a existência do Plano Anual de Financiamento (PAF) limita o campo de ação do Tesouro Nacional nesse sentido. "Eles têm de agir dentro do que foi planejado para a trajetória dívida pública", diz. Para a economista, o ideal seria que o governo se comprometesse com um superávit maior do que o atual para aproveitar o momento classificado por ela como muito bom. "O problema é que isso esbarra na esfera política, o que complica um pouco". Efeito A trajetória de alta da taxa básica de juros, a Selic, vai interferir no custo da dívida, mas, mesmo assim, diz Lygia, isso não interferirá no processo de recuo do déficit nominal. Um dos motivos é que, diferentemente dos ciclos de aperto monetário de anos anteriores - quando a parcela da dívida interna corrigida pela Selic era maior do que 50%- hoje a participação é de 35%, o que surte menor efeito. A perspectiva da MCM para o déficit no final do ano é de em torno de 2% do PIB. No ano passado, o resultado foi negativo em 2,26% do produto. A economista ressalta ainda que o aquecimento da economia, que deve continuar até o final do ano e a valorização do PIB pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) vão ajudar a reduzir a relação entre a dívida líquida e o produto. (Gazeta Mercantil/Caderno A - Pág. 5)()