Título: Alta de preço em país emergente preocupa
Autor: Góes, Ana Cristina
Fonte: Gazeta Mercantil, 31/07/2008, Nacional, p. A7

A escalada da inflação nos países emergentes é mais preocupante do que nos países desenvolvidos porque o aumento nos preços é apurado no núcleo do índice - que exclui alimentos e energia - e o repasse dos custos dos alimentos e do petróleo contamina os outros itens, afirmou o economista José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados, na palestra "Para onde vai a economia no segundo semestre? Uma visão setorial", do seminário "Desafios do crédito e da economia para o segundo semestre", que aconteceu ontem na sede da Associação Comercial de São Paulo. "Nos países desenvolvidos, o núcleo da inflação é estável. Se o preço das commodities caírem, a inflação cheia converge para a inflação no núcleo. Já nos países emergentes a demanda forte por alimentos e energia contamina os outros preços", disse Neste cenário, o economista prevê uma elevação na taxa básica de juros maior nos países emergentes do que nos países desenvolvidos. "O Bernanke reza todo dia para os países emergentes elevarem o juro básico para o preço do petróleo cair assim ele não precisaria elevar os juros", disse. "Para os Estados Unidos e a Europa, uma queda no preço do petróleo resolveria o problema da inflação, aqui não", disse. O economista acredita que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) mantenha a taxa básica de juros em 2% ao ano até 2009. "Nem se ele quisesse ele teria condições de subir os juros agora", afirmou. Sobre o crescimento econômico brasileiro, o economista acredita que continuará forte, mas pode apresentar sinais de desaceleração um pouco mais intensos no segundo semestre. "Com a redução do saldo comercial e a deterioração das transações correntes o piso para o câmbio começa a desaparecer", alertou. "O crescimento do PIB ainda está forte este ano e deve fechar em 4,8%, mas as perspectivas para o segundo semestre são menores. Em 2009, o PIB deve encerrar o ano em 3,5%", projetou. "O Brasil tem condições de crescer 4% ao ano, mais do que isso não dá porque não temos infra-estrutura e os impostos continuam altos", disse. Em relação ao câmbio, o sócio-diretor da MB Associados estima que a valorização do real é temporária, mesmo com a elevação na taxa de juros. "Esperamos uma desvalorização do real no próximo ano, mas a queda não será grande porque temos reservas", afirmou. Mendonça de Barros projeta o dólar um pouco mais caro no final do ano e acredita que a divisa encerre 2009 cotada em R$ 1,85. Sobre a inflação acumulada, a MB Associados estima que o Índice Geral de Preços - Mercado (IGP-M) encerre o ano em 12% e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fique em 7%. Empresários desconfiados Uma pesquisa encomendada pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP) ao Instituto Insearch com 350 pequenos e médios empresários da capital paulista sobre o cenário econômico no segundo semestre revelou que a maioria dos entrevistados temem o cenário político-econômico atual. Do total de pesquisados, 69% afirmou que o cenário político-econômico não gera confiança, 25% afirmou ter alguma confiança e 6% se mostrou muito confiante. Em relação aos efeitos do aumento na taxa básica de juros, 45% dos entrevistados acreditam que haverá diminuição dos negócios em relação ao primeiro semestre do ano, 45% apostam na manutenção dos negócios nos mesmos níveis e 10% acreditam no aumento dos negócios. A pesquisa foi realizada antes da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que decidiu por uma elevação em 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), que passou para 13% ao ano. "A pesquisa mostra que os efeitos da inflação são mais perceptíveis para o varejo. Outra constatação foi que a inflação é considerada um problema maior para os pequenos e médio empresários do que os juros altos", afirmou o economista-chefe da ACSP, Marcel Solimeo. Para o economista, o consumidor só vai sentir mais o efeito da alta do juro quando os prazos de financiamento forem reduzidos. "O repasse da alta de juros é mais lento do que antes", disse. Em relação à taxa básica de juros, 73% afirmou que a taxa influencia principalmente o segmento de comércio atacadista e 47% disseram que a taxa tem impacto no comércio varejista. A maioria dos entrevistados, 57%, acredita que o nível de inflação implicará na diminuição do volume de negócios de suas empresas, 33% crê que não haverá impacto significativo e 10% aposta no aumento dos negócios. Em relação às expectativas relacionadas ao segmento de atuação das empresas, 37% acredita que o mercado não terá nenhuma alteração para a realização de negócios, 36% diz que o mercado está favorável e 27% disse que a realização de negócios está desfavorável para as empresas do seu segmento.