Título: Força-tarefa contra a inflação
Autor: Caprioli, Gabriel ; Kleber, Leandro
Fonte: Correio Braziliense, 27/04/2011, Economia, p. 12

CONJUNTURA A equipe econômica se une à presidente da República num esforço concentrado para confirmar o compromisso de preservar o poder de compra do real. Preocupada com a reação do mercado, Dilma Rousseff garante que está "diuturnamente e noturnamente" atenta ao assunto

Preocupado em acabar com os temores de consumidores, de empresários e do mercado financeiro de que os preços entrem em uma espiral de elevação descontrolada, o governo afinou o discurso e deu novas demonstrações, ontem, de que está com todas as armas apontadas para a inflação. Na primeira reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) de sua gestão, a presidente Dilma Rousseff deixou claro que essa é a principal preocupação do momento. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, reforçaram o coro entoado pela chefe do Executivo, que afirmou estar ¿diuturnamente e noturnamente¿ atenta ao tema.

Confiante, Dilma disse acreditar que as medidas adotadas pela Fazenda e pelo BC, como a alta da taxa básica de juros (Selic) e a adoção de alternativas macroprudenciais, ainda não tiveram resultados efetivos, mas causarão um impacto no futuro. ¿Tenho um compromisso e assumi desde o primeiro momento, no meu discurso de posse, e ao longo da minha campanha: o controle da inflação. Sem ele não há desenvolvimento sustentado¿, disse. Dilma ainda mandou um recado para quem tem dúvidas sobre seu compromisso contra a inflação. ¿Compreendo quando setores da sociedade, no calor do debate econômico, duvidem de tudo, mas compreender não pode significar, para o governo, aquecê-lo mais do que é necessário.¿

Surto inflacionário Mantega defendeu o uso de todos os meios necessários para evitar mais pressões sobre os preços, mas minimizou a situação brasileira, ao avaliar que o mundo passa por um ¿surto inflacionário¿. ¿O Brasil não está mal na foto mundial. Estamos conseguindo conter mais do que outros países. Na China, a inflação subiu de 2,5% para 5,4% em 12 meses até março. No Reino Unido, a inflação está subindo forte e na Rússia também. Os Estados Unidos ainda não captaram a o reflexo do petróleo, mas a inflação já está subindo para mais de 4%¿, disse.

Na avaliação do ministro, o crescimento da inflação no mundo está relacionado com a subida dos preços das commodities (produtos básicos com cotação internacional, como alimentos e minerais). ¿A razão é, em primeiro lugar, um choque de oferta. Algumas commodities faltaram durante algum período, por fatores climáticos pelo aumento do consumo em países em desenvolvimento¿, declarou.

Segundo a prévia de abril, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulou, nos últimos 12 meses, 6,44%, próximo do teto da meta de 6,5%. Apesar do sinal de alerta dado pelo indicador, o BC reduziu o aperto monetário com base na elevação de juros, contando com a eficácia das medidas de restrição ao crédito e com a redução de gastos públicos.

O presidente da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústria de Base (Abdib), Paulo Godoy, também avaliou que a alta da inflação é um problema global. ¿É uma questão que afetou o mundo inteiro. Hoje, você não vê nenhum país com menos de 3%, 4% de inflação. Também estamos com esse problema, mas estamos caminhando corretamente¿, ponderou.

Alexandre Tombini reiterou que a autoridade monetária mira no centro da meta para o IPCA (4,5%), somente em 2012, mas ressaltou que a autoridade monetária está atenta. ¿A inflação dentro da meta vai exigir esforço redobrado do BC. Vai ser buscada de forma consistente e incisiva ao longo do tempo, para fazer a inflação convergir em 2012 (para a meta central de 4,5%)¿, disse o presidente do BC.