Título: Senador tenta reaproximação
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Fonte: Correio Braziliense, 12/05/2011, Mundo, p. 27

Em um esforço para reparar os estragos causados na relação com o Paquistão pelo ataque no qual um comando de elite matou o líder terrorista Osama bin Laden, o presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado norte-americano, o democrata John Kerry, visitará Islamabad na próxima semana. Ele será o primeiro emissário de alto nível de Washington desde a operação contra o líder da Al-Qaeda, realizada no último dia 2, sem conhecimento das autoridades locais, na cidade paquistanesa de Abbottabad. O anúncio coincide com o aumento da pressão sobre setores militares paquistaneses suspeitos de conivência com Bin Laden, que viveu por até cinco anos perto da capital e a poucos quilômetros da principal academia militar do país.

Vários congressistas americanos apontaram uma eventual cumplicidade entre setores do Exército e da inteligência paquistaneses e a rede terrorista. ¿Várias pessoas sugeriram que seria bom falar sobre o que ocorreu e retomar a relação bilateral¿, afirmou Kerry, que fará antes uma escala no Afeganistão. O presidente Barack Obama pediu ao governo paquistanês que investigue sobre o possível apoio ao inimigo número 1 dos EUA.

O primeiro-ministro Ysuf Raza Gilani qualificou as especulações como ¿absurdas¿, mas anunciou um inquérito. O líder da oposição, Nawaz Sharif, propôs a formação de uma comissão especial para esclarecer se houve algum acordo sigiloso entre os ex-presidentes George W.Bush e Pervez Musharraf para permitir que forças americanas realizassem operações livremente no Paquistão. General do Exército que tomou o poder em 1999, hoje exilado em Londres, Musharraf desmentiu essa hipótese. Porém, em entrevista à rede de TV ABC News, admitiu a possibilidade de que oficias subalternos de inteligência possam ter tido conhecimento do paradeiro de Bin Laden. A inteligência do Paquistão tem um longo histórico de contatos com militantes islâmicos.

Popularidade Enquanto persiste a tensão, Obama colhe os dividendos da execução de Bin Laden. Ontem, um estudo da Associated Press-GfK mostrou que a taxa de aprovação do presidente chegou a 60%, o nível mais alto dos últimos dois anos. A pesquisa sugere que ele tenderia a se reeleger em 2012. Obama mencionou ontem a guerra ao terror durante comício no Texas para arrecadar fundos de campanha. Com o cuidado de dar crédito à tropa de elite e à inteligência, ele frisou que os EUA estão ¿combatendo a Al-Qaeda¿.

A operação em Abbottabad ganhou ontem os aplausos do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, que na semana passada chegou a cobrar dos EUA informações mais precisas sobre o destino dado ao corpo. ¿Sinto-me aliviado por ter sido feita justiça àquele inspirador do terrorismo¿, declarou Ban em Genebra, na Suíça.

Outro importante endosso foi dado pelo histórico rival dos norte-americanos durante a Guerra Fria. O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, estimou que os EUA tinham ¿o direito¿ de enviar um comando ao Paquistão para matar Bin Laden sem avisar Islamabad. ¿Depois do 11 de setembro de 2001, o Conselho de Segurança adotou uma resolução reconhecendo claramente que os EUA tinham o direito de atuar em autodefesa sem nenhum tipo de limitação¿, afirmou Lavrov ao jornal Moskoyskie Novosti. O governo russo adota o mesmo princípio de extraterritorialidade quando trata de terroristas islâmicos da região do Cáucaso refugiados em vizinhos como a Geórgia.

Mais um na lista Os EUA incluíram ontem na sua lista de organizações terroristas a rede liderada no Afeganistão pelo clã Haqqani, aliado da Al-Qaeda. O atual líder do grupo, Badruddin Haqqani é filho do fundador, Jalaluddin Haqqani. Ele e seus irmãos são considerados ¿terroristas globais¿. A rede foi acusada de alguns dos ataques mais letais contra os EUA no Afeganistão, incluindo o atentado suicida à base de Khost, em 2009, que matou sete agentes da Agência Central de Inteligência (CIA). Os bens dos irmãos Haqqani foram congelados no território americano.