Título: Problemas antigos
Autor: Alves, Renato
Fonte: Correio Braziliense, 26/05/2011, Cidades, p. 27

Panes elétricas e alagamentos na parte debaixo do barco naufragado no domingo se revelavam corriqueiros. A informação partiu da dona do bufê organizador da fatídica festa realizada no Imagination e de dois DJs que animavam eventos na embarcação havia dois anos. A mulher falou das falhas aos investigadores da tragédia no Lago Paranoá. Já os rapazes responsáveis pela sonorização foram localizados pelo Correio no Gama e ainda não prestaram depoimento à polícia.

Policiais acreditam que o acidente ocorreu de uma combinação de fatores, como superlotação, falta de manutenção, falhas dos operadores da embarcação e negligência com o esquema de segurança para os ocupantes. Até a noite de ontem, os bombeiros haviam resgatado sete corpos no Lago Paranoá. Com o bebê que não resistiu logo após o acidente, subiu para oito o número de mortos. Os militares trabalham com a hipótese de haver mais um corpo em meio aos restos do Imagination, a 18m de profundidade.

A linha de investigação dos agentes da 10ª Delegacia de Polícia, no Lago Sul, se sustenta no fato de os peritos mergulhadores terem identificado uma rachadura nos tubos de flutuação do barco e em depoimentos como o de Vanda Cristina Pereira, 25 anos, dona do bufê que realizou a festa na noite de domingo. Em interrogatório ontem, ela confirmou a informação dita por outras testemunhas, que o barco apresentava problemas antes do naufrágio.

Vanda Pereira trabalhou em uma festa no Imagination para funcionários da Embaixada da Nigéria, no último dia 18, e em um evento da Embaixada dos Estados Unidos, no dia 19. Ela ressaltou que na festa africana houve um pico de energia elétrica e na norte-americana, dois. A empresária contou que os convidados dos Estados Unidos ficaram preocupados com os apagões. Para tranquilizá-los, o piloto disse, segundo ela, que era algo simples, pois o gerador teria parado de funcionar temporariamente.

De acordo com Vanda, as quedas de energia ocorriam em quase todos os eventos realizados no Imagination, por isso ela não entrou em pânico quando faltou luz no barco na noite de domingo, no início do naufrágio. A mulher havia sido contratada para servir comida e bebida diversas vezes na embarcação. Ela afirmou na 10ª DP que, desde o acidente, está tentando entrar em contato com os donos do barco, sem sucesso.

Água no motor Como Vanda Pereira, DJs que trabalhavam no Imagination havia mais tempo afirmaram ao Correio que as panes elétricas na embarcação eram comuns. Também era rotina entrar água nos tubulões e até no motor. ¿Já tive que deixar o som para ajudar o comandante a resolver problemas¿, revela um deles, que costumava tocar no barco pelo menos uma vez por semana.

O DJ, que prefere não se identificar, conta ainda que a maioria dos coletes salva-vidas do Imagination ficava escondida. ¿Deixavam apenas cinco no piso inferior e cinco no piso superior. O restante ficava em um quartinho com acesso restrito aos funcionários. E ninguém, nenhum passageiro ou tripulante, usava o equipamento¿, disse ele, que animava festas no barco havia quase dois anos. ¿Já toquei em muita festa de embaixada, de tribunal e até da Presidência da República. Imagine se isso (naufrágio) ocorresse com essa gente a bordo?¿, questiona.