Título: BC aperta o cerco a tesouro roubado
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 30/05/2011, Economia, p. 10

O Banco Central (BC) está no encalço dos ladrões que levaram R$ 164 milhões do cofre da instituição em Fortaleza (CE) e protagonizaram o segundo maior assalto da história da humanidade. Após o crime, ocorrido em agosto de 2005, o esquema de lavagem desse dinheiro envolveu tantas pessoas e empresas que até hoje, quase seis anos depois, há dúvidas sobre se todos os envolvidos foram identificados.

Dados obtidos com exclusividade pelo Correio mostram que o BC, com apoio da Polícia Federal e da Justiça, listou 727 itens comprados com o dinheiro roubado. Entre eles, 188 veículos, 84 imóveis, joias, animais e investimentos financeiros. O desafio é obter autorização judicial para leiloar os bens e separar inocentes das pessoas que ganharam para facilitar a ¿legalização¿ da fortuna. Até agora, R$ 20 milhões foram recuperados pela autoridade monetária.

Apenas um assalto a banco na Inglaterra foi maior. Em 12 de julho de 1987, dois homens invadiram o Knightsbridge Safe Deposit, em Londres, e levaram o equivalente a R$ 400 milhões. Para não levantar suspeitas, a dupla colocou uma placa na porta da agência dizendo que estava fechada. No caso da capital cearense, oito homens escavaram um túnel por três meses para invadir a sede do BC, investindo quase R$ 1 milhão na operação. A caçada aos criminosos começou logo após a fuga. Quase todos foram presos. Mais de 30 pessoas estavam envolvidas diretamente e pelo menos 90, indiretamente.

O responsável pelo cerco ao esquema de lavagem do dinheiro roubado é Isaac Ferreira, procurador-geral do BC. Segundo ele, como era impossível que os assaltantes depositassem o dinheiro num banco sem levantar suspeitas, optaram por comprar diversos bens. ¿O Banco Central é a vítima nessa história e estamos fazendo todo o possível para reaver esses valores. O assalto foi um esquema sofisticado, envolvendo profissionais do crime¿, diz Ferreira.

Diante da quantidade expressiva de compras feitas com o dinheiro do assalto, o Judiciário recebeu 110 ações. Dessas, 67 são pessoas que querem impedir o leilão dos bens comprados dos criminosos. A dúvida é se fizeram o negócio de boa-fé. Até a última sexta-feira, o BC tinha leiloado 65 itens de maior valor. Juntos, renderam à autoridade monetária R$ 4,3 milhões ¿ volume quase 50% maior comparado a maio de 2010. De todo montante levado, R$ 25,3 milhões retornaram aos cofres públicos ¿ o equivalente a 15,3% de tudo que foi subtraído.

Ferreira espera recuperar muito mais que isso, sobretudo quando tiver levado a leilão os bens identificados como adquiridos com o lucro do crime. O procurador admite, contudo, que parte desses recursos jamais serão repostos. ¿Identificamos quase tudo que os bandidos compraram, mas algo pode ter escapado. Em alguns casos, compraram, por exemplo, uma fazenda por valor muito superior ao preço de mercado. Quando levá-la a leilão, só conseguiremos o valor padrão¿, explica.

A fortuna levada do BC era formada por 3,5 toneladas de notas usadas de R$ 50. Na época do assalto davam para comprar 7.163 carros populares, de R$ 23 mil cada. O dinheiro era tanto que os assaltantes levaram dois dias para conseguir tirá-lo do cofre pelo túnel sob o prédio do BC.

Filme Quase todos os envolvidos no roubo histórico foram mortos ou presos. Cinco dos assaltantes, entre eles um dos mentores do crime, Luiz Fernando Ribeiro, foram sequestrados e assassinados. Segundo a Polícia Federal, os sequestradores eram policiais. Isso ficou evidente na Operação Toupeira, na qual a quadrilha de Fortaleza financiava crime semelhante ao cometido no Ceará. Um bando havia escavado um túnel para assaltar o Banco do Brasil em Porto Alegre (RS). O roubo só não ocorreu porque federais descobriram que policiais de São Paulo tinham ido ao Sul extorquir os criminosos. Essa história está contada no filme Assalto ao Banco Central, a ser lançado no segundo semestre.

História na telona Walkiria Barbosa, produtora da Total Enterteinment, está ansiosa pelo lançamento do seu filme Assalto ao Banco Central, que tem apoio da norte-americana Fox. ¿Quando saiu a notícia do assalto na imprensa fiquei louca¿, relembra, antes de saber o desafio que tinha pela frente. ¿Só para montarmos um túnel cenográfico, tivemos de contar com a ajuda de geólogos e especialistas em perfuração. Foi uma coisa complexa¿, conta. Walkiria não usou os nomes originais dos criminosos para evitar que entrassem na Justiça contra a produtora.