Título: Dólar para pagar até táxi
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 31/05/2011, Economia, p. 12

O Banco Central estuda flexibilizar as regras para a compra e a venda de moeda estrangeira no Brasil e até mesmo autorizar o uso de dólares, euros e francos suíços por turistas em viagem ao país para o pagamento de táxi, restaurantes e hotéis. Atualmente, é proibida a circulação de qualquer outra moeda no país a não ser o real. O objetivo da autoridade monetária é facilitar a estadia de estrangeiros durante as copas das Confederações (2013) e do Mundo (2014) e as Olimpíadas (2016). Entre as medidas analisadas está a de liberar operações de câmbio (troca de moeda estrangeira por real ou outra divisa) em lojas de conveniências e outros tipos de comércio, como as farmácias.

A preocupação do presidente do BC, Alexandre Tombini, no entanto, é com a possibilidade de facilitar a lavagem de dinheiro no país. ¿A busca por modernização e simplificação das regras de câmbio e de transferências de dinheiro entre o Brasil e outros países não pode ser feita a qualquer custo¿, ponderou, durante o Seminário sobre Câmbio Manual e Transferências de Pequenos Valores. A seu ver, é preciso alterar as regras para a troca de dinheiro, mas, ainda assim, preservar a segurança das operações. Segundo o BC, diariamente, são realizadas 25 mil transações de câmbio no Brasil. A estimativa é de que ocorram outras 80 mil em valores inferiores a US$ 3 mil ¿ que dispensam registro pela autoridade monetária ¿ mensalmente.

Geraldo Magela Siqueira, gerente executivo de Normatização de Câmbio e Capitais Estrangeiros do BC, defendeu as alterações nas regras para a troca de moeda no Brasil. ¿Um ponto que nos chama a atenção é a dificuldade para o turista que chega de madrugada, sem reais no bolso, e precisa de moeda nacional para, por exemplo, fazer um lanche. É importante considerar situações desse tipo¿, argumentou.

Ele afirmou ainda que o país precisa flexibilizar a apresentação de documento de identidade para as operações de câmbio. ¿Esse procedimento é necessário até para quem troca US$ 1¿, criticou.

Gustavo do Vale, presidente da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), endossou o discurso de Magela. ¿Se pudermos caminhar para uma legislação que permita às pessoas trocar de forma mais livre a moeda estrangeira, facilitaremos a vida do turista¿, disse.

Outro lado O contraponto a essas medidas foi apresentado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. José Robalinho Cavalcanti, procurador da República no Distrito Federal, declarou-se contrário às mudanças. Ele alertou que a flexibilização pode criar um mercado paralelo no país e facilitar a lavagem de dinheiro do crime organizado. ¿Antigamente, nem toda agência de turismo que tinha permissão de trocar dinheiro fazia operações ilícitas. No entanto, a maior parte dos grandes doleiros do país que operavam as remessas para o crime organizado estavam travestidos de agências de turismo¿, observou o procurador. Até 2008, o câmbio podia ser feito também em agências de viagem.

Robalinho defendeu ainda que, para qualquer valor trocado no país, mesmo de quantias pequenas, deve haver a identificação do comprador. ¿Não existe mais anonimato na economia. Se permitirmos isso, metade dos taxistas do Rio de Janeiro vão virar cambistas¿, alertou. ¿Se as instituições autorizadas, como os correspondentes bancários e as lotéricas, não tiverem mecanismos eficazes de combate à lavagem de dinheiro, elas podem acabar sendo usadas por bandidos¿, ponderou Luís Flávio Zampronha, delegado da Polícia Federal.

Baixa de 0,5% Os preços do dólar recuaram ontem 0,5% e fecharam as negociações a R$ 1,593 na venda. Foi a terceira queda consecutiva da moeda norte-americana frente ao real. Para tentar conter a valorização da divisa brasileira, o Banco Central fez dois leilões de compra de dólares no mercado à vista. Mas não obteve sucesso. A Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), depois de quatro altas consecutivas, perdeu fôlego e cedeu 0,53%, para os 63.954 pontos. O giro financeiro do pregão ficou em R$ 1,69 bilhão, mais fraco em decorrência de um feriado nos Estados Unidos, que manteve as bolsas de Wall Street fechadas. O índice Bovespa seguiu a leve queda das bolsas europeias, ainda pressionadas por temores relacionados à dívida soberana da Grécia.