Título: Tucanato renova horizontes
Autor: Iunes, Ivan ; Torres, Izabelle
Fonte: Correio Braziliense, 29/05/2011, Política, p. 6

Com uma intervenção providencial do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os tucanos conseguiram na última hora um acordo para evitar o racha da legenda na Convenção Nacional do PSDB, realizada ontem, em Brasília. A negociação pelos principais postos da Executiva foi fechada poucas horas antes do evento e confirmou a entrega do comando da legenda ao senador Aécio Neves (PSDB-MG) e seu aliados. Para acomodar José Serra, que ameaçava uma rebelião interna, os líderes tucanos criaram um conselho com papel de analisar decisões da Executiva do partido, sem poder de veto. A Presidência desse colegiado foi entregue ao ex-governador de São Paulo.

Os principais líderes tucanos passaram a noite de sexta-feira redigindo os termos do acordo de criação do conselho de ¿notáveis¿ do partido. Na manhã de ontem, uma reunião do tucanato na casa do líder do partido na Câmara, Duarte Nogueira (SP), selou a composição da Executiva da legenda e dos cargos no Instituto Teotônio Vilela (ITV) e no conselho. Participaram da reunião o ex-presidente FHC, Aécio, Serra, os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e de Minas Gerais, Antônio Anastasia, o presidente do partido, Sérgio Guerra, o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) e o deputado federal Jutahy Júnior (PSDB-BA).

A direção acabou por sacramentar a reeleição de Guerra e do secretário-geral do partido, Rodrigo de Castro, ligados a Aécio. Para acomodar os aliados de Serra, a Vice-Presidência da legenda foi entregue ao ex-governador paulista Alberto Goldman. O principal alvo do racha tucano, a disputa pela direção do ITV e seu orçamento anual de R$ 10 milhões, ficou com Tasso Jereissati ¿ apoiado pelo senador mineiro. Relutante até a quinta-feira, Serra foi convencido por FHC a aceitar a Presidência do conselho. Com a paz interna fechada, pelo menos aparentemente, todos chegaram juntos à convenção do partido em uma van, às 12h40.

Turbulência O discurso afinado era de que o partido havia de fato passado por momentos de turbulência, mas que a fragilidade do governo exigia da legenda uma união urgente para surfar na baixa governista. ¿Nós brigamos muito agora há pouco, é verdade. Mas estamos juntos aqui. Brigamos, mas sabemos que o desafio é maior e por isso estamos juntos outra vez¿, ponderou FHC.

Com o controle da maior parte do partido, Aécio pediu aos tucanos que ultrapassem as disputas internas e voltem a olhar para o projeto de retornar ao Palácio do Planalto em 2014. ¿É essencial agora pararmos de olhar para o nosso umbigo e olharmos para o Brasil, nos reconciliarmos com a sociedade brasileira, com setores que querem novamente ver o PSDB governando o Brasil¿, disse Aécio.

Preterido na disputa pelo ITV, Serra preferiu não comentar o acordo e disse que estava na convenção para falar do Brasil. No discurso, pediu o fim das intrigas internas. ¿O inimigo utiliza nosso enfraquecimento como arma. Temos de afastar a arma do adversário, que é a intriga. Ela nos enfraquece e fortalece o adversário¿, disse o ex-governador paulista. Pelo acordo fechado entre os tucanos, o conselho de notáveis presidido por Serra terá como integrantes FHC, Aécio, Alckmin, Guerra e o governador de Goiás, Marconi Perillo.

O colegiado será responsável pelo planejamento anual da Executiva, pela política de alianças e temas de relevância nacional, além de propostas de prévias. ¿Acho que ao fim tudo terminou bem. O FHC teve de tomar as rédeas para fechar o acordo, mas isso foi feito sem desgastes. Creio que todo mundo se sentiu representado da forma como ficou a distribuição do poder¿, analisou Jereissati.