Título: Alimentos mais caros
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2011, Economia, p. 10

O preço dos alimentos não deve dar folga ao bolso do consumidor. O agronegócio nacional, segundo estudo divulgado ontem pelo Ministério da Agricultura, enfrenta dificuldades para fazer com que a safra acompanhe o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, soma das riquezas geradas no país). Enquanto economistas calculam que o Brasil vai se expandir entre 4,5% e 5% ao ano até 2021, o ministério projeta que a produtividade no campo vai avançar a taxas mais modestas, a 2,3% anuais, em média, no período. Para especialistas, o resultado desse descompasso é um só: mais inflação na mesa do brasileiro.

Os dados do ministério reforçam o discurso da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). No estudo Perspectivas Agrícolas 2011-2020, divulgado recentemente, o organismo afirma que os preços vão subir, nos próximos 10 anos, cerca de 50% acima da inflação no caso das carnes e 20% nos cereais, como milho e soja. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, comemorou o desempenho do agronegócio. ¿Os números são excelentes¿, celebrou. ¿Precisamos pensar na expansão maior de algumas safras com cautela. Não podemos crescer muito o feijão e o arroz, porque eles não têm um mercado potencial grande. E o consumo interno está recuando.¿

Ameaça A FAO, entretanto, avalia o consumo de maneira diferente da do ministro e pondera que o excesso de procura por esses itens vai pressionar fortemente os preços. Para a entidade, o crescimento populacional e o aumento da renda nos países emergentes reforçaram a necessidade de commodities (produtos básicos com cotação internacional), principalmente arroz, carne, lácteos, óleos vegetais e açúcar. Os preços, segundo o presidente da França, Nicolas Sarkozy, se tornaram um risco. ¿O crescimento global se recuperou, mas a alta das commodities é a principal ameaça¿, disse Sarkozy numa conferência sobre o assunto, organizada pela Comissão Europeia, em Bruxelas (Bélgica).

O economista Fábio Gallo Garcia, da Fundação Getulio Vargas (FGV), considera que o descompasso entre PIB e produção agrícola no Brasil não vai causar desabastecimento. Mas ele avalia como grande a possibilidade de que os valores dos alimentos aumentem expressivamente. ¿Vejo potencial de subir preço. Tudo vai depender também se teremos quebras importantes de safras no Brasil ou no exterior e se surgirão barreiras comerciais a algum produto. É um pouco de boa vontade do ministro ter a certeza de que não haverá um estresse lá na frente¿, disse.

No topo O Ministério da Agricultura estima que a safra de grãos vai crescer 23% em 10 anos e a produção de carnes, 26%. Entre os itens que mais se destacam nos cereais, está o milho, que vai avançar 24% no período e deve chegar a 65,5 milhões de toneladas. A soja será incrementada em 25,9% e deve alcançar 86,5 milhões de toneladas. Segundo o ministro da Agricultura, Wagner Rossi, o país caminha para o topo do ranking de produção agropecuária e está em via de superar os Estados Unidos.