BRASÍLIA

A disparada do dólar, o aumento dos gastos públicos e a alta das tarifas de serviços públicos colocaram em risco o controle da inflação e fizeram com que o Banco Central surpreendesse a todos, na semana passada, com uma elevação inesperada dos juros básicos para 11,25 % ao ano. Na ata da reunião, publicada ontem, o Comitê de Política Monetária (Copom) afirmou que isso tudo deixou o BC "especialmente" vigilante. E sinalizou que o aperto da política de controle dos preços apenas começou.

"Não obstante identificar evidências de estímulos fiscais na composição da demanda agregada este ano, na visão do Comitê, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público tende a se deslocar para a zona de neutralidade", diz o Copom num trecho da ata.

'impulsos fiscais'

Na linguagem do BC, a expressão "impulsos fiscais" significa gastos públicos. A ideia é que, em 2014, eles pressionaram a inflação, mas a expectativa é que devem ser neutros no ano que vem.

A decisão de começar a subir os juros rachou a cúpula do Banco Central. Cinco diretores votaram a favor da alta porque entenderam que os riscos para a inflação aumentaram.

"A maioria dos membros do Copom considerou oportuno ajustar, de imediato, as condições monetárias, de modo a garantir, a um custo menor, a prevalência de um cenário mais benigno para a inflação em 2015 e 2016", disse o BC na ata. "O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter especialmente vigilante, de modo a minimizar riscos."

Para deixar ainda mais clara a preocupação com o dólar, os diretores do BC tiraram do texto a parte que dizia que, apesar de a inflação estar elevada, eles esperavam um arrefecimento das pressões sobre os preços ou até mesmo o esgotamento delas. Na ata da reunião anterior, em setembro, eles diziam que essa expectativa fazia com que esperassem a convergência para as metas nos trimestres finais do ano que vem.

aumento maior de energia

Num tom mais apreensivo, o Banco Central admite que, se mantivesse os juros, a inflação subiria. O Copom também aumentou a projeção para a inflação de preços administrados por contrato e monitorados, de 5% para 5,3% neste ano. De acordo com a ata, a mudança foi causada pelos aumentos já registrados nos preços das tarifas até agora. Além disso, a previsão para a alta da energia elétrica subiu de 16,8% para 17,6% neste ano. O BC não divulgou sua expectativa de aumento da gasolina em 2014.

- A leitura dessa ata está contaminada pelas incertezas. Ela só será lida à luz da nova equipe econômica - analisa o economista-chefe da corretora Gradual, André Perfeito.

"Em suma, a ata não dá detalhes sobre o movimento da semana passada ou sobre o tamanho total do ajuste. Ainda que o termo 'especialmente vigilante' tenha retornado ao texto, não podemos dizer que o tom do documento seja duro. Essa inclusão está associada ao ciclo altista em si, a nosso ver. O orçamento total do ajuste dependerá, naturalmente, dos dados. Em particular, a definição da orientação da política econômica e o movimento do câmbio tendem a ganhar relevância no radar do Copom", afirmou em relatório Octavio de Barros, diretor de Estudos e Pesquisas do Bradesco.

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Dólar atinge R$ 2,562, maior cotação desde 2005

SÃO PAULO

O pessimismo do mercado com a indefinição sobre a política econômica no segundo mandato de Dilma Rousseff fez com que o dólar comercial atingisse ontem sua maior cotação em mais de nove anos. Na quinta alta consecutiva, a moeda americana avançou 1,86%, a R$ 2,562, a maior cotação desde os R$ 2,575 registrados em 19 de abril de 2005. Já o Ibovespa, principal índice do mercado brasileiro, caiu 1,98%, aos 52.637 pontos.

Além da incerteza sobre a nova equipe econômica, pesou a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que indicou novos aumentos de juros. Fernando Góes, analista da Clear Corretora, lembrou que desde a alta da taxa básica de juros (Selic), na semana passada, há a expectativa de que o novo nome do ministro da Fazenda seja anunciado, bem como ajustes na economia. Mas nada foi feito.

- É um momento sensível, em que não há ainda confiança no governo - afirmou.

E o cenário global ainda é de valorização do dólar, com a recuperação da economia americana e a perspectiva de novos estímulos monetários na Europa.