O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque mantém recursos milionários em contas no exterior, segundo o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava-Jato. "Dispondo de fortuna no exterior e mantendo-a oculta, em contas secretas, é evidente que não pretende se submeter à sanção penal no caso de condenação criminal (...) Sem a (prisão) preventiva, (há) o risco do investigado se tornar foragido e ainda fruir de fortuna criminosa, retirada dos cofres públicos e mantida no exterior, fora do alcance das autoridades públicas. (.) As provas apontam que ele, à semelhança de Paulo Roberto Costa (US$ 23 milhões) e de Pedro Barusco (US$ 100 milhões), mantém verdadeira fortuna em contas secretas mantidas no exterior", ressaltou Sérgio Moro no despacho em que justificou a manutenção da prisão do ex-dirigente. O juiz, no entanto, não mencionou valores. 

A detenção de Duque é apenas mais um capítulo no escândalo que assola a Petrobras e que respinga no governo federal. Na terça-feira, a presidente Dilma Rousseff e os principais nomes do atual e do futuro governo - os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), além do governador da Bahia, Jaques Wagner, que tomou café a sós com a presidente ontem - avaliaram que o Executivo está diante de uma avalanche de denúncias em condições de desestabilizar a administração federal. 

Dilma, que na terça-feira - como adiantou o Correio - também se reuniu com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com o presidente do PT, Rui Falcão, tem cobrado explicações da atual presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster. Aos petistas que se reuniram com ela na terça-feira, Dilma avisou que não "vai passar a mão na cabeça" da atual diretoria, mas também não trocará ninguém sem que haja provas concretas de envolvimento nos atuais escândalos. 

A presidente está preocupada com o risco de paralisia do governo (leia mais na página 7), a pouco mais de 40 dias da cerimônia de posse para o segundo mandato. Conforme pessoas próximas, Dilma está assustada e perplexa com as crescentes denúncias de pagamento de propina - especialmente os valores que vêm sendo confessados pelos delatores. Por outro lado, ela não quer deixar o Executivo à mercê da onda de corrupção que o cerca. 

Na conversa com os ministros, a presidente pediu empenho para que a máquina pública siga funcionando e que, principalmente, as obras em andamento no país - incluindo as conduzidas pelas empreiteiras envolvidas na Operação Lava-Jato - não sejam paralisadas. 

Enquanto isso, as negociações para a reforma ministerial estão em suspenso, especialmente aquelas que envolvem os partidos políticos. Dilma e Lula discutiram opções para o Ministério da Fazenda. Ganhou força o nome do atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Petistas no Congresso, contudo, defendem que ele, considerado um administrador sério e austero, seja indicado para dirigir a Petrobras. 

Depoimento 
No caso de Renato Duque, a Comissão de Ética Pública da Presidência abriu ontem um processo para analisar as denúncias envolvendo o ex-diretor de Serviços da Petrobras, e pediu mais informações à estatal e ao ex-dirigente. Os advogados do ex-diretor têm 10 dias para apresentar a defesa. A comissão pediu ainda à Justiça acesso ao depoimento do ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa, devido a outro processo, aberto em 28 de julho. 

Em nota, o colegiado - que tem outro processo de investigação aberto contra Nestor Cerveró, ex-diretor da Área Internacional da Petrobras - informou que "está acompanhando de perto todos os desdobramentos" da operação. "Vamos investigar, mas não vou fazer pré-julgamento. O que sai no jornal não é prova, é notícia. Tem de ser bem ponderado, claro", esclareceu o presidente do colegiado, Américo Lacombe.