Depois da participação no encontro da cúpula do G20, na Austrália, a presidente Dilma Rousseff teve de se debruçar sobre a crise no governo provocada pelos avanços da Operação Lava-Jato e a base aliada em frangalhos no Congresso Nacional. Por isso, ela passou o dia de ontem reunida com o ex-presidente Lula, dois dos seus mais importantes ministros, Aloizio Mercadante (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça), e o governador da Bahia, Jaques Wagner. Na pauta presidencial, todos os nós a serem desatados na reforma ministerial, na economia e na Operação Lava-Jato. 

Cardozo e Mercadante entraram no Palácio da Alvorada mais cedo. Wagner chegou um pouco mais tarde, pois antes precisou fazer uma visita ao Ministério do Planejamento para ver como estão os recursos destinados ao metrô de Salvador. Dilma pediu aos auxiliares diretos detalhes mais pormenorizados da recente ação da Polícia Federal e de como estão os depoimentos dos donos de empreiteiras colhidos até o momento. 

O governo está diante de um dilema: como agir com as construtoras envolvidas nas investigação da Polícia Federal e do Ministério Público. No domingo, ainda na Austrália, a presidente Dilma defendeu que fosse separada a participação dos diretores das empreiteiras - e da Petrobras - das respectivas empresas que eles integram. O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto Nardes, e o vice-presidente Michel Temer apontaram que tornar as construtoras inidôneas - praxe nesse tipo de caso - paralisaria o país. 

Dilma não quer passar a impressão de que está acobertando as empresas, mas também não deseja parar as obras tocadas por essas construtoras. Por outro lado, o governo depara-se com uma sucessão de denúncias de corrupção e pagamentos de propina. Até o momento, os envolvidos no caso já se propuseram a devolver quase R$ 500 milhões obtidos ilegalmente. 

Os números tendem a aumentar, já que os advogados dos empresários avisaram que seus clientes não ficarão calados. A Operação Lava-Jato gera, ainda, outro transtorno para o governo. Como avançar nas conversas com os partidos, se há uma fantasma pairando sobre o Congresso Nacional? Ninguém sabe quantos parlamentares foram citados até o momento nos depoimentos. 

Segundo o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef, a cobrança de propina abastecia as campanhas eleitorais de PP, PMDB e PT. Dilma nem sequer conversou com os dois primeiros partidos para redesenhar a estrutura de poder na Esplanada. Ainda por cima está pressionada pelo fato de, baseada numa ideia de Mercadante, 36 dos 39 ministros terem entregue as respectivas cartas de demissão para deixar a presidente mais livre - exceções feitas ao secretário-geral da Presidência, ministro Gilberto Carvalho; ao chefe da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Ricardo Berzoini, e ao ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto. 

Dilma ainda precisa encontrar o nome ideal para comandar o Ministério da Fazenda. Na última semana surgiu o nome de mais um candidato, o atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini. Hoje a presidente recebe o presidente mundial da Azul (companhia aérea), David Nielmann. Enquanto isso, Mercadante faz uma nova rodada de conversas com os representantes da indústria, iniciada na semana passada. Tudo isso em um momento de queda das ações da Petrobras, anúncio de prejuízos da Eletrobras e crescimento discreto - mas ainda insuficiente - do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre. 

36 
Quantidade de ministros que colocaram o cargo à disposição de Dilma Rousseff