Reeleita para mais quatro anos, a presidente Dilma Rousseff herdará um Congresso Nacional com uma base aliada fragmentada, rancorosa pelo descaso do primeiro mandato, ansiosa por mudanças no tratamento e voraz por mais cargos. Tudo isso embalado em um período de recessão econômica, que impedirá pacotes de bondade para o eleitorado. Na tentativa de distensionar as relações com o parlamento, Dilma alterou - pelo menos até o surgimento da primeira crise concreta no relacionamento - duas características que a marcaram no quadriênio 2011-2014: está mais disposta às conversas e deu autonomia para aliados dialogarem com os partidos que integram a coalizão governista.
Quatro nomes foram escalados para a missão: o vice-presidente Michel Temer, designado pela presidente para domar o PMDB e, sobretudo, acalmar o líder do partido na Câmara, Eduardo Cunha (RJ); o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, responsável por contornar as insatisfações do PT; o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que vai auxiliar Dilma no desenho do mapa ministerial e dos segundos e terceiros escalões do governo; e Ricardo Berzoini, ministro da Secretaria de Relações Institucionais, incumbido de monitorar as rebeliões no Congresso.

O trabalho não será fácil. Durante o jantar de quinta-feira no Palácio da Alvorada com a bancada de deputados do PT e governadores eleitos pela legenda, Dilma disse que uma de suas prioridades será azeitar a relação com a Câmara. Precisará fazer uma reforma ministerial para iniciar o segundo mandato, o que, inevitavelmente, vai causar ciúmes. Mesmo com 39 ministérios, a luta por cada naco de poder é intensa, deixando a impressão de não haver espaço para todos.

Ainda há, nesse bojo, a eleição para a presidência da Câmara, que opõe petistas e peemedebistas. Um cacique do PT diz que todo cuidado é pouco com o PMDB. "Não sabemos qual é o próximo movimento deles", diz. Questionado sobre a estratégia para frear a pauta-bomba da Câmara, o deputado disse que o partido está em alerta, mas não adiantou como desativá-la.

Mercadante, ao lado de Dilma, é o responsável por auxiliar no desenho do futuro mapa ministerial. Ele palpita sobre o tamanho dos partidos no Executivo e sobre quais cargos estão à disposição, além de quem será remanejado, se houver necessidade de algum reequilíbrio de forças nesse xadrez político. Desde que o PT chegou ao poder - exceção feita a 2007, quando o próprio Lula conduziu essa distribuição, após a crise do mensalão -, sempre coube à Casa Civil esse papel. Com José Dirceu, em 2003; com Antonio Palocci, em 2011; e, agora, com Mercadante.

Bombeiro

Ressentimentos na disputa pelos cargos podem gerar vinganças na Câmara e no Senado. Para evitar isso, entra em ação Ricardo Berzoini. Escalado como bombeiro no início deste ano, o deputado e ex-presidente do PT teve algum êxito no trabalho, mas não conseguiu evitar, contudo, a instalação da CPMI da Petrobras. No entanto, ele segue prestigiado perante a presidente, cuidando para evitar novas derrotas do governo no Congresso. Depois da reeleição de Dilma, pelo menos uma derrota já foi contabilizada: a rejeição, na Câmara, do decreto de cria os Conselhos Populares. A matéria deve ser derrotada também no Senado.

Mesmo assim, aliados no Legislativo confiam na habilidade de articulação de Mercadante e de Berzoini. "Não é um trabalho fácil, evidentemente, mas são dois políticos experientes e que ainda não estão desgastados no relacionamento conosco. Até mesmo porque estão há pouco tempo nessa função", reconheceu o líder do PP na Câmara, Dudu da Fonte (PE).

Dilma também pediu a ajuda de outros dois pesos-pesados. Depois de longos e reiterados elogios durante discurso para comemorar a reeleição, a presidente escalou o vice Michel Temer para arrumar o PMDB, missão que parece interminável. E domar o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que comanda um blocão de 160 deputados e sonha presidir a Câmara a partir de fevereiro.

Colaborou Grasielle Castro

Peças-chave

Saiba quem são os principais integrantes dos partidos que precisam de atenção especial do Planalto

PMDB

Michel Temer

Renan Calheiros (AL)

Eduardo Cunha (RJ)

Presidente do PMDB e vice-presidente da República, Temer é um dos principais fiadores da aliança com o PT e se esforça para manter a unidade do próprio partido. Renan preside o Senado e tem ascendência sobre a bancada da legenda na Casa. Já Eduardo Cunha comanda o PMDB da Câmara e outras siglas que têm parlamentares insatisfeitos com o governo.

PP

Ciro Nogueira (PI)

Dudu da Fonte (PE)

Nogueira é presidente do PP e comprou a briga para garantir o apoio à reeleição de Dilma Rousseff. Fonte exerce o mesmo papel na bancada de deputados federais.

PSD

Gilberto Kassab (SP)

Ex-prefeito de São Paulo e presidente do PSD dá as cartas na legenda.

PR

Antonio Carlos Rodrigues (SP)

Blairo Maggi (MT)

Alfredo Nascimento (AM)

Rodrigues é vice-presidente nacional do PR, presidente do diretório estadual de São Paulo e cotado para o Ministério dos Transportes. Maggi é importante no diálogo com o agronegócio, e o ex-ministro Nascimento é o presidente nacional do PR.

Pros

Cid Gomes (CE)

Cotado para ser ministro, o governador cearense é o nome mais forte do Pros, ao lado do irmão Ciro Gomes e deixou o PSB com Eduardo Campos para apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff.

PDT

Carlos Lupi (RJ)

Apesar de Dilma Rousseff ter reservas, ele é o presidente nacional do PDT e voltou a ganhar força após a gestão fracassada de Brizola Neto à frente do Ministério do Trabalho.

PCdoB

Aldo Rebelo (SP)

Renato Rabelo (SP)

Aldo é parceiro histórico do PT e sempre foi um nome de confiança entre os comunistas. Renato Rabelo é o presidente da legenda, cargo que será ocupado ano que vem pela deputada Luciana Santos

PRB

Marcelo Crivella (RJ)

Aliado da presidente Dilma Rousseff, Crivella, além da ascendência na legenda, é importante para manter parte do eleitorado evangélico fiel do Palácio do Planalto