Enquanto a presidente Dilma Rousseff viajava ontem para a Austrália, onde participará da cúpula do G20, no fim de semana, o mercado se agitou com a possibilidade de a petista escolher o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para comandar o Ministério da Fazenda. O rumor fez a Bolsa de Valores de São Paulo ter forte alta no início da tarde. O estusiasmo perdeu força depois que o ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, declarou que o governo optou por fazer um ajuste não ordodoxo na economia, e outros dois nomes para a Fazenda voltaram a ser ventilados: o do atual presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, e o do comandante do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho. Mesmo assim, a Bolsa terminou o dia com ganho de 0,96%. 

"O mercado está muito ansioso. O ideal seria que a presidente anunciasse a nova equipe o mais rápido possível de modo a sinalizar para onde vai a política econômica", comentou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. Na avaliação dele, "Dilma precisa anunciar as mudanças com o menor ruído possível para evitar que a confiança dos investidores piore ainda mais". Ele lembrou que a proposta de mudança na meta fiscal enviada anteontem ao Congresso prejudicou ainda mais a já combalida credibilidade do governo. 

Desde a vitória no segundo turno das eleições, a presidente tem evitado falar sobre o novo ministro da Fazenda, apesar de ter anunciado, ainda durante a campanha, que Guido Mantega não continuará na pasta. Mantega acompanha Dilma no encontro anual de líderes das 19 maiores economias do planeta, mais a União Europeia, e a expectativa é de que o novo titular do cargo seja anunciado após o retorno da comitiva brasileira. No entanto, durante escala no Oriente Médio, Dilma avisou que não pretende fechar a reforma do ministério já na próxima semana. "Não tem reforma ministerial na terça-feira, nem pensar. Não dá nem tempo", disse. 

Favorito 

Apadrinhado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles é o favorito do mercado para suceder Mantega na Fazenda. 

O chefe do BC foi o principal conselheiro de Lula, que não tomava uma decisão econômica sem antes ouvir a opinião do goiano. Meirelles transmitiu segurança ao mercado ao dar continuidade às políticas do governo anterior. Recuperou a confiança dos investidores e conseguiu manter a inflação sob controle. Isso contribuiu para o crescimento mais robusto do país e permitiu a execução dos programas sociais de combate à pobreza. 

O economista Silvio Campos Neto, da consultoria Tendências, explica que a preferência do mercado decorre da visão ortodoxa de Meirelles sobre economia. Além disso, é um nome de peso, que teria condições de agir com certa independência em relação a Dilma. "A leitura é de que ele apenas aceitaria o cargo tendo um grau elevado de autonomia para trabalhar. Nesse sentido, poderia fazer as mudanças em linha com o que é defendido pela maioria dos economistas", disse Campos Neto, citando a redução do intervencionismo na economia, a melhora das contas públicas, o fim da contabilidade criativa, a convergência da inflação para o centro da meta e a redução dos repasses do Tesouro Nacional para os bancos públicos.

 

 

Dólar sobe mais 0,39%

 

 

A indefinição na formação da nova equipe econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff deixou o mercado mais uma vez inquieto, ontem, em um dia em que o volume de negócios ficou abaixo da média. Apesar de ter recuado na maioria dos países emergentes, no Brasil o dólar voltou a se valorizar diante do real e fechou o pregão cotado a R$ 2,568, com alta de 0,39% em relação ao dia anterior, alcançando o maior patamar desde abril de 2005. 


O movimento foi bem diferente do verificado no exterior. A moeda americana recuou 0,37% frente ao peso argentino, 0,15% diante do rand sul-africano e 0,18% em relação à lira turca, por exemplo. Ao longo do dia, no entanto, a divisa chegou a alcançar o piso de R$ 2,535 com os rumores de que a presidente Dilma Rousseff estaria inclinada a nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda. 



Foi a mesma expectativa que animou os investidores na Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa), fechou em alta pela primeira vez na semana. O Índice Bovespa chegou a subir quase 2% no início da tarde, mas fechou 0,96% acima do dia anterior, atingindo 52.979 pontos. O giro financeiro foi de R$ 5,9 bilhões, abaixo da média diária do ano, de R$ 7,27 bilhões. 

As incertezas em relação à nova equipe têm alimentado a insegurança do mercado e feito a moeda norte-americana subir continuamente. Na segunda-feira, a divisa teve alta de 0,26% depois que governo federal encaminhou ao Congresso a proposta de alterar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano com o objetivo de acomodar o descumprimento da meta de superavit primário nas contas públicas. 



Altas e baixas 

Na Bolsa, a alta foi sustentada também pelos resultados positivos de empresas como a construtora Even, cujas ações subiram 12% depois que a companhia anunciou crescimento de 22% no lucro do terceiro trimestre. Foi a maior valorização do dia. Os papéis da Rossi tiveram ganho de 10%. 



Na contramão, a Hering liderou as baixas. Os papéis da empresa recuaram 2,22%. A operadora de telecomunicações Oi perdeu 1,49%, mesmo depois da informação de que os grupos de private equity Apax Partners e Bain Capital fizeram proposta conjunta de compra dos ativos da Portugal Telecom, com base em valor de empresa, de 7,075 bilhões de euros.