A Petrobras publica anúncio de duas páginas em jornais hoje para explicar os problemas que levaram ao adiamento da divulgação de seus dados contábeis do terceiro trimestre, que estavam programados para anteontem, mas que, segundo a estatal, deverão ser conhecidos apenas no dia 12 de dezembro, após o prazo legal dado às empresas de capital aberto - ou seja, com ações negociadas em Bolsa. Citando as denúncias decorrentes da Operação "Lava Jato" da Polícia Federal e sete casos de suspeitas de corrupção, desvios e sobrepreços, a Petrobras informa no anúncio que buscará na Justiça o ressarcimento dos recursos desviados. A empresa também divulgou seus resultados operacionais do terceiro trimestre:

"Concomitante ao avanço das investigações, a companhia vem trabalhando nas medidas jurídicas adequadas para o ressarcimento dos supostos recursos desviados e dos eventuais valores decorrentes de sobrepreços derivados de contratos celebrados com as empresas participantes do suposto cartel", informa o anúncio da empresa, que alega também que pedirá "o ressarcimento dos danos causados à imagem da companhia".

Ainda durante a campanha eleitoral, a presidente Dilma Rousseff, o vice Michel Temer e José Eduardo Cardoso, ministro da Justiça, haviam afirmado que buscariam o ressarcimento aos cofres públicos dos valores desviados pela Petrobras.

empresa alega ter adotado 60 medidas

No anúncio, a empresa afirma que está auxiliando no aprofundamento das investigações, atendendo aos órgãos de fiscalização (Ministério Público, Tribunal de Contas da União e Controladoria Geral da União) e que contratou dois escritórios de advocacia para auxiliarem na busca. Disse ainda que pediu à Justiça o acesso aos depoimentos do ex-diretor de Abastecimento, Paulo Roberto Costa, e de Alberto Youssef. A nota da empresa não cita as prisões ocorridas na sexta-feira na segunda fase da Operação Lava- Jato. A empresa alega que implementou 60 "ações de relevante impacto" para o aprimoramento de sua governança e que está adotando outras seis medidas contra fraudes, desvios do código de ética e aumento de custos e prazos de projetos, sem especificar estas medidas.

DADOS OPERACIONAIS EM ALTA

Afirmando que passa "por um momento único em sua história", o anúncio da Petrobras explica que o adiamento dos resultados ocorreu pela necessidade de tempo para aprofundar as investigações com os escritórios contratados no Brasil e nos EUA para apurar as denúncias. E acrescenta que será preciso um prazo para ajustar as demonstrações contábeis com base nas investigações da Operação Lava-Jato e que vai avaliar a necessidade de melhorias de controles internos.

A empresa informou que pretende divulgar os resultados contábeis no dia 12 de dezembro, mas disse que isso é uma estimativa e que informará a data correta com uma antecedência mínima de 15 dias.

Na divulgação de seus dados operacionais, a empresa salienta seu aumento de produção. Segundo a estatal, a produção de petróleo alcançou 2,09 milhões de barris/dia, um valor 9% acima do registrado no mesmo período de 2013 (1,924 milhão de barris/dia).

A empresa indicou que a produção em suas refinarias cresceu 4% nesta comparação interanual e que a oferta de gás natural avançou 14% nos mesmos parâmetros, indicando que a maior parte do crescimento se deveu ao aumento da produção nacional, em detrimento da importação de gás da Bolívia.

A Petrobras também salientou que, neste período, a refinaria Abreu e Lima (PE), um dos principais alvos das denúncias, entrou em operação e que a geração de energia a partir de gás natural cresceu 35% no terceiro trimestre em relação ao mesmo período do ano passado.

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Escândalos freiam atividades na estatal

Com os escândalos de corrupção na Petrobras e a decisão da empresa de adiar a publicação de seu balanço financeiro, analistas temem uma paralisa na empresa que tenha impacto na indústria de petróleo, já que investimentos e decisões importantes estão praticamente suspensos. Embora a companhia continue mantendo e até batendo recorde de produção, é grande o medo, na estatal, de se autorizar qualquer negócio ou operação.

Há cerca de 15 dias, os sistemas internos da companhia ficaram mais fechados. Há cada vez menos funcionários com acesso a contratos. Além disso, a falta de clareza dos impactos das investigações faz com que a autoridade de diversas pessoas na empresa fique em xeque e que todos repensem antes de assinar qualquer documento.

Se os escândalos afetam o cotidiano da estatal, o maior reflexo é nos investimentos. Segundo uma fonte, a maior parte dos investimentos está paralisada. Ninguém aprova projeto novo. Um fornecedor da empresa explicou que apenas a compra de materiais para projetos em andamento segue em ritmo normal.

- Compra de equipamentos e aluguel de embarcações de apoio seguem seu curso normalmente. Mas os grandes projetos estão paralisados. Ninguém quer assinar nada sem todas as autorizações - diz uma fonte.

O advogado André Castro Carvalho afirma que uma reestruturação da imagem da estatal pode levar um ano e que, até lá, as denúncias terão impacto no setor:

- Muitos achavam que o setor de petróleo puxaria a recuperação do país. Agora, pode agir de maneira contrária. Temos que lembrar que a empresa é muito grande e afeta uma cadeia imensa de setores. Vários clientes e empresários ficaram, na sexta-feira, muito apreensivos com os impactos disso na economia.

Edmar de Almeida, do Grupo de Economia da Energia da UFRJ, lembra que os escândalos colocam em xeque os avanços em Compliance (permitir que normas e leis sejam respeitadas) e prejudica outras negociações da estatal com seus parceiros.

peso na economia fluminense

Júlio Bueno, secretário de Desenvolvimento do Estado do Rio, afirma que o peso do petróleo na economia fluminense é muito grande e foi o responsável pelo aumento do PIB estadual nos últimos anos. Mesmo reconhecendo a gravidade dos escândalos, ele acredita numa retomada:

- O setor do petróleo é acostumado a viver em crises. As grandes empresas internacionais convivem com ditaduras, se sobressaem na Rússia. O setor vai superar.

Ele afirmou, contudo, que esta nova fase de escândalos da empresa vai gerar um debate entre a Petrobras e a sociedade:

- Acredito que isso pode chegar até ao questionamento da Petrobras como operadora única do pré-sal - disse.

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Com petróleo abaixo de US$ 80, Opep busca acordo

LONDRES - Com o sucesso da exploração de gás não convencional nos Estados Unidos — a extração atingiu o maior nível em três décadas — e a resistência dos membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) a reduzir sua produção, os preços do óleo entraram numa trajetória de queda contínua, que levou a cotação do barril a ficar abaixo de US$ 80 na semana passada, pela primeira vez em quatro anos. O barril do petróleo tipo Brent registra sua oitava semana de queda, no mais longo período de recuo desde o início das negociações deste tipo de contrato, em 1988.

— A queda do Brent para menos de US$ 80 certamente chamou a atenção da Opep — diz John Kilduff, sócio na Again Capital LCC, fundo de hedge focado em energia, com sede em Nova York, em entrevista por telefone. — Estamos vendo eles chegarem a uma situação de pânico, correndo de um lado para outro em busca de um acordo.

Anteontem, o primeiro ministro da Líbia, Abdullah al-Thani, viajou para a Arábia Saudita, enquanto o presidente do Iraque, Fouad Masoum, deixava o reino após uma visita de dois dias, na qual se reuniu com o rei Abdullah, conforme a agência Saudi Press. Por sua vez, Rafael Ramirez, ministro do Exterior da Venezuela e representante do país na Opep, manteve conversas na Argéria e no Qatar. Já o ministro do Óleo saudita, Ali Al-Naimi, visitou a América Latina.

O cartel tem encontro marcado para o dia 27, em Viena, e, até lá, a Arábia Saudita, maior exportador global do óleo, tenta costurar um entendimento sobre a redução dos níveis de produção, num momento em que estudos indicam que a relação entre oferta e demanda ainda vai pressionar mais as cotações na primeira metade do ano que vem. Os 12 membros da Opep teriam de reduzir a produção entre um milhão e um milhão e meio de barris por dia para espantar a tendência baixista do mercado, disse o banco francês BNP Paribas ontem, por e-mail.

— A situação atual se parece muito com a da primeira vez que os preços caíram abaixo de US$ 80 — avalia Stephen Schork, do Schork Group, em entrevista por telefone. — A cotação reagiu um pouco antes de descer mais um degrau. Não vejo razão para ser diferente desta vez.

DERRETIMENTO ‘CATASTRÓFICO’

De olho nessa perspectiva, o presidente russo Vladimir Putin afirmou que a Rússia está se preparando para um derretimento “catastrófico” nos preços do petróleo, com o qual poderá lidar graças a um colchão de mais de US$ 400 bilhões em reservas. “Estamos considerando todos os cenários, incluindo a chamada queda catastrófica dos preços de energia, que é inteiramente possível, vamos admitir”, disse o mandatário à agência estatal Tass, antes da reunião do G-20.

A percepção de que novos recuos estão à espreita é compartilhada por metade do 22 analistas e operadores consultados em pesquisa da Bloomberg News. O petróleo negociado no contrato WTI (referência nos EUA), que já registra o mais longo declínio desde 1986, pode cair ainda mais nesta semana, com a demanda em queda e os estoques em alta.