BRISBANE - Um tema está sendo deliberadamente esquecido no encontro de líderes do G-20 (grupo que reúne as maiores economias global) no fim de semana em Brisbane, na Austrália: a mudança climática. Destaque na pauta de encontros passados, o problema foi praticamente varrido para debaixo do tapete, enfurecendo ambientalistas e cientistas. Por causa do baixo crescimento econômico mundial, o objetivo do G-20 - que é responsável por 80% das emissões de gases que provocam o aquecimento do planeta - agora é reativar a economia global a qualquer custo. 

De acordo com o rascunho da declaração final do encontro, os chefes de Estado e de governo do G-20 vão lançar um Plano de Ação para Eficiência Energética. Só que este não detalha nenhuma ação imediata, pedindo apenas que os líderes "considerem" se comprometer, em 2015, a reduzir a energia usada por telefones e computadores, bem como a tornar os carros mais eficientes energeticamente. Segundo o jornal inglês "The Guardian", Brasil, China, Rússia e África do Sul teriam várias reticências ao plano. 

O presidente da ONG WWF Austrália, Dermot O"Gorman, disse que o plano não passa de um "compromisso para continuar a falar". "O que realmente precisamos dos líderes do G-20 em Brisbane é um compromisso de agir. Qualquer coisa a menos que isso é uma oportunidade perdida. A eficiência energética poderia salvar os trilhões de dólares da economia global durante a próxima década", disse O"Gorman ao "Guardian". 

Estados Unidos e China anunciaram, esta semana, um acordo para reduzir suas emissões de gases como parte do combate à mudança climática. Os EUA se comprometeram a cortar, até 2015, entre 26% e 28% suas emissões, tendo como parâmetro os níveis de 2005 - o dobro do que haviam prometido anteriormente. E a China prometeu colocar um teto nas suas emissões em 2030, anunciando, ainda que até lá 20% da energia produzida pelo país terão origem em fontes limpas e renováveis. 

GOVERNO PROÍBE APELO DE ONG

Além disso, países negociam um novo acordo global de clima, em substituição ao Protocolo de Kioto, para ser lançado pela Conferência do Clima em Paris, em dezembro de 2015. Mas, na atual cúpula do G-20, a mudança climática será mencionada em um vago parágrafo - um contraste em relação aos encontros anteriores, quando o tema foi tratado em separado e com destaque. Desta vez, segundo o rascunho da declaração, os líderes vão dizer que apoiam "uma ação forte e eficaz para lidar com mudanças climáticas". E vão reafirmar sua "determinação" para adotar "um protocolo, outro instrumento legal ou uma solução acordada e com força legal sob a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima". E nada mais. 

Acadêmicos e ambientalistas acusam a Austrália de estar por trás do esvaziamento do tema no G-20. Um outdoor digital que seria colocado por várias organizações ambientalistas, como a WWF, no Aeroporto de Brisbane, pedindo para que os líderes do bloco deem destaque ao tema em suas agendas, foi proibido pelo governo, que julgou a ação política. O primeiro- ministro australiano, Tony Abbott, inaugurou recentemente uma mina de carvão dizendo que este - uma das principais fontes da emissão de gases do efeito estufa - "é bom para a Humanidade". 

Ontem, em protesto contra a relutância do governo australiano em colocar o clima na agenda do G-20, um grupo fez um protesto bem-humorado: à maneira de avestruzes, 400 manifestantes enterraram a cabeça na areia na Praia Bondi, em Sydney. 

Além disso, a Austrália estaria resistindo a esforços de EUA e Europa para, durante o G-20, aumentar sua contribuição ao Fundo Verde do Clima, com objetivo de ajudar países pobres e em desenvolvimento a reduzirem suas emissões e se prepararem para uma mudança do clima. O fundo foi lançado em 2010, mas patina por causa da crise. Em setembro, os países prometeram mobilizar US$ 200 bilhões para o fundo até o fim de 2015. 

Cientistas do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) publicaram recentemente um estudo no qual alertam que, se o mundo quiser ter 50% de chance de evitar um aumento de temperatura de 2 graus Celsius, terá de reduzir à metade, em 2050, as emissões de gases do efeito estufa.