Extratos bancários das contas suíças do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa confirmam depoimentos e delações de testemunhas e acusados de envolvimento no esquema de corrupção na estatal. Esses documentos têm potencial para abrir novas frentes de investigações no Brasil.

O que os procuradores brasileiros que foram à Suíça viram surpreendeu até mesmo quem está envolvido nas investigações há meses. Nomes de pessoas e de empresas que eles nem sequer sabiam que existiam estavam nos extratos e nas investigações dos suíços.

Hoje, os três procuradores brasileiros que passaram a semana consultando documentos do Ministério Público da Suíça sobre o caso retornam ao Brasil munidos de novos materiais. Os documentos vão permitir que o Ministério Público brasileiro conclua as investigações e acelere o processo para abrir a fase de instrução contra os principais suspeitos, caso as denúncias sejam aceitas pela Justiça.

No início do ano, os suíços iniciaram apuração própria e identificaram como as contas encontradas tinham relação com projetos da Petrobrás, como as refinarias de Abreu e Lima (PE) e de Pasadena (EUA). Costa pode responder a processo de lavagem de dinheiro na Suíça.

No total, cinco contas em nome de Costa foram encontradas com US$ 26 milhões. Esses recursos serão repatriados ao Brasil e depositados em conta administrada pelo Ministério Público e pelo Supremo Tribunal Federal, após um acordo entre os dois países.

Mas é o que indicam extratos e nomes de quem fez os depósitos o que mais chama a atenção dos investigadores brasileiros. O conteúdo dos extratos, quem alimentou as contas na Suíça e quem recebeu o dinheiro estão sendo mantidos em sigilo enquanto a delegação brasileira estiver em Lausanne.

'Munição'. Fontes no Ministério Público da Suíça disseram ao Estado que os brasileiros retornarão ao País com "munição" para dar início à etapa final da investigação. Entre os nomes buscados estão Fernando Soares, o Fernando Baiano - apontado pela investigação como operador do PMDB -, além de empresas e intermediários.

Os documentos foram liberados pelos bancos suíços por exigência da Justiça, que tem um dossiê sobre como funciona o pagamento de propinas no Brasil. Algumas evidências apontam que as contas e o esquema financeiro operam há anos, principalmente em Genebra.

Essa não será a única ida à Suíça dos procuradores brasileiros - Orlando Martello, Deltan Dallagnol e Eduardo Pelella. Diante do saldo positivo da viagem, os procuradores também fornecerão informações para o processo que corre na Suíça e devem retornar à Lausanne nos próximos meses.

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Promotoria ouve ex-diretor sobre Sérgio Machado

O juiz federal Sérgio Moro autorizou nesta quinta-feira que o Ministério Público do Rio tome o depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa, em sua residência - onde cumpre prisão -, sobre o suposto enriquecimento ilícito do presidente licenciado da Transpetro, Sérgio Machado, e sobre sobrepreço nas obras de ampliação do Centro de Pesquisas da Petrobrás (Cenpes).

Moro, que conduz os processos da Lava Jato, alertou sobre o impedimento de perguntar ao réu sobre políticos. "A inquirição deve versar sobre o objeto dos inquéritos civis referidos e não sobre o envolvimento de autoridades com foro privilegiado em crimes ou em fatos que possam em tese configurar crimes (mesmo se também caracterizem improbidade)", alertou. Ex-senador (PMDB-CE), Machado foi nomeado para a subsidiária da Petrobras em 2003 - governo Lula -, indicado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Ele se licenciou após seu nome ser citado no esquema de corrupção na estatal e pode voltar na próxima semana.

Preso por controlar um esquema de arrecadação de propina de 1% para o PP na Diretoria de Abastecimento, entre 2004 e 2012, Costa fez delação e obteve direito à prisão domiciliar.

Por sua assessoria, Machado informou que o procedimento do Ministério Público do Rio não tem "nenhuma ligação" com a Lava Jato, "nem com Paulo Roberto Costa". Ele disse que a investigação da promotoria do Rio já concluiu "de forma categórica" que seus ganhos são "totalmente compatíveis com sua renda e patrimônio".