Quatro presidentes de grandes empreiteiras, 15 executivos e um ex-diretor da Petrobrás ligado ao PT tiveram prisões decretadas nesta sexta-feira, 14, em uma ação policial de proporções inéditas no País. Foi a sétima etapa da Operação Lava Jato, batizada de Juízo Final, cujo principal objetivo é buscar provas contra corruptores.

Nove construtoras que estão entre as maiores doadoras de campanhas e concentram as obras públicas mais vultosas do Brasil tiveram suas sedes vasculhadas pela força-tarefa que apura desvios na Petrobrás.

O cartel de empresas sob suspeita amealhou, mediante fraudes e pagamento de propinas, o equivalente a R$ 59 bilhões em contratos na estatal petrolífera, segundo os investigadores.

Os 36 investigados nessa fase da operação tiveram R$ 720 milhões em bens bloqueados.

As suspeitas envolvem possíveis crimes de organização criminosa, formação de cartel, corrupção, fraude à lei de licitações e lavagem de dinheiro.

As prisões dos presidentes das empreiteiras são temporárias, com duração de cinco dias, mas podem ser prorrogadas "por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade".

Para cumprir os 85 mandados judiciais, foram mobilizados 300 policiais federais, com o apoio de 50 servidores da Receita Federal, no Paraná, São Paulo, Rio, Minas Gerais, Pernambuco e no Distrito Federal.

Entre os presos estão os presidentes da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, e da UTC Engenharia, Ricardo Pessoa. Dalton Avancini, presidente da Camargo Corrêa, não havia sido preso ou se entregado até a conclusão desta edição. Valdir Carreiro, que comanda a Iesa Óleo e Gás, vai se entregar à noite.

A PF também cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços de dois executivos da Odebrecht. O Ministério Público pediu a prisão de Márcio Faria da Silva e Rogério Santos de Araújo. A Justiça não autorizou, segundo a Polícia Federal.

O ex-diretor-presidente da construtora Queiroz Galvão, Ildefonso Colares, se entregou na superintendência da PF em Curitiba no final da tarde. A assessoria de imprensa da Queiroz informou que ele não trabalha para o grupo desde 2012. O vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Cunha Mendes, que mora em Brasília, negociou com a PF se entregar em Curitiba até o fim da noite.

Ligações. A prisão do ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque, antecipada pelo portal estadao.com.br, contudo, foi a que mais deixou Brasília apreensiva. Ele foi mantido na diretoria da Petrobrás de 2004 a 2012. A indicação partiu de José Dirceu, condenado no mensalão - o ex-ministro nega ter feito a indicação. A suspeita é que o outro elo com o partido seja o tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

O Ministério Público Federal, que integra a Operação Lava Jato, chegou a pedir a prisão da cunhada de Vaccari, Marice Correa de Lima, o que foi negado pela Justiça. Acusada de receber "quantias vultosas em espécie" do doleiro Alberto Youssef, um dos operadores do esquema, a pedido da empreiteira OAS, ela prestou depoimento em cumprimento a mandado de condução coercitiva.

O Ministério Público acusa Duque de receber propina em contas abertas em paraísos fiscais fora do País ou em dinheiro vivo. Os pagamentos seriam viabilizados pelo principal agente financeiro da organização investigada: Youssef. O doleiro aceitou fazer delação premiada em troca de redução de pena.

O operador do PMDB no esquema de corrupção da Petrobrás Fernando Soares, o Fernando Baiano, também teve mandado de prisão expedido pela Justiça. Os policiais, entretanto, não encontraram Baiano.

Em abril, 46 investigados na Lava Jato foram indiciados. Em depoimentos à PF e à Justiça Federal no Paraná, onde corre o processo, Costa chegou a afirmar que fazia pagamentos de propina a integrantes de partidos políticos, entre eles PP, PMDB, PT e PSDB.

O Ministério Público Federal e a PF destacaram que a operação deflagrada nesta sexta tem base em documentos apreendidos nas fases anteriores da Lava Jato e nos depoimentos de testemunhas e colaboradores, exceto as delações do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás, Paulo Roberto Costa, e do doleiro Alberto Youssef. As revelações feitas por Costa e Youssef estão sob o crivo do Supremo Tribunal Federal porque envolvem deputados e senadores, que detêm foro privilegiado perante a Corte.