Foi o próprio Paulo Roberto Costa, ex-diretor de abastecimento da Petrobras hoje acusado de fazer parte de um grande esquema de corrupção dentro da estatal, quem pediu oficialmente que os cerca de US$ 26 milhões que ele havia mandado a contas bancárias na Suíça sejam transferidos de volta para uma conta do governo brasileiro. Isso explica por que o Brasil deverá obter a repatriação desses valores em breve, depois de saltar diversas etapas do procedimento normal vigente na Suíça para casos de dinheiro sujo.

Esse acordo foi negociado entre os dois países assim que Costa foi preso e tinha por objetivo acelerar a devolução dos US$ 26 milhões de suas contas. Pelo procedimento normal, o ex-diretor teria que ser julgado e condenado em última instância antes de devolver ao Brasil valores em seu nome, explicou ao GLOBO Eduardo Pelella, um dos procuradores brasileiros que atuam no caso. Mas, como Costa assumiu o crime, reconhecendo por escrito que o dinheiro havia sido obtido de forma ilegal, o Brasil conseguiu negociar uma saída mais rápida.

- Como ele (Costa) fez o acordo de delação premiada, passou os valores e as contas, e uma das cláusulas (da delação) admite que se pode repatriar esses valores, isso abrevia muito o tempo de tramitação - explicou Pelella.

O dinheiro será, portanto, transferido para uma conta que o Ministério Público já abriu na Caixa Econômica Federal. A devolução ainda não tem, no entanto, data para acontecer.

- Que o dinheiro será repatriado, isso nós já sabíamos antes de vir para cá. Já era algo que esperávamos. Mas não tem data - disse Orlando Martello, outro procurador que aterrissou na Suíça nesta semana para investigar as ramificações do escândalo no país.

sigilo máximo

Para ele, a ideia é respeitar ao máximo o procedimento suíço, sem pressionar por um prazo. O objetivo é aproveitar o clima de "muito boa" cooperação que se instalou entre a equipe brasileira e os investigadores locais:

-Nós não pedimos prazos. Vamos respeitar o procedimento dos suíços. Não sabemos quanto tempo (pode demorar para que a devolução ocorra). Pode levar um mês, dois meses, um ano&

Mas, segundo fontes oficiais, se o acordo entre os dois países funcionar como o previsto, esta será a primeira vez na História da cooperação judicial com outros países que o Brasil obterá uma devolução notadamente rápida de dinheiro relacionado à corrupção.

Ontem, depois de analisar pilhas de extratos bancários, os procuradores brasileiros alegaram a existência de um acordo de sigilo com a Suíça e se recusaram a revelar detalhes do que haviam lido. Apesar disso, destacaram que a investigação que está sendo feita de forma paralela pelos suíços é muito mais ampla do que a que o Brasil imagina e que poderá levar à descoberta de novas pessoas envolvidas no esquema de corrupção da Petrobras, tanto brasileiros como estrangeiros.

- Na verdade, a investigação é muito mais ampla do que Paulo Roberto Costa - disse o procurador Delton Dallagnol. - Eles (os suíços) podem alcançar pessoas que nem imaginávamos que existiam e que estão aqui também. A ideia é sobrepor o que as duas investigações têm.

Segundo os procuradores brasileiros, ao levantar toda a cadeia de pagamentos, os suíços tentam identificar todas as pessoas que se envolveram no caso. Depois, os resultados obtidos pelo investigadores de ambos os países deverão ser cruzados.

- As investigações deles são muito boas, avançaram bastante, e a cooperação é ampla - afirmou Pelella, que também é chefe de gabinete do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. - Eles não estão medindo esforços para investigar esse caso e adotar todas as providencias cabíveis.

"questão procedimental"

Para que o intercâmbio de informações aconteça, é preciso manter o mais pleno sigilo, explicam os procuradores.

Para o Ministério Público suíço, até que as investigações sejam concluídas, nenhuma informação detalhada sobre o procedimento poderá ser divulgada. O trabalho deles começou no dia 11 de abril e faz parte de um esforço da Suíça para combater a lavagem de dinheiro que ocorre dentro de suas fronteiras.

Ao comentar o grau de sigilo, Pelella classificou-o como bom:

- Não dar para fechar esse canal, senão mata a galinha dos ovos (de ouro) e anos poupados de trabalho.

Perguntado sobre o que falta para que o dinheiro de Costa volte ao Brasil, o procurador explicou que agora é uma questão de procedimento da Suíça:

- É questão procedimental, que diz respeito ao Ministério Publico suíço.

 

 

PF liga doleiro à extração de diamantes em terras indígenas

 

Agenda de Chater indica movimentação de recursos da venda ilegal de gemas

Cleide Carvalho
 

 

O doleiro Carlos Habib Chater é suspeito de participar da extração ilegal de diamantes nas terras dos índios cinta-larga, entre Mato Grosso e Rondônia, e de movimentar recursos da venda ilegal de gemas no exterior. A Polícia Federal apreendeu na agenda de Chater uma anotação com o nome de Raimundo Cinta Larga e o número de uma conta corrente em Cacoal (RO), onde o indígena mora.

Raimundo é filho do cacique João Bravo Cinta Larga, visto como empreendedor por ter feito uma hidrelétrica de pequeno porte no Rio Roosevelt, por criar gado e peixes para vender. Nos dados extraídos do programa Money, que serve para gerenciar finanças pessoais mas, segundo a PF, também é usado para controle paralelo de contabilidade de empresas, o nome "Raimundinho" aparece como destinatário de oito remessas de dinheiro em 2013, num total de R$ 21.450,00.

No início da Operação Lava-Jato, a PF colheu indícios de que Chater teria se unido a Francisco Angelo da Silva e Júlio Luís Urnau para atuar na extração ilegal de diamantes, por meio da Cooperativa Extrativista Cinta Larga de Rondônia (Coopecilar). Raimundo Cinta Larga é presidente da Coopecilar. Nas movimentações financeiras de Chater, constam despesas de viagem a Cacoal de uma pessoa identificada como "Júlio". Em março, Urnau foi levado coercitivamente a depor na PF.

Doleiro e sócio tinham casa de câmbio

Júlio Urnal é ex-secretário adjunto dos Transportes do Distrito Federal, ligado ao grupo de José Roberto Arruda, ex-governador do DF condenado por improbidade administrativa por participar do esquema de corrupção conhecido como mensalão do DEM.

O advogado Raul Canal afirmou que a Coopecilar nunca retirou um diamante da terra indígena e que foi criada para lutar pela regularização da extração pelos próprios índios. Segundo ele, há duas ações em curso que pedem que o garimpo feito pelos cinta-larga seja autorizado pelo Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM).

Ele afirmou que Urnau e Chater eram sócios numa casa de câmbio chamada Valortur e que financiaram a cooperativa dos cinta-larga durante alguns meses porque pretendiam, depois que a extração fosse legalizada, atuar na venda de diamantes. Segundo ele, Chater não cumpriu o trato e parou de financiar.