Em discurso no plenário, o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) disse ontem que só não cometeria estupro contra a deputada Maria do Rosário (PT-RS) “porque ela não merece”. O ataque ocorreu depois de a petista usar a tribuna da Câmara para comemorar o Dia Internacional dos Direitos Humanos e tratar da entrega do relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV). É a segunda vez que Bolsonaro ofende a ex-ministra da Secretaria de Direitos Humanos ao fazer uma relação com estupro.

Maria do Rosário deixava o plenário da Câmara depois de fazer o discurso, quando Bolsonaro subiu à tribuna e gritou: “Não saia, não, Maria do Rosário, fique aí. Fique aí, Maria do Rosário. Há poucos dias você me chamou de estuprador no Salão Verde e eu falei que eu não estuprava você porque você não merece. Fique aqui para ouvir”. 

Em seguida, Bolsonaro criticou a defesa dos direitos humanos no Brasil. “Vamos aproveitar e falar um pouquinho sobre o Dia Internacional dos Direitos Humanos. No Brasil, é o dia internacional da vagabundagem. Os direitos humanos no Brasil só defendem bandidos, estupradores, marginais, sequestradores e até corruptos. O Dia Internacional dos Direitos Humanos no Brasil serve para isso. E isso está na boca do povo na rua.”

Maria do Rosário havia defendido a punição de torturadores que agiram durante a ditadura militar. “Senhor presidente, pela memória, pela verdade, pela justiça de transição e a justiça plena, para que a anistia não seja autoproclamada no Brasil e aqueles que torturaram sejam responsabilizados pelos crimes contra a humanidade que praticaram”, disse Maria do Rosário.

O líder do PT na Câmara, Vicentinho (SP), disse que o partido entrará com uma representação na Comissão de Ética por quebra de decoro parlamentar, além de abrir um processo judicial contra Bolsonaro. Em discurso no plenário, o petista leu uma nota de repúdio ao ato de Bolsonaro. “Diante disso, a bancada do PT decidiu tomar todas as medidas judiciais e regimentais contra o deputado Jair Bolsonaro. A barbárie cometida hoje no plenário da Câmara ofende a cidadania brasileira e a consciência das pessoas que lutam por uma sociedade civilizada, tolerante e democrática. No âmbito do parlamento e do Judiciário, todas as iniciativas serão tomadas por nós, parlamentares da bancada do PT, já que as declarações — ameaças — de Bolsonaro demonstram total desrespeito à condição de representante do povo deste país.” 

Depois da confusão, Maria do Rosário afirmou que deseja “distância” de Bolsonaro e vai pedir que o comando da Casa o impeça de mencioná-la. A petista afirmou ainda que considera a atitude dele típica de um torturador.

Reincidente
É a segunda vez que Bolsonaro, na condição de deputado, diz que não estuprará Maria do Rosário porque ela não merece. Em novembro de 2003, ele discutiu com ela, que era deputada, diante das câmeras da RedeTV! no Congresso Nacional. Ela havia acusado Bolsonaro de promover a violência, inclusive sexual: “O senhor promove sim”, dizia a deputada. “Grava aí que agora eu sou estuprador”, retrucou o pepista. “Jamais iria estuprar você, porque você não merece”, acrescentou.

Diante da fala, Maria do Rosário disse que daria uma bofetada em Bolsonaro se ele tentasse algo. Passou a receber empurrões do deputado, que a respondia “dá que eu te dou outra”, antes de começar a chamá-la de “vagabunda” e ser contido pelos seguranças da Câmara. Alterada, a petista criticou-o por chamar qualquer mulher de “vagabunda”.