À primeira vista, poderia ser mais um café moderno no bairro de Pinheiros, na zona oeste da cidade de São Paulo. Só que ao passar da entrada, a casa de pé direito alto, com estrutura de ferro e paredes de vidro abriga um lugar com jeito de casa da "vovó", com jabuticabeira no quintal, rodeada de areia e brinquedos de madeira. O lugar, batizado de Mamusca, não tem atraído apenas pais e filhos. Mas também fabricantes de bebidas, alimentos, produtos de higiene e de brinquedos, que usam o lugar como um laboratório para testar novidades. Na parte da frente da casa há um café, com internet, sanduíches e papinhas caseiras para bebês. E na parte de trás, o espaço é todo voltado para brincadeiras. Em pouco mais de um ano de operação, o Mamusca - versão abrasileirada de Mamushka ou Matryoshka, boneca russa oca que abriga várias bonecas, uma dentro da outra - recebe mais de mil crianças por mês, virou local de referência para grandes empresas de consumo e está ampliando a sua equipe para formar um braço de eventos externos. "Não imaginava isso. A ideia inicial foi montar um lugar para pais e crianças estarem à vontade juntos", diz Elisa Roorda, que abandonou a carreira em marketing esportivo para se tornar uma empreendedora. Em vez de um espaço onde pais deixam os filhos para brincar, Elisa queria um "ambiente misto", onde crianças e adultos se misturam. Foi esse público que despertou o interesse de grandes empresas de consumo como Unilever, PepsiCo, Danone e Hasbro, que viram no Mamusca uma boa oportunidade para montar uma espécie de laboratório de marketing para produtos voltados para o público infantil. A PepsiCo, por exemplo, alugou o Mamusca por um dia para fazer uma pesquisa qualitativa sobre o achocolatado Toddynho, conta Elisa. A Unilever também reservou uma diária para apresentar às agências de publicidade internas a sua linha Dove Baby e falar sobre o amaciante Comfort. A Danone usou o espaço para apresentar um produto para gestantes. Já a fabricante americana de brinquedos e jogos Hasbro patrocinou uma oficina para brincar de massinha. Depois disso, a Hasbro tornou-se uma das fornecedoras fixas de produtos para o ateliê de artes do Mamusca. "Todas as relações de parcerias são analisadas caso a caso. Não quero tornar isso aqui um espaço cheio de mostradores e publicidade pelas paredes e trocadores", afirma a empresária. Marcas menores e até start ups também estão no Mamusca. "Foi o caso de um desenvolvedor de aplicativo para organizar fotos para mães blogueiras. Elas passaram uma hora aprendendo a organizar seus álbuns de imagem. Foi um sucesso", diz Elisa. Outro modelo de parceria para eventos levou o "conceito Mamusca" sair do seu espaço físico e ir para as ruas. A Secretaria Municipal de Cultura da cidade de São Paulo "nos solicitou levar a chancela Mamusca" a eventos abertos, como a viradinha cultural, disse Elisa. A prefeitura também pediu ajuda para montar atividades na Praça das Artes e na Praça Roosevelt. Isso abriu as portas para um novo tipo de negócio. "Estamos formatando esta área de eventos para ampliar as parcerias em 2015. Elas já representam 70% da receita", diz a empresária. O negócio, que teve investimento total de R$ 3,5 milhões, ainda não se pagou, diz Elisa, mas as perspectivas são bem positivas. "A parte estrutural já foi feita. Os planos para 2015 são fazer ajustes operacionais no café e reforçar a área de eventos", conta. Por ora, a expansão não será feita com a abertura de outra unidade ou pelo modelo de franquia, "apesar de receber consultas quase toda a semana", diz. As ações externas são uma opção, inclusive, para driblar o risco real de suspender as operações por conta da falta de água. "Teve um dia que fiquei sem água e não há como funcionar assim", afirma a dona do Mamusca.