Com a economia estagnada e a inflação no teto da meta, o Banco Central começa hoje a última reunião do Copom do primeiro mandato da presidente Dilma. Os juros devem subir, mas há dúvidas se 0,25% ou 0,5%. A preocupação com a alta do dólar e a necessidade de controlar as expectativas podem levar ao aperto maior. Mas o baixo crescimento do terceiro trimestre, depois de um período de recessão, impõe cautela.

O BC está em uma situação difícil, diante de um quadro de estagflação. A economia cresceu apenas 0,7% nos 12 meses encerrados em setembro enquanto o IPCA variou 6,75% no período. Olhando para frente, o cenário é similar. O mercado financeiro projeta crescimento do PIB de 0,77%, em 2015, com inflação de 6,49% (vejam no gráfico).

O economista Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio, explica que a correção dos preços administrados vai manter a inflação alta no ano que vem, mesmo com o baixo crescimento da economia. O Boletim Focus projeta alta de 7,2% nesses preços, que incluem itens como gasolina, energia elétrica e tarifas de transporte público. Por isso, o ciclo de alta dos juros, que começou logo após o segundo turno das eleições, vai continuar na reunião que termina amanhã.

— O que importa agora é olhar para o futuro. Nesse sentido, o BC pode aumentar os juros em meio ponto para reduzir as expectativas de inflação e ganhar confiança do mercado. Juros mais altos também vão atrair mais dólares e diminuir a pressão sobre o programa de swap cambial — explicou Cunha.

O Departamento de Estudos Econômicos do Bradesco acredita em aumento de meio ponto. A projeção é a mesma do ItaúUnibanco, que também espera outra alta de 0,5%, em janeiro, e mais 0,25% na reunião de março, encerrando o ciclo com a taxa Selic em 12,5%.

A presidente Dilma chegará ao fim do primeiro mandato com inflação e juros maiores do que quando assumiu, em janeiro de 2011.

 

 

 

Alimentos põem a meta em risco

A seca está pressionando os preços dos alimentos e colocando em risco o teto da meta de inflação. No atacado, houve alta de 0,98% em outubro e 2,98% em novembro, pelo IGP-M. Segundo Luis Otávio Leal, do Banco ABC Brasil, esse aumento vai chegar aos consumidores em dezembro, o que, somado ao aumento da gasolina, pode fazer a taxa ficar em 1%, acima dos 0,92% de dezembro de 2013. Se acontecer, a inflação de 2014 será maior que 6,5%. Na sexta-feira, o IBGE divulga o IPCA de novembro, e a expectativa já é de aceleração nos preços em relação a outubro, de 0,42% para 0,57%, segundo o Bradesco.

Mordida nos dividendos

O Ibovespa teve ontem a maior queda (-4,4%) desde o fim de setembro. Entre os recuos mais agudos estavam as empresas que distribuem boa parte dos lucros, como a própria BM&FBovespa (-6,3%). Corretores avisavam a clientes que o governo estuda tributar os dividendos, que estão isentos desde 1995. A ideia veio de um projeto feito pelo então deputado federal Ricardo Berzoini (PT). Ele hoje comanda a Secretaria de Relações Institucionais do governo, que se esforça para aumentar a arrecadação.

BALANÇA NO VERMELHO. O governo admitiu ontem, pela primeira vez, que a balança comercial fechará o ano no negativo. A Rosenberg Associados também revisou seu dado, para um déficit de US$ 4 bilhões. A consultoria não prevê superávit no ano que vem.

DÓLAR NÃO SALVOU. A queda dos preços das commodities explica apenas um pedaço desse mau resultado. Enquanto a exportação de produtos básicos caiu 1,8% de janeiro a novembro, a de industrializados recuou mais, 10,3%.