Além dos problemas de corrupção, credibilidade, ações judiciais, risco de pagamento antecipado de dívidas, queda na cotação das ações e dificuldade de publicar seus resultados financeiros, a Petrobras poderá enfrentar um cenário pior que o esperado em 2015. Na sexta-feira, a estatal informou que terá que cortar investimentos - sem detalhar quais - e que trabalha com o barril do petróleo cotado a US$ 70 e o dólar a R$ 2,60 no ano que vem para ter fluxo de caixa livre positivo, ou seja, não depender de captações no mercado. Mas analistas e especialistas no setor estimam que a realidade pode ser menos favorável, e que a empresa será obrigada a cortar um volume significativo de investimentos. Alguns economistas estimam que o petróleo ficará mais perto de US$ 60 e que o dólar pode chegar a R$ 2,80 na cotação média de 2015.

Na sexta-feira, dia em que publicou suas expectativas, a cotação do petróleo fechou a US$ 62 o barril, uma queda de 8% na semana e de mais de 40% desde o início do ano. Já o dólar fechou cotado a R$ 2,65. A previsão da estatal para a moeda americana coincide com as expectativas do Relatório Focus, que o BC divulga semanalmente, de 5 de dezembro, mas o valor da moeda americana passou por uma escalada nos últimos dias.

Mailson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e sócio-diretor da Tendências, afirma que é muito difícil prever o valor da cotação do petróleo, mas avalia que, em 2015, o valor ficará mais perto de US$ 60.

- Teremos uma retomada da produção da Líbia e o aumento da produção dos Estados Unidos. A Arábia Saudita não deve cortar sua produção. E a demanda não deverá subir tanto - disse, lembrando que espera dólar médio de R$ 2,70 em 2015. - A Petrobras está passando por algo que nenhuma outra empresa brasileira passou. Mas há saída: o primeiro passo é ter uma nova diretoria para resgatar sua credibilidade. O grande legado do caso pode ser o fim das indicações políticas em estatais.

Volatilidade global

O professor Edmar Almeida Fagundes, do grupo de energia da UFRJ, afirmou que é muito difícil prever no atual momento o futuro da cotação do petróleo:

- O momento é de muita volatilidade, mas todas as empresas do setor no mundo estão passando pelo que a Petrobras está vivendo, ou seja, estão revendo seus planos de investimento com este novo patamar de preço do petróleo. A questão é acertar a previsão - disse.

Alexandre Wolwacz, diretor da Escola de Investimentos Leandro&Stormer considera que não há previsão de que o barril de petróleo volte ao patamar de US$ 70 "tão cedo". Por essa razão, ele recomenda que a Petrobras revise investimentos no pré-sal e busque novos parceiros. Ele pondera ainda que o teto das previsões para o dólar no mercado chega a R$ 2,80, um patamar superior ao projetado pela estatal. Como a Petrobras importa gasolina, uma alta do dólar pode ter efeito significativo nas contas da estatal.

- O aumento de R$ 0,10 na gasolina aumenta o IPCA em 0,37 pontos percentuais. Como o governo não tem interesse numa alta da inflação, se o dólar subir, o buraco no caixa da Petrobras será ainda maior - disse.

Para reverter as perdas do valor das ações da petroleira, cujos papéis com direito a voto fecharam abaixo de R$ 10 na sexta-feira, avalia Wolwacz, várias medidas terão que ser adotadas, entre elas a venda de ativos no exterior e mudança de toda a diretoria da empresa. Reduzir o nível de endividamento é uma das medidas mais urgentes, diz Maurício Pedrosa, estrategista da Queluz Asset Management:

- O retorno sobre patrimônio da Petrobras é um dos mais baixos entre as petroleiras. A companhia precisa, com urgência, selecionar e eleger os projetos mais eficientes.

Vender ativos de baixo retorno como os de distribuição de gás natural e devolução de poços de petróleo em terra deveriam fazer parte de um plano de desinvestimento, recomenda Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE):

- A Petrobras deveria anunciar um plano de desinvestimentos e focar no pré-sal. É isso que o mercado está esperando.