Depois de 59 anos de vida pública, o senador José Sarney (PMDB-AP), de 84 anos, se despediu ontem do Congresso. Na tribuna, ele fez críticas ao sistema político e defendeu mudanças nas regras de estatais para combater a corrupção. Como principal erro da trajetória política, o peemedebista citou que se arrepende de ter disputado cargos eletivos depois de deixar a Presidência da República em 1990. Sarney disse que continuará a se dedicar ao hobby da leitura.

Sarney criticou o excesso de partidos no país e disse que é necessário rever regras do processo eleitoral. “O financiamento também das campanhas tem de ser resolvido de maneira que não haja cooptação de vontades. É preciso ter regras claras para doações de empresas privadas; estabelecer-se um teto”, disse. O PMDB, partido de Sarney, é dos envolvidos na Operação Lava-Jato da Polícia Federal, que investiga, entre outros, o uso de doações eleitorais para mascarar a propina paga por grandes empreiteiras a políticos.

O ex-presidente disse que o esquema de corrupção na Petrobras, investigado pela PF, envergonha o país. “Estabeleceu-se também uma promiscuidade entre cargos, empresas e setores da administração que apodreceu o sistema em vigor. A solução desse problema não pode ser abordada tímida e isoladamente, mas deve ser feita em conjunto com o sistema partidário”, disse Sarney, dizendo que apresentará um projeto com novas regras para estatais.

Sarney disse ainda que ex-presidentes deveriam ser proibidos de ocupar novos cargos públicos. “Tenho um arrependimento — até fazendo um mea-culpa: penso que é preciso proibir que os ex-presidentes ocupem qualquer cargo público, mesmo que seja cargo eletivo. Nos Estados Unidos é assim, e eles passam a ter uma função que serve ao país. Então, eu me arrependo, acho que foi um erro que eu cometi ter voltado, depois de presidente, à vida pública. Esse arrependimento me trouxe a convicção de que isso é uma das coisas necessárias.”

O ex-presidente, que já foi também governador do Maranhão, foi eleito para as últimas três legislaturas no Senado pelo Amapá. “Eu quero, em primeiro lugar, manifestar a minha gratidão ao povo do Amapá, que me deu três mandatos de senador, gente boa, generosa, humana, trabalhadora, que vai cumprir o destino de construir — não tenho dúvida disto — um dos maiores estados da Amazônia; gratidão ao povo do Maranhão, minha terra, minha paixão, onde meus olhos se abriram para o mundo.”

Pouco trabalho, muito salário
A cinco dias do início do recesso, a Câmara deu posse a Denilson Francisco Teixeira (PV-MG). Ele terá 44 dias de mandato, sendo 39 deles no período de férias. A curta passagem pela Casa pode sair cara ao contribuinte: quase R$ 100 mil de salário e ajuda de custo. A posse ocorre seis dias depois de Teixeira garantir a vaga em decisão liminar da Justiça. Ele entra no lugar de Antônio Roberto (PV), que se aposentou por invalidez em 8 de maio. Teixeira receberá salário por 13 dias de dezembro e pelo mês de janeiro, além de uma ajuda de custo igual ao subsídio mensal dos deputados (R$ 26,7 mil) dada no fim e início do mandato.