Os economistas do mercado financeiro traçaram um cenário pior para o início do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff. Pela primeira vez, espera-se que a inflação vai estourar o teto da meta em 2015 (de 6,5%) e não voltará para o centro (4,5%) nos dois anos seguintes. O reajuste de tarifas dos serviços públicos será significativo, e o dólar — que deve subir mais que o estimado anterior mente — vai pressionar ainda mais os índices de inflação. Os analistas estão prevendo que a inflação fique em 6,54%. Há uma semana era 6,5%. No horizonte avistado pelos analistas, o Banco Central não poderá aumentar tanto os juros para conter a inflação para não frear ainda mais economia, que deve ter crescimento quase zero neste ano e no ano que vem.

Mas os bancos já reajustaram várias taxas. A do cheque especial voltou a bater recorde: a maior dos últimos 15 anos, alcançando 191,6% ao ano. Nessa modalidade de crédito, o devedor paga quase o triplo do que pegou emprestado. E juro alto freia mais ainda a economia. Segundo a pesquisa Focus que o Banco Central faz mais de cem analistas das maiores instituições financeiras, o Brasil crescerá apenas 0,13% neste ano e 0,55% no ano que vem. E, na inflação, além de prever o estouro da meta, os analistas do mercado projetam que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), do IBGE que serve de referência para as metas de inflação, fique em 5,7% em 2016 e, no ano seguinte, deverá ser de 5,5%.

PREVISÃO DE DÓLAR A R$ 2,75 EM 2015

Um dos motivos da persistente inflação é a alta do dólar . A previsão para este ano é que a moeda americana chegue a R$ 2,65. Na semana passada, era de R$ 2,60. Para 2015, a aposta para a divisa saltou de R$ 2,72 para R$ 2,75. Há quem espere que a subida possa ser ainda maior . —O dólar já está subindo e não só no Brasil, mas lá fora também, por causa da previsão de crescimento dos Estados Unidos e da alta de juros por lá. A moeda americana pode chegar até nos R$ 3 — teme o ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio, Carlos Thadeu de Freitas. Além da alta do dólar, os economistas preveem reajustes maiores de tarifas públicas no ano que vem. A estimativa para os chamados preços administrados, segundo o levantamento do BC, passou de 7,48% para 7,60%. Para tentar conter os preços, o Brasil só voltará a crescer mais forte a partir de 2016. — Não vai ser em 2015 que vamos assistir a uma reviravolta em termos de crescimento.

Alta da inflação e crescimento baixo é o retrato de 2015. É o remédio que vamos ter de tomar — prevê o ex-secretário do Tesouro Carlos Kawall. As previsões dos economistas podem ser ajustadas hoje. Pela manhã, o Banco Central divulgará o relatório de inflação e deverá revisar o seu cenário para o ano que vem já com as mudanças previs tas pela nova equipe econômica, que promete meta de superávit primário (economia do governo antes do pagamento de juros) de 1,2% para 2015, e 2% para 2016 e 2017. Uma guinada nesse sentido é a alta dos juros básicos para controlar a inflação, que começou imediatamente após a eleição. A expectativa do mercado é que o BC suba a taxa básica de juros (Selic) dos atuais 11,75% ao ano até 12, 5% ao ano até o fim de 2015. Isso deve frear o consumo para tentar conter a subida de preços no país. E essa alta dos ju ros já afeta as transações financeiras das famílias. Os juros cobrados das famílias quebraram novo recorde.

A taxa que deu o maior salto foi a do cheque especial: passou de 187,8% ao ano para nada menos que 191,6% ao ano no mês passado. A média do custo financeiro de empréstimos com recursos livres (os que as instituições financeiras têm liberdade para escolher como emprestar) subiu de 44% ao ano para 44,2% ao ano em novembro. É o maior já visto desde quando o BC passou a registrar os dados, em 2011. Em média, os bancos cobravam 103,7% ao ano em empréstimos de crédito pessoal como, por exemplo, o crédito direto ao consumidor . É a maior taxa já registrada desde 2011. Mesmo com um cenário adverso, o Banco Central manteve a previsão de crescimento do crédito no Brasil de 12% neste ano. E aposta no mesmo ritmo de expansão no ano que vem, mas com mudanças na concessão de empréstimos. Em 2014, por exemplo, os bancos públicos devem aumentar suas carteiras em 17%, mas no ano que vem esse número deve ser de apenas 14%.

São as instituições públicas as grandes responsáveis pelo aumento do crédito no Brasil desde a grande crise financeira de 2008 e 2009. Já os bancos privados nacionais devem ampliar os empréstimos em apenas 5% este ano. Essa projeção foi revisada para baixo pelo BC. Era de 6%. A autoridade monetária, entretanto, aposta num desempenho mais otimista em 2015: alta de 9%. Os bancos estrangeiros devem expandir o crédito em 7% neste ano. Antes, a previsão era aumentar a carteira em 9%. Em 2015, a projeção também é crescer 7%. Na avaliação do Banco Central, depois de um crescimento forte na concessão de financiamentos no Brasil, ele agora aumenta de forma mais sustentável. Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel, o que chama a atenção é a manutenção de níveis baixos de in adimplência ao longo de 2014.

— Um aspecto que me parece relevante foi o comportamento da inadimplência. Uma alta era esperada e isso não se concretizou. Isso reflete uma série de fatores, entre eles, os impactos da educação financeira nos últimos anos. Entramos em 2014 olhando a inadimplência com cautela e ela continuou em patamares baixos — afirmou Maciel. Ao considerar créditos livres e direcionados (habitacional, rural e do BNDES), a inadimplência da pessoa física está em 1,7%. Já a de pessoas jurídicas ficou em 0,5% em novembro. Ao todo, o crédito deve representar 58% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e ser viços produzidos no Brasil em um ano). A expectativa do BC é que chegue a 61% do PIB no ano que vem.

 

 

Arrecadação federal deve fechar o ano em queda

 

Será o primeiro recuo desde a recessão de 2009 . Em novembro, recolhimento caiu 12,86%

 

Com o fraco desempenho da economia, a arrecadação de impostos federais caiu fortemente em novembro e pode fechar o ano em queda real pela primeira vez desde a recessão de 2009. O governo federal recolheu R$ 104,47 bilhões em impostos e contribuições no mês passado —um recuo de 12,86% (depois de descontada a inflação) frente a novembro de 2013. De janeiro a novembro, a arrecadação federal somou R$ 1,073 trilhão . Apesar deter superado a marca de R$ 1 trilhão , esse volume equivale a uma queda de 0,99% na comparação com o mesmo período do ano passado . Pela primeira vez, a Receita admitiu que o resultado da arrecadação pode ser negativo este ano .—O resultado deste ano deve ficar em torno de zero ou um pouco abaixo — afirmou o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita, Claudemir Malaquias , acrescentando que dezembro costuma mostrar movimentos atípicos que, portanto , ainda não é possível prever o resultado com mais precisão . Segundo o Fisco , em novembro deste ano entraram menos re cursos de parcelamentos de dívidas, por meio do Refis da Crise

.Foram R$ 8,14 bilhões contra R$ 22,77 bilhões do mesmo mês de 2013.—Em novembro, tivemos, de parcelamento ,uma diferença de R$14,62 bilhões. No ano passado, o Refis foi justamente no mês de novembro e, neste ano , foi em agosto (com maior ingresso de recursos no mês de adesão) — disse Malaquias .Também diminuiu a arrecadação de tributos vinculados ao lucro das empresas e houve perda referente às desonerações tributárias,em especial da folha de pagamento. De janeiro a novembro, o governo federal abriu mão de R$ 92,93 bilhões. No mesmo período de 2013, a renúncia fiscal foi de R$ 70,11 bilhões. Apenas no mês passado, o volume chegou a R$ 8,47 bilhões, contra R$ 7,23 bilhões em novembro de 2013.—As desonerações devem tirar quase R$ 100 bilhões da arrecadação no ano —disse o técnico da Receita. Malaquias também culpou a economia estagnada, citando a produção industrial em queda e as vendas menores no varejo . O valor em dólar das importações recuou 11,02%. A massa salarial, por sua vez, cresceu 6,73%: — O resultado da arrecadação é multifatorial.Arrecadação de Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) também foi menor em novembro. A queda ficou em 19,56% na comparação com novembro de 2013. A arrecadação de IR da Pessoa Jurídica (IRP J) caiu 1,17% na mesma comparação .A de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), por sua vez, aumentou 18,72%.