Sarney 'se arrepende' de eleições disputadas depois da presidência

O Globo - 19/12/2014

Em discurso, ele defende que ex-presidentes não tenham cargos públicos

Cristiane Jungblut

Brasília - O ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP) fez ontem, para um Senado esvaziado, seu discurso de despedida da vida pública. Aos 84 anos, depois de ter sido quatro vezes presidente do Senado e de ter sido eleito para a vaga de senador por dois estados diferentes - Maranhão (2) e Amapá (3) -, Sarney afirmou que se "se arrependeu" de ter concorrido a cargos eletivos depois de ter sido presidente da República. Em tom emotivo, disse que é o político mais longevo do país, tendo assumido a vaga de deputado federal em 1955.

- Quero dizer que esta é a última vez que ocupo a tribuna parlamentar, que frequentei desde 1955. Também tenho um arrependimento, até fazendo um mea-culpa: penso que é preciso proibir que os ex-presidentes ocupem qualquer cargo público, mesmo que seja cargo eletivo. Nos Estados Unidos, é assim, e eles passam a ter uma função que serve ao país. Então, eu me arrependo. Acho que foi um erro que eu cometi ter voltado, depois de presidente, à vida pública.

Sarney foi alvo de denúncias em sua passagem pelo Senado. A maior delas foi o caso dos chamados Atos Secretos, que foram atos administrativos assinados sem a publicação nos boletins oficiais da Casa e que incluíram nomeações de parentes do senador em gabinetes de aliados políticos.

Integrante da Academia Brasileira de Letras (ABL), Sarney encerrou seu discurso com uma citação especial, dizendo que tinha "saudades e gratidão" do Senado.

- Assim como o dia se despede da noite, eu me despeço de ti. Deixo no Senado uma palavra: gratidão. Saio feliz, sem nenhum ressentimento. Ai, meu Senado, tenho saudades do futuro.

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