O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) deu mais um passo para acelerar a presença da instituição em fundos que compram participações em empresas e, assim, ampliar a sua atuação no mercado de capitais brasileiro. O banco concluiu a primeira chamada para gestores de fundos de “private equity” e “venture capital”, na qual selecionou cinco fundos em que vai aportar R$ 470 milhões.

Esse valor faz parte de um programa de investimentos de R$ 3 bilhões previsto pela BNDESPar, braço de participações do BNDES, para os próximos anos. Do valor total, R$ 2 bilhões serão aplicados em fundos em 2015 e 2016, e R$ 1 bilhão será destinado para o banco “ancorar” ofertas de ações (IPOs, na sigla em inglês) no mercado de acesso à bolsa de empresas médias, com faturamento anual de até R$ 700 milhões.

Os cinco fundos selecionados envolvem os gestores Confrapar, First, P2 Brasil, Neo Investimentos e Bozano Investimentos. Com o BNDES entre os cotistas, esses fundos vão investir em empresas de diferentes setores como infraestrutura, tecnologia da informação (TI), educação e saúde para baixa renda e educação na área de saúde, além de focar na melhoria da gestão e no crescimento de empresas médias. O BNDES selecionou fundos multisetoriais que estavam pré-estruturados, com, no mínimo, 40% da captação feita.

Julio Ramundo, diretor da área de mercado de capitais do BNDES, disse que a seleção desses gestores marca uma mudança na maneira do banco atuar na indústria de fundos. Até agora o BNDES vinha trabalhando com chamadas específicas para fundos setoriais. O banco dizia que queria investir em um fundo de um determinado setor, garantia um percentual de cotas e o gestor corria atrás de outros investidores para concluir a captação. Essa estratégia vai continuar dentro de uma política direcionada. Mas, ao mesmo tempo, disse Ramundo, o banco concluiu que precisava investir mais em fundos de “private” e ‘”venture capital”.

Uma das razões para esse movimento está no fato de que 19 dos 34 fundos ativos do BNDES vão ser desinvestidos nos próximos três anos. Nos 34 fundos, há 144 empresas investidas com patrimônio comprometido pela BNDESPar de R$ 2,4 bilhões. O objetivo do banco é ampliar em 110 o número de empresas investidas via fundos até o fim de 2017, quando a carteira deve chegar a 254 companhias com um patrimônio comprometido da BNDESPar de R$ 3,8 bilhões. “Vamos aumentar a participação de fundos de “venture capital” e de “private equity” na carteira do BNDES”, disse Ramundo.

Em setembro, a BNDESPar tinha participação em 169 empresas investidas de forma direta pelo banco, além das 144 via fundos. Em valores, a carteira da BNDESPar, em setembro, era de R$ 80 bilhões, dos quais R$ 58,4 bilhões em ações de empresas cotadas em bolsa, cerca de R$ 11 bilhões em “private equity”, R$ 8 bilhões em debêntures e R$ 2,4 bilhões em fundos.

Ramundo disse que os R$ 470 milhões em capital comprometido nos cinco fundos selecionados na primeira chamada agora concluída vão alavancar outros R$ 4,5 bilhões de coinvestidores. A estimativa do BNDES é que os aportes nesses fundos viabilizem investimentos de até R$ 12 bilhões em empresas, salientou. Ele disse que uma segunda chamada será realizada pelo banco em março de 2015 para selecionar outros cinco fundos que receberão aportes de R$ 500 milhões a R$ 700 milhões. O foco deve ser infraestrutura, tecnologia e inovação. O banco também pensa em um fundo focado em Parceria Público-Privada (PPP) e tem expectativa de selecionar um “fundo de fundos”, que aplica em outros fundos de “private equity”.

Na primeira chamada, o BNDES selecionou um fundo multisetorial da Neo Investimentos, que é o primeiro fundo “mezanino” no qual o banco investe. É um fundo híbrido para investimento em ações e debêntures conversíveis. Luiz Chrysostomo, presidente do comitê de investimentos da Neo, disse que o fundo Capital Mezanino 3 vai focar em crescimento e consolidação de ativos. O BNDES deve aportar até 10% do patrimônio comprometido do fundo, investindo até R$ 60 milhões.

A maior cota entre os cinco fundos selecionados coube ao P2 Brasil, associação do Pátria Investimentos e Promon. O BNDES vai aportar até R$ 200 milhões no P2 Brasil fundo 3, focado em infraestrutura nova, disse Otavio Castello Branco, sócio do Pátria. No fundo First, a participação inicial do BNDES será de até R$ 30 milhões, número que poderá chegar a R$ 40 milhões se o fundo alcançar um patrimônio comprometido de R$ 400 milhões. Esse é um fundo voltado para investimento de impacto social e ambiental.

O objetivo é investir em empresas das áreas de educação, saúde e moradia para baixa renda. Na Confrapar, o BNDES vai investir até R$ 80 milhões no fundo Avanti focado em tecnologia da informação (TI) para educação, saúde, serviços financeiros, mídia e telecomunicações. E na Bozano Investimentos, o BNDES vai aportar até R$ 100 milhões em um fundo de R$ 800 milhões com foco em educação na área de saúde.