Título: Combativo até a última sessão
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2011, Política, p. 2

Desde a posse no Senado, em fevereiro, Itamar foi um dos principais nomes da oposição. Ele protagonizou embates com colegas e cobrou a equidade de tratamento a todos os parlamentares

Em 113 dias de mandato cumpridos no Senado, Itamar Franco (PPS-MG) se credenciou como um dos nomes mais fortes da oposição ao governo Dilma Rousseff e protagonizou alguns dos embates mais quentes deste ano: classificou o regimento da Casa de totalitário, acusou o presidente José Sarney (PMDB-AP) de descumprir normas internas e bateu boca com a colega de plenário Marta Suplicy (PT-SP) em torno do metrô de Belo Horizonte.

Por duas vezes, Itamar reclamou da falta de equidade no regimento do Senado, que privilegiaria as maiores bancadas partidárias e alguns senadores com a possibilidade de falar mais tempo na tribuna. Criticou ainda o critério de escolha dos integrantes das comissões permanentes, que é feita com base no número de parlamentares da bancada, bloco ou partido, criando "senadores de primeira e de segunda classes". O mineiro lembrou que a Constituição Federal determina a paridade entre os estados ¿ cada um elege três senadores, independentemente do seu tamanho.

"Não quero a generosidade de nenhum partido. Por generosidade, não vou pertencer à comissão A, B, C ou D. Eu quero é justiça. Eu quero que nós, que fomos eleitos, sejamos um, dois, três, quatro ou 50, tenhamos equidade nesta Casa, a que servi por mais de 16 anos e que não era assim. O regimento da Casa a que servi não era este, nem é o da Câmara dos Deputados. Esse regimento que o Senado está aplicando a nós, senadores, neste momento, é um regimento totalitário que não pode existir numa Casa democrática, como é o Senado da República", discursou.

Sem intimidação Itamar não se intimidou frente ao presidente do Senado, José Sarney. Tentou adiar por três vezes a votação do novo salário mínimo sob o argumento de que o regimento não estava sendo cumprido porque o requerimento de urgência na votação na matéria não foi lido durante o expediente do Senado. Denominado "amigo" e elogiado por Sarney, os pedidos de adiamento não foram atendidos. "Não podemos ficar ao arbítrio da Presidência da Casa. O senhor (Sarney) descumpriu o regimento", argumentou Itamar. "Segui o acordo feito entre os líderes (dos partidos)", rebateu Sarney. "Tomemos cuidado quando o Senado deixa de ser real para se tornar manobra da maioria", emendou.

Durante a discussão de projetos que viabilizam a construção de um trem-bala de Campinas a São Paulo e Rio de Janeiro, Itamar Franco criticou o alto investimento para a obra (R$ 35 bilhões) e citou a falta de recursos para o metrô de Belo Horizonte, parado há 10 anos. Foi o suficiente para um mal-estar com a relatora da matéria, Marta Suplicy. A petista causou irritação ao dizer que o metrô da capital não é assunto do governo federal. "Lamento, sinceramente, que uma senhora tão inteligente, uma senhora que tem uma vida pública respeitável, vai a essa tribuna para defender um projeto inaceitável", respondeu Itamar.