Título: A dignidade está de luto
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2011, Política, p. 2

ex-presidente da república itamar franco morreu ontem, em são paulo, aos 81 anos, vítima de avc. ele lutava contra a leucemia e teve a saúde debilitada em decorrência de uma pneumonia

Baixada em sinal de luto por sete dias, a bandeira nacional descansa em respeito à morte do senador e ex-presidente da República Itamar Franco (PPS-MG). O político faleceu ontem, às 10h15, em São Paulo, aos 81 anos, depois de 43 dias internado para tratar de uma leucemia. Responsável pela estabilização da economia, ele será velado hoje, em Juiz de Fora (MG), na Câmara Municipal, e amanhã em Belo Horizonte, no Palácio da Liberdade, sede do governo de Minas Gerais. A presidente Dilma Rousseff participa do velório na capital mineira. A previsão é que o corpo deixe o hospital Albert Einstein às 7h30 de hoje e siga para o aeroporto.

Itamar vinha respondendo bem ao tratamento, iniciado em 21 de maio, contra o tumor. O exame de medula óssea mostrou que não havia mais células cancerígenas no sangue. Mas a pneumonia aguda devido a um quadro de baixa imunidade deixou o senador bastante debilitado. Durante a sexta-feira, Itamar respirava com a ajuda de aparelhos. Na madrugada de sábado, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que o deixou em coma.

As homenagens que se seguiram à informação do falecimento exaltaram o espírito público e honrado do ex-presidente. Todos sublinharam a capacidade do mineiro de conciliar as forças políticas depois do escândalo que levou à renúncia e ao impeachment de Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente eleito pelo voto direito pós-ditadura militar.

Mesmo como titular da Presidência, Itamar recusou as honras de chefe de Estado a que teria direito. Disse que não queria seu corpo perambulando pelo país. Falou mais alto a altivez que marcou sua trajetória política. Itamar Franco nunca gostou de publicidade ou marketing exacerbado. Como um dos últimos desejos, não quis seu corpo levado ao Palácio do Planalto. Preferiu que seus sucessores o seguissem ao lugar em que se sentia tranquilo: Juiz de Fora.

A aversão aos holofotes pesaram na sua caminhada política que, além de presidente, senador, prefeito de Juiz de Fora e governador de Minas, também inlcui o posto de embaixador em Lisboa, em Roma e na Organização dos Estados Americanos (OEA), em Washington (Estados Unidos). Em vida, Itamar Franco era escanteado na lembrança do sucesso do plano real, a política econômica mais bem-sucedida da história do país. Quem costuma levar os louros como o pai da estabilização é Fernando Henrique Cardoso, que era o ministro da Fazenda na época, depois de ter sido chefe do Itamaraty.

Repercussão A notícia da morte de Itamar gerou comoção entre as maiores autoridades do país. "Foi com tristeza que recebi a notícia do falecimento do senador e ex-presidente Itamar Franco. Dirigente do país em um momento crucial da nossa história recente, o presidente Itamar nos deixa uma trajetória exemplar de honradez pública. O Brasil e Minas sentirão a sua falta. Neste momento de dor, quero transmitir meus sentimentos a seus familiares e amigos", escreveu a presidente Dilma, em nota de pesar divulgada ontem.

O ex-presidente Lula destacou o papel da política social de Itamar e a estabilização econômica como feitos alcançados pelo colega. "Ajudou o país a entrar em uma rota positiva na política e na economia. Em seu governo, implementou o Plano Real, o Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e engajou o governo federal no combate à fome, com o apoio à Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida, junto ao sociólogo Herbert de Souza, o Betinho", consta de nota divulgada pela assessoria de Lula.

Para Fernando Henrique Cardoso, seu antecessor foi um dos alicerces para a candidatura vitoriosa à Presidência em 1994. No entanto, FHC não fez referências ao real. "Como seu colega no Senado, seu ministro em duas pastas e como um dos alicerces de minha candidatura à Presidência, devo muito a Itamar. Mas todos devemos a ele a marca de um homem a quem o poder não abalou a simplicidade no modo de viver, nem muito menos as exigências de conduta que aplicava a si e a quem estava a seu lado", disse o tucano, em nota.

O presidente do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), participará do velório em Juiz de Fora e convocou todos os senadores para o acompanhar. "Ele foi um exemplo. Homem correto, austero, de muita simplicidade, dedicou toda a sua vida ao Brasil", afirmou o senador pelo PMDB do Amapá.

Itamar Franco, o 33º chefe do Executivo Itamar Franco foi o 33º presidente da República Federativa do Brasil. Vice-presidente eleito na chapa de Fernando Collor de Mello, em 1989, ele chegou ao mais importante cargo do país três anos depois, quando Collor sofreu processo de impeachment e renunciou ao mandato. Ainda na campanha de 1989, Itamar teve o apoio disputado pelos então candidatos a presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola, mas optou por se aliar a Collor, que, na época, era considerado azarão na corrida ao Palácio do Planalto.

Avião da FAB levará senadores a Minas Uma aeronave da Força Aérea Brasileira (FAB) será disponibilizada para levar senadores ao velório de Itamar Franco em Juiz de Fora, segundo informou ontem José Sarney. De acordo com o presidente do Senado, a previsão é que o avião deixe Brasília por volta das 10h de hoje. No entanto, não há previsão sobre o uso de transporte oficial para Belo Horizonte, onde o corpo do ex-presidente da República também será velado, antes de ser cremado. Sarney afirmou ainda que irá cancelar a sessão de amanhã no Senado: "Vamos mandar subir a sessão e realizar uma grande homenagem ao presidente Itamar".

Colaborou Diego Abreu