A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o sistema patrimonialista de poder deixa uma "herança nefasta" ao eliminar as fronteiras entre público e privado. "Chegou a hora de firmarmos um grande pacto nacional contra a corrupção. É preciso arrancar os últimos traços dessa herança e jogar no lixo da história", disse Dilma, que afirmou que irá convidar "todas as forças vivas da sociedade e as esferas de governo" para uma reforma política com viés voltado para o combate à corrupção. Dilma foi diplomada pelo Tribunal Superior Eleitoral como presidente reeleita e centrou seu discurso no escândalo de corrupção que afeta a Petrobras.

"Alguns funcionários da Petrobras foram atingidos no processo de combate à corrupção. Estamos enfrentando essa situação com destemor", disse Dilma, que definiu a estatal como estratégica. "Temos que saber apurar e saber punir sem enfraquecer a Petrobras", sinalizando para a manutenção da política de partilha do pré-sal e de compras de conteúdo local. "Temos que continuar acreditando na mais brasileira das empresas", que, de acordo com a presidente, tem sido "e vai continuar sendo um ícone da eficiência".

A presidente disse que a empresa já vinha passando pelo aprimoramento de sua gestão, e as denúncias recentes "só fazem reforçar a determinação de implantar a mais eficiente estrutura de governança corporativa e controle no Brasil".

Segundo Dilma procurou demonstrar, a crise política pode afetar a economia. A presidente disse que o que se deve fazer é punir as pessoas, não "destruir " as empresas. "É preciso saber punir o crime sem prejudicar o país ou sua economia. Temos que fechar todas as portas para a corrupção, não fechar as portas para o progresso e o emprego", afirmou, prometendo medidas já em janeiro. "Reservo para o meu discurso de posse o detalhamento das medidas que iremos tomar", prometeu a presidente. Dilma afirmou que as medidas visam "mais desenvolvimento, mais crescimento econômico e mais progresso social para o Brasil".

Em seu discurso, a presidente destacou que "eleição democrática não é uma guerra". Dilma afirmou que "cabe a quem foi escolhido para ser oposição cumprir o seu papel, mas mais importante que saber perder é saber vencer". Foi a deixa para a presidente fazer um aceno ao diálogo para forças que não a apoiaram. "Saber vencer é reconhecer opiniões divergentes", disse Dilma, acrescentando que o vencedor deve ainda "se libertar das amarras dos interesses individuais e partidários" e ter "a determinação de apurar todo o tipo de irregularidade e mal feito".

Dilma fez um paralelo entre a crise política atual e sua atuação para divulgar crimes de Estado cometidos durante o regime militar, relacionados no relatório publicado pela Comissão Nacional da Verdade este mês. "Não se deve ter medo de se expor as mazelas da ditadura e de crimes financeiros. Estamos em um país onde as pessoas enfrentam a verdade". E frisou: "Corrupção não é vício exclusivo de um ou outro partido, uma ou outra instituição, é um fenômeno complexo e resiliente". A presidente deu uma conotação filosófica ao tema. "A corrupção está entranhada na alma humana e cobra permanente vigilância", disse. A presidente pediu "uma nova consciência, uma nova cultura" para a construção de uma "nova moralidade".

Na cerimônia, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi citado como "pontífice de um país mais justo, socialmente mais equânime e de uma nação mais soberana" pelo presidente do TSE, José Antonio Dias Toffoli. Também estava na solenidade o ex-presidente e senador José Sarney (PMDB-AP), saudado como "pontífice da transição".

Dias Toffoli foi particularmente enfático ao descartar qualquer hipótese da Justiça reexaminar a lisura do resultado eleitoral. "A disputa eleitoral é uma página virada. Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral", disse, em meio a aplausos. "Que os especuladores se calem! Não há terceiro turno que possa cassar a vontade de 54,5 milhões de eleitores que votaram nesta chapa no segundo turno de 26 de outubro", disse o magistrado, relatando que já conversou sobre o tema com outros integrantes da Justiça Eleitoral.

O PSDB pediu, na semana seguinte às eleições, que a Justiça Eleitoral investigasse denúncias veiculadas em redes sociais na Internet sobre irregularidades durante a eleição e no sistema de votação eletrônica. Na semana passada o TSE aprovou, com ressalvas, as contas eleitorais da campanha pela reeleição da presidente.