A economia brasileira voltou a apontar retração em outubro, após três meses de expansão. Pela métrica do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), indicador que serve como termômetro para o Produto Interno Bruto (PIB), a atividade encolheu 0,26% ante setembro, na série com ajuste, seguindo alta de 0,26% no mês anterior. Sobre outubro do ano passado, o IBC-Br aponta baixa de 1,18% e, no ano, a retração é de 0,09%. Em 12 meses, o avanço é de 0,22%.

Em um mês em que a produção industrial ficou estável e o comércio havia surpreendido com vendas acima do esperado - esses são dois dos principais componentes do cálculo do BC -, o resultado negativo do IBC-Br surpreendeu mesmo as projeções mais pessimistas e reforçou a perspectiva para um PIB cada vez mais próximo de zero no quarto trimestre. A média das expectativas apurada pelo Valor Data com consultorias e instituições financeiras era de alta de 0,3% no mês, em um intervalo que ia de zero, na pior perspectiva, até alta de 0,53%, na melhor perspectiva.

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"Mesmo que haja uma pequena recuperação nos dois últimos meses, o potencial de crescimento do quarto trimestre já ficou muito limitado", disse Flávio Serrano, economista do banco Besi. As projeções do Besi, antigo Banco Espírito Santo, apontam para uma alta do PIB de 0,3% no trimestre e de 0,1% no ano.

"Na comparação anual, o resultado é negativo e a produção já está fraca há algum tempo; então, na verdade, não há nada de destoante", afirmou o analista da Tendências Consultoria Rafael Bacciotti. "No fundo, o dado reforça esse quadro de atividade fraca para o quarto trimestre." A projeção da Tendências é que o Produto Interno Bruto (PIB) deva crescer 0,1% entre outubro e dezembro, sobre julho a setembro, pequena oscilação positiva puxada por resultados pouco melhores em novembro e dezembro. No ano, os cálculos da consultoria apontam para PIB zero.

Bacciotti explica que, com poucos detalhes abertos, é difícil precisar de onde veio a discrepância do resultado do BC em relação às projeções de mercado. Para calcular o IBC-Br, a equipe econômica do banco leva em consideração o desempenho de uma série de variáveis no mês, como os resultados relativos a indústria, comércio e serviços. Como a produção industrial teve variação zero, pela Pesquisa Mensal da Indústria do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e o varejo, também pelo IBGE, cresceu 1,7%, a maior parte dos economistas estimou uma variação positiva também para o IBC-Br no mês.

"Ainda que, no geral, o desempenho da indústria tenha indicado estabilidade, alguns setores tiveram influências bastante negativas, como os de bens duráveis, não duráveis e as atividades ligadas a construção. Isso deve ter tido um peso importante", pondera Bacciotti.

Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, destaca que outros desdobramentos do dado do BC corroboram o diagnóstico fraco, como a queda acumulada de 0,09% no ano até outubro, ante mesmos meses no ano passado, e as comparações interanuais. "Foi a sexta vez que houve retração na comparação interanual neste ano; quer dizer, de dez meses, seis foram de queda", disse ela, que revisou sua projeção para o PIB do último trimestre - de 0,4% para 0,2%, na comparação com o trimestre imediatamente anterior -, e também para o ano, de 0,2% para 0,1%.

Serrano, do Besi, pontua que, com o impulso negativo deixado pelo mês de outubro, aumentam as probabilidades inclusive de um quarto trimestre negativo - "mas, independentemente de vir um número negativo ou positivo, o que importa é que vai estar próximo de zero. E, se repararmos, é exatamente isso que vem acontecendo em todos os trimestres", disse.

O PIB caiu 0,2% e 0,6% no primeiro e no segundo trimestre, respectivamente, e subiu 0,1% no terceiro, sempre na comparação com o trimestre imediatamente anterior. No ano, acumula alta de 0,2%. "Nosso quadro não é de recessão ou de crescimento moderado. É de estagnação. Estamos parados no tempo, flutuando ao redor de zero, e o PIB de 2014 será basicamente isso."