O Banco Central (BC) reafirmou ontem o compromisso de colocar a inflação na meta de 4,5% ao ano em 2016. "Vamos fazer o que for necessário para que isso aconteça da maneira mais rápida possível mirando para trajetórias de convergência que indiquem, desde 2015, a mais alta probabilidade possível de atingir a meta em 2016", disse Luiz Awazu Pereira da Silva, diretor de assuntos internacionais, risco corporativo e regulação financeira do BC em palestra no seminário "Reavaliação do risco Brasil", promovido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), com apoio do Valor.

Awazu reconheceu, porém, que antes de retomar a trajetória de convergência para a meta, a inflação em 12 meses tenderá a permanecer elevada, em parte devido a dois fatores: o realinhamento dos preços domésticos em relação aos preços internacionais e a correção de preços administrados. "Em consequência, é possível que, nos próximos meses, a inflação permaneça acima dos níveis em que atualmente se encontra e após esse curto período de elevação, a inflação em 12 meses iniciará um período de declínio consistente, que vai culminar com o atingimento da meta de 4,5% ao ano", disse Awazu em apresentação.

O evento, além de reforçar o compromisso do BC com as metas de inflação, mostrou que o Brasil se depara com um ajuste inevitável em 2015. E o remédio deverá ser amargo: "Não existe ajuste sem custo", disse o economista Carlos Geraldo Langoni, do Centro de Economia Mundial da FGV. Uma das perguntas feitas no seminário é se a nova equipe econômica, formada por Joaquim Levy (Fazenda), Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (BC), terá espaço para fazer o que precisa ser feito mesmo com os custos de curto prazo. Houve certo consenso que o ajuste fiscal a ser feito no segundo mandato da presidente Dilma Rousseff deve ser mais complexo do que o realizado em 2003 pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e talvez leve mais tempo.

Presente ao seminário, o diretor sênior da agência de rating Standard & Poor's, Sebastian Briozzo, reconheceu a capacidade técnica da equipe do Banco Central, mas afirmou que existe um limite da tarefa que o BC pode fazer para reduzir a inflação. "Vai ser difícil para o Banco Central ser bem-sucedido, além de sua capacidade, se o [resultado] fiscal não colaborar", disse Briozzo. Ele afirmou que o Brasil é um dos típicos casos de "fiscal dominance", situação em que o setor fiscal é importante para economia agregada. "Então, o papel do [resultado] fiscal será importante para o rating e para a inflação."

Regina Nunes, presidente da S&P para o Cone Sul e América Latina, disse que a situação do Brasil em 2003 e 2014 é como comparar água e vinho. Em 2003, o Brasil tinha nota de classificação de risco 'B+' e dependia mais das condições globais do que dele mesmo. Em 2008, o país atingiu o grau de investimento 'BBB-', nota elevada para 'BBB' em 2011 e rebaixada para 'BBB-' em março de 2014, com perspectiva estável.

Regina reconheceu que manter essa nota pode ser difícil se o país não tomar determinadas medidas. "O triplo B- leva a discutir problemas mais difíceis de serem resolvidos do que no passado", afirmou. Briozzo acrescentou que a S&P não espera um ajuste fiscal imediato, drástico. "O que precisamos ver é que a estratégia de melhoria da parte fiscal a médio prazo é clara, transparente e atingível."

A crise na Petrobras também foi tema no seminário. Briozzo disse que o rating da Petrobras permanece com perspectiva estável e acompanha o grau de investimento do país. Ele afirmou que as duas notas, do Brasil e da companhia, são atreladas, e devem continuar sendo. O presidente do Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP), João Carlos de Luca, afirmou que o monopólio da Petrobras como operadora única do pré-sal e os recentes desdobramentos da Operação Lava-Jato tendem a dificultar o desenvolvimento do pré-sal. O IBP defende o fim da posição da Petrobras como operadora única do pré-sal.

O economista-chefe do banco BTG Pactual, Eduardo Loyo, presente ao debate, disse, referindo-se ao caso de corrupção que envolve a estatal, que o país está diante de fatores que podem causar danos ao ambiente de investimentos, com "ruídos e fricções" nos cenários político e empresarial. O risco dessa situação é de perda de confiança e postergação de investimentos. Para Loyo, a prescrição para o ajuste fiscal passa por conseguir fazer com que as despesas correntes do governo cresçam de forma mais lenta do que o Produto Interno Bruto (PIB) de forma a que essas despesas declinem ao longo do tempo. "É uma receita menos dolorosa e factível", afirmou. Awazu disse, por sua vez, que o Brasil continuará a trabalhar para manter a nota de crédito soberano no triplo B. "Para isso, devemos usar o que eu caracterizaria como um quíntuplo P: prevenção, prudência, pragmatismo, paciência e perseverança", afirmou.