O novo ministério anunciado ontem pela presidente Dilma Rousseff marca a entrada, no primeiro escalão, em duas pastas com orçamento robusto e responsáveis por conduzir projetos importantes do atual governo, de duas legendas que não existiam quando a petista tomou posse para o primeiro mandato, em 2011: Pros e PSD. Cid Gomes foi confirmado ministro da Educação e Gilberto Kassab será responsável pelo Ministério das Cidades.

Tanto Gomes quanto Kassab deixaram as respectivas legendas às quais estavam filiados — respectivamente, PSB e DEM — para criar partidos que poderiam controlar com mão de ferro. O governador do Ceará deixou o PSB após discordar da candidatura de Eduardo Campos ao Palácio do Planalto, e Kassab abandonou o DEM quando ainda era prefeito de São Paulo. Outro ponto de interseção é que os dois partidos nasceram sob a égide governista.

Como adiantou o Correio, Cid Gomes esteve na semana passada no Palácio do Planalto para dizer à presidente Dilma que aceitaria o convite para ser ministro da Educação. Não conseguiu falar com a petista, pois ela tinha viajado para Buenos Aires, onde participaria da reunião de cúpula do Mercosul.

Para assumir o cargo, Gomes abriu mão de ser consultor de infraestrutura do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Dilma já manifestou diversas vezes o desejo de trazer para a Esplanada o governador do Ceará. Além da gratidão com os irmãos Gomes — Cid e Ciro — por eles terem apoiado a reeleição dela, mesmo contrariando o desejo de candidatura própria do PSB, a presidente ficou bastante impressionada com os resultados do governo cearense na área educacional. Um dos principais programas do governo federal, o Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, foi inspirado em uma iniciativa semelhante de Cid Gomes.

Gilberto Kassab, que já tem um afilhado político na Esplanada — o ministro da Secretaria da Micro e Pequena Empresa, Guilherme Afif Domingos —, assumiu uma das pastas com o orçamento mais robusto, o Ministério das Cidades. Desalojou o PP, que ocupava o posto desde 2004, quando o petista Olívio Dutra deixou a Esplanada. Os pepistas devem ocupar o Ministério da Integração Nacional, que atualmente é conduzido por Francisco Teixeira, ligado aos irmãos Gomes. “São duas pastas equivalentes. A Integração tem boa inserção no Norte e no Nordeste, onde o PP é forte”, comemorou uma liderança do partido.

Kassab, que, segundo aliados da presidente, foi escolhido para a pasta por conta da expertise de ex-prefeito de São Paulo, será responsável por conduzir alguns dos projetos mais caro à presidente: o Minha Casa, Minha Vida, e os PACs Saneamento e Mobilidade Urbana. O PSD de Kassab, cuja criação contou com o empenho pessoal do PT, do Planalto e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez aliança formal com a presidente nas eleições de outubro deste ano.

 

 

PGR nega acesso

 

ANDRÉ SHALDERS

 

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, informou ontem que a Procuradoria-Geral da República negou o acesso do Planalto às informações sobre o possível envolvimento de ministeriáveis nas investigações da Operação Lava-Jato. “Nós entramos em contato com (Rodrigo) Janot e fizemos a ponderação de que gostaríamos de ter informações sobre nomes que comporiam a equipe, apenas para sabermos sobre a veracidade de reportagens veiculadas pela imprensa”, disse Cardozo, em coletiva de imprensa, após se reunir com a presidente Dilma Rousseff. 

O Planalto havia pedido acesso às delações premiadas do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef para saber quais são os nomes apontados nos depoimentos por participação no esquema de corrupção antes de definir a composição dos ministérios. “Ele (Janot) nos disse que não poderia fornecer qualquer informação, e que essa decisão não dependeria dele. Portanto, as nomeações serão feitas com base nas informações (oficiais) disponíveis até o momento”, disse Cardozo. O Ministério Público Federal (MPF) e o Supremo Tribunal Federal (STF) ainda não divulgaram oficialmente qualquer informação sobre réus com foro privilegiado na Operação Lava-Jato.

Cardozo ainda alfinetou o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. Na segunda-feira, Barbosa criticou Dilma em uma rede social, dizendo que o MPF “não era órgão de assessoria”. “Ministério Público é órgão de contenção do poder político. Existe para controlar-lhe os desvios, investigá-lo, não para assessorá-lo”, disse o ministro aposentado. “Talvez o ministro Joaquim não tenha entendido bem”, ironizou Cardozo. “Eu acho curiosa a crítica. Ter informações é algo básico. É natural que um governante, para formar sua equipe, queira ter informações. Não se pediu assessoria nem consultoria.”