A corrupção na Petrobras começou de dentro para fora, e seu objetivo era similar ao do mensalão: manter o PT no poder. A explicação faz parte da defesa do doleiro Alberto Youssef, que não só sustenta a tese de que o dinheiro desviado da estatal foi usado pelo partido para sustentação da base aliada - o PP e o PMDB -, como vai além: o esquema havia se sofisticado e migrado para a doação direta a campanhas eleitorais e ao próprio partido.

A estratégia da defesa é mostrar que Youssef era só uma peça de uma grande engrenagem. No acordo de delação premiada fechado pelo doleiro com a Justiça, há a previsão de que ele cumpra de três a cinco anos de prisão, mas seu advogado, Antônio Figueiredo Basto, vai pedir o perdão judicial.

- A apoteose da lavagem foi colocar o dinheiro de corrupção como doação legal a partidos e campanhas. O sistema funcionou para financiar grupos e partidos políticos - disse Figueiredo Basto.

As empreiteiras citadas em investigações da Operação Lava-Jato, doaram, juntas, pelo menos R$ 484,4 milhões a políticos e partidos no ano passado, mostra levantamento do GLOBO. Grupos como Odebrecht, OAS, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão, UTC, Camargo Corrêa, Galvão, Engevix, Mendes Junior e Toyo Setal fizeram depósitos na conta de políticos e partidos também por meio de suas subsidiárias. As doações foram feitas legalmente e estão todas registradas.

Basto está finalizando a defesa de Youssef, a ser entregue na próxima terça-feira. Vai pedir perdão judicial. No acordo de delação referendado pela Justiça, está previsto que o doleiro cumpra de três a cinco anos de prisão. O advogado diz que não se pode, desta vez, deixar que ocorra o mesmo que ocorreu no julgamento do mensalão, quando os políticos tiveram penas menores que as impostas a representantes da iniciativa privada.

O ex-ministro da Casa Civil José Dirceu foi condenado à pena de sete anos e 11 meses de prisão e multa. A ex-presidente do Banco Rural Kátia Rabello foi condenada a 16 anos e oito meses, e a multa passou de R$ 1,5 milhão. Dirceu está solto, e Kátia, presa.

Na Lava-Jato, advogados dos dirigentes de empreiteiras acusados de participar do cartel criado para desviar dinheiro da Petrobras querem deixar claro que as empresas não agiram sozinhas. Ao contrário, teriam sido convidadas (e até ameaçadas) a participar, sob pena de terem prejuízos em obras em andamento e não serem chamadas a participar de projetos da Petrobras. Na maioria das obras investigadas, as empreiteiras foram convidadas a apresentar propostas. Quem não fosse convidado dificilmente participaria.

O advogado de Youssef reforça a tese. Segundo Figueiredo Basto, a defesa final vai ressaltar o que o doleiro disse desde o início, e no que foi acompanhado pelo ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa: os dois eram apenas peças numa engrenagem muito maior.

- Essa situação foi coordenada e tramada a partir da própria Petrobras. Há claros e fortes indícios de participação dos políticos, que não vou nomear, pois isso deve ficar a cargo da investigação. Meu cliente não é líder de nada. O esquema na maior estatal do país só pôde funcionar com a anuência dos políticos. Isso era fato notório dentro da empresa - disse o advogado do doleiro.

Basto alega que Youssef foi levado pelo então deputado federal José Janene, do PP, a participar do esquema montado dentro da Petrobras, no qual cada partido indicava um diretor e tinha seu feudo dentro da estatal. Para Basto, é essencial pontuar e delimitar responsabilidades, pois o próprio Youssef já deixou claro, ao depor na Justiça, que o esquema vinha "de cima para baixo"; apesar disso, foi apontado como "líder da organização criminosa". Para Basto, todos os integrantes do esquema sabiam o que estavam fazendo, e não teria havido extorsões, apenas pressão.