O Banco Central já deixou bem claro aos brasileiros o que esperar de 2015. A previsão não foge muito do cenário deste ano: crescimento minguado da economia e inflação nas alturas. Apesar dos juros ainda maiores, os preços continuarão subindo, com 37% de probabilidade de a carestia estourar o teto da meta, segundo o Relatório de Inflação divulgado ontem pelo BC. A autoridade monetária, porém, aposta na retomada da confiança e, consequentemente, dos investimentos no país, embora isso possa não ocorrer a curto prazo.

O BC, que prometeu levar a inflação ao centro da meta, de 4,5%, até 2016, prevê agora que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará em 5% naquele ano. “Certamente, continuaremos agindo e fazendo o que for necessário”, disse o diretor de Política Econômica do BC, Carlos Hamilton Araújo, ao admitir que a inflação de serviços, que alcançou 8,3% nos últimos 12 meses, está “bastante resistente”. O IPCA, acrescentou o diretor, tende a aumentar no próximo trimestre e a permanecer elevado no ano que vem.

Mesmo com a retomada da alta de juros, o indicador deve ultrapassar os 7% ao ano nos primeiros três meses de 2015, quando, no entender do presidente do BC, Alexandre Tombini, atingirá o pico. A autoridade monetária segue torcendo por um “realinhamento dos preços”, ainda que, por ora, não consiga enxergá-lo. “Em algum momento, isso vai acabar”, comentou Hamilton.

Sem assumir eventuais erros na política monetária, Hamilton alertou para repercussões negativas de aumentos salariais incompatíveis com o avanço da produtividade da economia Os reajustes, pontuou, provavelmente estão pressionando a inflação. O relatório divulgado ontem também atribui a carestia elevada à aceleração de preços livres, em especial dos grupos alimentação e vestuário.

Em 2015, com os aumentos previstos de energia elétrica e o impacto da depreciação do real, o desafio tende a ser ainda maior e a cresce a possibilidade de o BC reforçar o aperto monetário no próximo ano. Não à toa, a autoridade monetária decidiu retirar de seu vocabulário o termo “parcimônia”, usado em comunicado e repetido em ata para explicar o aumento da taxa básica de juros (Selic) para 11,75%, no início deste mês. À época, o mercado interpretou a expressão como um sinal de que o ritmo de alta poderia desacelerar. Agora, o entendimento passou a ser o contrário. 

Ao apresentar as projeções para 2015, Hamilton explicou que a comunicação do BC muda conforme a conjuntura. “O Copom (Comitê de Política Monetária) saberá colocar a taxa Selic no nível que considera o mais apropriado”, insistiu o diretor, chamando a atenção para a necessidade de uma “política fiscal mais contida”, e reforçando a cobrança presente, mais uma vez, no relatório trimestral.

Pressões
Para o economistas Mauro Rochlin, da Fundação Getulio Vargas, a sinalização de arrocho fiscal dada pela nova equipe econômica pode tornar mais eficientes os prováveis aumentos de taxas de juros no início de 2015. “Ficaria muito mais fácil para o Banco Central perseguir a meta de inflação, desprezada nos últimos anos”, avaliou.

Segundo Rochlin, a intensidade dos reajustes de preços administrados, como energia e combustíveis, determinará se a inflação ultrapassará ou não o teto da meta em 2015. Na avaliação dele, a queda no preço do petróleo — a cotação do barril caiu 36% no último trimestre — pode reduzir as pressões, mas o aumento do dólar tende a anular esse resultado. “Se os Estados Unidos aumentarem as taxas de juros no próximo ano, a divisa pode ultrapassar os R$ 3”, advertiu.

Na avaliação do economista-chefe do BESI Brasil, Jankiel Santos, o Banco Central é coerente ao sinalizar que perseguirá o centro da meta a qualquer custo. A autoridade monetária, emendou ele, precisa trabalhar à revelia das decisões de governo. Apesar disso, Santos comentou que a projeção para a inflação em 2016 — de 5% — está bastante otimista. “Em 2015, teremos pressões de preços administrados. Uma queda muito forte no ano seguinte não aparece nas nossas expectativas.”


Travessia difícil

O que o BC espera para a economia

•Crescimento do PIB (em %)
2014-projeção anterior 2014-projeção atual Previsão para 2015
0,7 0,2 0,6*
* Estimativa para o acumulado de 12 meses, encerrado em setembro


•Inflação (em %)
2014 2015 2016
6,4 6,1 5,0


•Probabilidade de estouro do teto da meta (em %)
2015 2016
37% 15%


•Deficit em conta-corrente (em US$ bilhões)
2014-projeção anterior 2014-projeção atual Previsão para 2015
80 86,2 83,5


•Balança comercial (em US$ bilhões)
2014 2015
Deficit de 2,5 Superavit de 6


•Investimento estrangeiro direto (em US$ bilhões)
2014-Projeção anterior 2014-Projeção atual Previsão para 2015
63 63 65

Fonte: Banco Central

 

 

Retomada econômica ainda vai demorar

 

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, disse ontem que o país não retomará a expansão econômica sem controlar a disparada dos preços. “O caminho para o crescimento passa por uma inflação baixa e estável”, afirmou. A avaliação explica porque o BC reduziu a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano para apenas 0,2%, ante 0,7% projetado no último relatório. Para o ano que vem, a previsão é um pouco melhor, mas não muito animadora: 0,6%. 

Não haverá “crescimento vigoroso” em 2015, reforçou Hamilton. A retomada, detalhou, dependerá do humor de empresários e consumidores. “Não me aventuraria a dizer que temos uma tendência. Mas é possível que haja o início de uma recuperação da confiança. Temos de esperar”, comentou o diretor, apoiando-se na crença de melhora nas exportações — puxada pela recente alta do dólar — e na manutenção do consumo das famílias — impulsionado pelo maior prazo para pagamento de consignados. “Embora a taxa de crescimento tenda a ficar bastante modesta no curto prazo, a qualidade será melhor”, acredita.

Na opinião do economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, mesmo com sinalizações mais realistas e projeções próximas das estimadas pelos analistas, o BC ainda terá de mostrar resultados para convencer o mercado. Será preciso, também, contar com o auxílio do governo para diminuir gastos públicos e, assim, reduzir as pressões inflacionárias e abrir a espaço para a retomada do crescimento.

O mercado se mantém cauteloso diante das ações e do discurso da autoridade monetária. A despeito das avaliações positivas do BC, a inflação se manteve distante do centro da meta ao longo de todo o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. “Há um receio. Nos últimos anos, as políticas fiscal e monetária foram bastante contraditórias”, disse Combat, para quem, embora a nova equipe econômica esteja disposta a fazer mudanças, não está claro se ela terá o aval político necessário.

Ontem, Carlos Hamilton evitou fazer qualquer avaliação sobre o novo time econômico escalado por Dilma. “Pelo que leio, parece que o mercado gostou”, limitou-se a dizer. O diretor negou que tenha recebido convite para chefiar o a Secretaria do Tesouro Nacional. “Não há novidade sobre esse assunto.” (AT e DA)

•Selic a 12,50%
O relatório de inflação divulgado ontem pelo BC levou o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, a reforçar a expectativa de que o atual ciclo de ajuste monetário deverá levar a taxa Selic a 12,50% ao ano em 2015. “O Copom ajustou o tom da política monetária na direção de um aperto mais forte do que o sinalizado anteriormente”, disse. A projeção é compartilhada pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn. “Esperamos um ajuste na taxa de juros que leve a inflação a uma trajetória declinante nos próximos anos,” afirmou .

 

Retomada econômica ainda vai demorar

 

O diretor de Política Econômica do Banco Central, Carlos Hamilton Araújo, disse ontem que o país não retomará a expansão econômica sem controlar a disparada dos preços. “O caminho para o crescimento passa por uma inflação baixa e estável”, afirmou. A avaliação explica porque o BC reduziu a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano para apenas 0,2%, ante 0,7% projetado no último relatório. Para o ano que vem, a previsão é um pouco melhor, mas não muito animadora: 0,6%. 

Não haverá “crescimento vigoroso” em 2015, reforçou Hamilton. A retomada, detalhou, dependerá do humor de empresários e consumidores. “Não me aventuraria a dizer que temos uma tendência. Mas é possível que haja o início de uma recuperação da confiança. Temos de esperar”, comentou o diretor, apoiando-se na crença de melhora nas exportações — puxada pela recente alta do dólar — e na manutenção do consumo das famílias — impulsionado pelo maior prazo para pagamento de consignados. “Embora a taxa de crescimento tenda a ficar bastante modesta no curto prazo, a qualidade será melhor”, acredita.

Na opinião do economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, mesmo com sinalizações mais realistas e projeções próximas das estimadas pelos analistas, o BC ainda terá de mostrar resultados para convencer o mercado. Será preciso, também, contar com o auxílio do governo para diminuir gastos públicos e, assim, reduzir as pressões inflacionárias e abrir a espaço para a retomada do crescimento.

O mercado se mantém cauteloso diante das ações e do discurso da autoridade monetária. A despeito das avaliações positivas do BC, a inflação se manteve distante do centro da meta ao longo de todo o primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff. “Há um receio. Nos últimos anos, as políticas fiscal e monetária foram bastante contraditórias”, disse Combat, para quem, embora a nova equipe econômica esteja disposta a fazer mudanças, não está claro se ela terá o aval político necessário.

Ontem, Carlos Hamilton evitou fazer qualquer avaliação sobre o novo time econômico escalado por Dilma. “Pelo que leio, parece que o mercado gostou”, limitou-se a dizer. O diretor negou que tenha recebido convite para chefiar o a Secretaria do Tesouro Nacional. “Não há novidade sobre esse assunto.” (AT e DA)

•Selic a 12,50%
O relatório de inflação divulgado ontem pelo BC levou o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, a reforçar a expectativa de que o atual ciclo de ajuste monetário deverá levar a taxa Selic a 12,50% ao ano em 2015. “O Copom ajustou o tom da política monetária na direção de um aperto mais forte do que o sinalizado anteriormente”, disse. A projeção é compartilhada pelo economista-chefe do Itaú Unibanco, Ilan Goldfajn. “Esperamos um ajuste na taxa de juros que leve a inflação a uma trajetória declinante nos próximos anos,” afirmou .

 

BNDES mais enxuto

Seguindo os planos do governo de reconquistar a confiança dos investidores, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) informou ontem que ficará mais enxuto e focado a partir de 2015. Para comprovar que a mudança não é apenas mais promessa do Palácio do Planalto, a instituição anunciou as novas diretrizes de sua política operacional. As taxas de juros cobradas de empresas subirão e os subsídios ficarão restritos a projetos prioritários, como os de infraestrutura, energia renováveis, transporte coletivo urbano, transporte hidroviário e ferroviário e inovação tecnológica.

A estratégia é evitar que o Tesouro Nacional seja obrigado a injetar mais dinheiro no banco. Desde 2008, a instituição recebeu quase R$ 450 bilhões em recursos públicos com a justificativa de que impulsionaria os investimentos produtivos e, por tabela, a atividade econômica. Não foi o que aconteceu. O que se viu foi um salto na dívida pública de 52% para 62% do Produto Interno Bruto (PIB) somente no primeiro mandato de Dilma Rousseff.

“A nova política operacional visa minimizar o esforço para a obtenção de recursos em TJLP. É um esforço muito grande de poupar recursos”, afirmou o presidente do BNDES, Luciano Coutinho. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que serve de parâmetro da os financiamentos da instituição, passará de 5,0% para 5,5% ao ano a partir de 1º de janeiro, conforme determinação do Conselho Monetário Nacional .