Os rumores sobre a saída de Maria das Graças Foster da presidência da Petrobras foram suficientes para fazer disparar as ações da estatal já na manhã de ontem, horas antes da reunião dela com a presidente Dilma Rousseff. A alta se manteve durante o dia e os papéis da companhia fecharam com valorização de mais de 15% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Nem mesmo o rebaixamento da companhia pela agência de classificação de risco Fitch - de "BBB" para "BBB-", apenas um nível acima do chamado grau especulativo, e com Rating sob perspectiva negativa - desanimou os investidores.
Com a alta, a maior da estatal em um dia desde setembro de 1998, a Petrobras recuperou mais de R$ 16,6 bilhões em valor de mercado durante o pregão, passando a valer R$ 128,8 bilhões. Os papéis ON (com direito a voto) subiram 14,24%, a R$ 9,79, já os PN (sem voto), 15,47%, a R$ 10.
A mudança no comando da Petrobras vem sendo incentivada por bancos e corretoras, mas até então o Planalto se mostrava irredutível em sua decisão de manter Graça no posto. Oficialmente, o Palácio do Planalto não confirma a decisão. Mas fontes afirmam que a executiva e toda sua diretoria sairão no mês que vem.
- A avaliação dos investidores é que, embora não resolva os problemas da estatal, a mudança em sua diretoria é crucial para virar a página da empresa. A sensação é que a atual gestão não tem nada a acrescentar - afirmou Maurício Pedrosa, estrategista da Queluz Asset Management.
Em relatório, Auro Rozenbaum, do Bradesco BBI, afirmou que, se o sucessor "for um executivo experiente e conhecido, pode haver um alto potencial de alta no curto prazo para as ações".
- Quem sucedê-la tem que ser capaz de reinventar a empresa e aplicar um rigoroso controle financeiro. Após ajustes, a Petrobras terá que ser uma empresa menor, mas com metas mais concretas e possíveis de se atingir - disse Álvaro Bandeira, da distribuidora de fundos da Órama.
Já o rebaixamento pela Fitch ocorre menos de uma semana após a Moody"s cortar a classificação da estatal de "Baa2" para "Baa3", também a um degrau de perder o grau de investimento, selo de boa pagadora.
A oposição conseguiu coletar 186 assinaturas de deputados, incluindo parlamentares da base aliada, e apresentou requerimento de criação de uma nova CPI da Petrobras na Câmara. A intenção é continuar as investigações de desvios de recursos da estatal, iniciadas em CPI mista no ano passado. Regimentalmente, são necessárias pelo menos 171 assinaturas para a apresentação do pedido de CPI.
Segundo o deputado Otávio Leite (PSDB-RJ), o número de assinaturas foi alcançado com a ajuda de deputados da base aliada, entre eles do PMDB, do PR, do PSD e do PDT, além de parlamentares da oposição (PSDB, DEM, PSB, PPS e Solidariedade).
— O drama da Petrobras é tão grave que sensibilizou deputados da base aliada, que nos ajudaram a alcançar e ultrapassar o número mínimo exigido pelo regimento. Os desmandos têm que ser apurados — disse Otávio Leite.
CPI Mista também nos planos
A oposição continua empenhada em coletar assinaturas também para a instalação de uma CPI mista da Petrobras, mas não obteve ainda o número mínimo de 41 assinaturas de senadores. Na Câmara, a meta era dar entrada no requerimento antes de outras CPIs que propostas por deputados do PT e da base aliada. O regimento permite o funcionamento de apenas cinco CPIs simultâneas. Caso um pedido chegue depois, entra na fila.
A decisão de instalação passa por um julgamento de admissibilidade formal por parte da presidência da Casa, que analisa se comissão tem objeto para ser instalada e obedece a ordem de chegada dos pedidos. Dois requerimentos de CPIs já foram protocolados, restam apenas três vagas.
— Hoje foi o massacre da serra elétrica: demitiram o Henrique Fontana (ex-líder do governo na Câmara), vai ter reforma política e nós protocolamos agora a CPI da Petrobras — resumiu o deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), ex-líder tucano na Câmara.