O novo diretor de política econômica do Banco Central, Luiz Awazu Pereira, fez uma análise conservadora sobre a economia brasileira na primeira entrevista após ser escolhido para o cargo. O diretor, que também acumula a cadeira de Assuntos Internacionais, acredita que a inflação elevada não é um fenômeno restrito a janeiro e os preços devem permanecer pressionados durante parte do ano. Por isso, diz que o BC deve ser “especialmente vigilante” e não pode ser “complacente”. 

 

Numa conversa com jornalistas para comentar os dois dias de reunião de cúpula das 20 maiores economias do mundo, o G-20, o Brasil dominou o discurso de Awazu. Antes de ser questionado sobre o tema, o diretor passou a analisar a situação macroeconômica do País. 

 

Para o diretor, o processo de elevação do preço do dólar e das tarifas públicas é o responsável pela maior inflação vista em janeiro no Brasil. Esse fenômeno, ressaltou, não deve ser exclusivo do primeiro mês de 2015 e “provavelmente vamos ver (alta dos índices) ao longo da primeira parte deste ano”. Sem detalhar qual a período se referia - se bimestre, trimestre ou semestre, o diretor disse que os “ajustes de preços relativos têm de ser reais e efetivos”.

 

Repetição. Diante da inflação que sobe e deverá continuar pressionada por algum tempo, Awazu repetiu três vezes que o BC não deve ser “complacente” e que “é fundamental que a política monetária trabalhe e mantenha-se especialmente vigilante”. Esse esforço tem como objetivo garantir que “as pressões de curto prazo não se propaguem para horizontes mais longos”. 

 

O discurso do diretor mexeu com o mercado e contratos mais curtos de juros futuros passaram a subir após as declarações em Istambul. O movimento indica maior aposta de que o BC pode, eventualmente, continuar por mais tempo com o processo de alta dos juros. Dessa forma, o diretor revelou tom mais “hawkish” - ala do mercado financeiro mais propensa à alta dos juros - que a expectativa de parte dos analistas de que seria “dovish” - corrente dos economistas que preferem política monetária mais relaxada - na primeira entrevista após a indicação ao novo cargo. 

 

Além da inflação doméstica, o discurso do novo ocupante da cadeira que era de Carlos Hamilton Araújo passa pela lembrança de que, apesar de alguns fatores externos mostrarem sinais positivos, o cenário no Brasil é desafiador e o País não pode baixar a guarda. Awazu cita como exemplo o maior crescimento dos EUA e a queda do preço do petróleo. Ambos fatores têm impacto positivo para o Brasil, “mas isso não deve nos levar a nenhuma complacência”.

 

O discurso mais duro e realista de Awazu acontece dois dias após o presidente do BC, Alexandre Tombini, usar a mesma viagem à Turquia para também revelar um prognóstico mais próximo ao compartilhado pelo mercado financeiro. Além de reconhecer a inflação mais alta, Tombini admitiu no domingo que o Brasil deve terminar o ano sem crescimento e o cenário só melhorará no próximo ano. 

 

Em ocasiões diferentes na Turquia, Tombini e Awazu disseram que a economia brasileira deverá voltar aos trilhos. No próximo ano, a economia voltará a crescer de forma “mais balanceada e sustentada” e a inflação deverá voltar ao centro da meta de 4,5% em dezembro de 2016, afirmou Awazu.