Os preços dos títulos do governo ucraniano caíram para mínimos recordes, devido ao temor de que o país, dilacerado por conflitos separatistas, entrará em default neste ano, depois que uma nova ferramenta analítica, desenvolvida pelo Fundo Monetário Internacional e pelo "Financial Times", mostrou que as dívidas do país entraram numa espiral muito mais intensa do que se supunha até agora. O governo ucraniano foi socorrido pelo FMI há menos de um ano, depois da destituição do ex-presidente Viktor Yanukovich. Mas a anexação pela Rússia da região ucraniana da Crimeia e o apoio russo aos rebeldes separatistas nos redutos industriais no leste do país arruinaram a economia e as finanças do Estado. A nova ferramenta de análise da dívida soberana, baseada no modelo econômico do próprio FMI e utilizada para avaliar a trajetória da dívida de um país, evidencia o grau de abalo financeiro ucraniano. O FMI inicialmente pressumia que a economia do país se contrairia em 5% no ano passado, mas até mesmo a revisão para uma recessão de 6,5% parece agora otimista. Alguns economistas já estimam que o Produto Interno Bruto (PIB) encolheu 8% em 2014, e o presidente do banco central ucraniano disse que o PIB pode ter caído até 10%. Considerando o desequilíbrio orçamentário resultante e uma desvalorização mais profunda do que a prevista da moeda, a ferramenta interativa do FT-FMI para avaliação de endividamento indica que a relação entre a dívida e o PIB provavelmente se aproximará de 90% em 2015, mais do que o dobro da registrada em 2013 e em um nível que o FMI considera insustentável. O Fundo estima que a Ucrânia necessita de outros US$ 15 bilhões para evitar um default, mas o próprio FMI, os EUA e a União Europeia continuam debatendo sobre quem arcará com essa conta. O tempo está se esgotando, pois o FMI só poderá disponibilizar a próxima parcela do programa em curso se puder afirmar com elevado grau de confiança que o endividamento ucraniano é sustentável. A menos que os financiadores ocidentais de Kiev disponibilizem dinheiro no curto prazo, a Ucrânia poderá ficar inadimplente, uma perspectiva que levou os credores do país a se desfazerem de seus títulos. Os US$ 2,6 bilhões de títulos do governo ucranianos com vencimento em 2017 caíram para um recorde de baixa de US$ 0,58 por dólar ontem, igual a um rendimento de mais de 35%. A inflação no país, segundo dado divulgado ontem, foi de 24,9% em 2014, a maior em 14 anos. A ferramenta do FT-FMI também lança dúvidas sobre as perspectivas de declínio na trajetória da dívida de diversos países europeus, que ainda estão sofrendo as consequências da recente crise da zona do euro.