Em meio à maior crise política dos últimos 12 anos de governos petistas, e com a popularidade da presidente Dilma Rousseff em queda, o governo deflagrou ontem uma ofensiva na articulação política para tentar recompor a base aliada e evitar novas derrotas no Congresso Nacional. Pelo menos cinco ministros, além do vice-presidente Michel Temer e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva entram em campo para tentar justificar as medidas de ajuste fiscal, que constrangem até o PT. 

Em um segundo momento, Dilma deve voltar a se reunir com os líderes da base aliada no Palácio do Planalto. Avessa ao diálogo, a presidente costuma convocar os líderes de sua base apenas nos momentos críticos. Na última reunião, os líderes firmaram um pacto para não aprovar no Congresso medidas que elevassem os gastos públicos. 

Os dois gestos mais emblemáticos executados ontem miram o PMDB. O ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, deslocou-se até a residência oficial da presidência da Câmara para almoçar com o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), considerado um adversário político do governo. Mercadante trabalhou, nos bastidores, pela candidatura do deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) para a presidência da Casa. 

O segundo aceno partiu do vice-presidente Michel Temer, que convidou o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e os demais ministros da equipe econômica, Nelson Barbosa (Planejamento), e Alexandre Tombini (Banco Central), para um jantar ontem à noite no Palácio do Jaburu, com a cúpula do PMDB. O objetivo era que Levy explicasse às principais lideranças do PMDB por que as medidas de ajuste fiscal, que limitam o acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários, são necessárias para a recuperação da economia. 

O nome de Levy foi apontado como interlocutor privilegiado com o partido, a fim de priorizar as questões técnicas das medidas, no contexto da crise econômica, e por estar imune às fissuras do partido com a articulação política do Planalto. 

Depois, Mercadante acabou sendo chamado para o jantar, que contou com os ministros do PMDB, os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, do Senado, Renan Calheiros, e dos líderes do partido na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), e no Senado, Eunício Oliveira (CE). 

Também ontem o ministro das Relações Institucionais, Pepe Vargas, reuniu-se com Picciani e com o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). "O líder Picciani está muito convencido da tese da recomposição da base, vai ajudar no que for necessário", relatou Guimarães ao Valor. 

Simultaneamente, o ex-presidente Lula encabeça outra frente de defesa ao governo. Aos interlocutores, Lula tem afirmado que o governo precisa do apoio das ruas, dos movimentos sociais, para se descolar da crise. Hoje ele participa de um ato em defesa da Petrobras no Rio de Janeiro, promovido pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e por sindicatos dos petroleiros. 

Na quarta-feira, Lula chega a Brasília para se reunir com os senadores do PT, que não escondem o constrangimento em subir à tribuna para defender as medidas de ajuste fiscal. "Chega a ser ridículo", desabafou um senador petista ao Valor, em condição de anonimato. "Estamos agora com o PT defendendo a tese do patrão, e os tucanos a manutenção dos direitos trabalhistas", completou. 

O Palácio do Planalto ainda escalou cinco ministros para abrirem o diálogo com a base aliada no Congresso. Em um esforço encabeçado por Vargas, mais quatro ministros vão defender as medidas de ajuste fiscal para os líderes da base aliada na Câmara e no Senado. 

Amanhã Pepe Vargas e os ministros da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, da Previdência Social, Carlos Gabas, do Planejamento, Nelson Barbosa, e do Trabalho, Manoel Dias, reúnem-se em um café da manhã com líderes da base aliada no Senado. 

No fim da manhã, está programado um almoço com lideranças da base na Câmara. E como desdobramento das conversas, o mesmo bloco de ministros toma café da manhã com os senadores que formam o bloco de apoio ao governo na Casa, formado pelo PT, PCdoB e PDT. 

O primeiro teste dessa ofensiva está programado para hoje, quando o Congresso se reúne para analisar vetos presidenciais. O governo respirou e tem mais duas semanas para negociar o veto mais sensível: o reajuste em 6,5% da tabela do Imposto de Renda. O governo defende 4,5%. 

Hoje deve ser apreciado o veto ao índice de 6% para o pagamento dos direitos previdenciários dos empregados domésticos. A medida reduz a arrecadação federal em R$ 600 milhões por ano. O placar final vai medir a fidelidade da base aliada para a posterior votação das medidas de interesse prioritário do governo: o reajuste da tabela do Imposto de Renda e as medidas provisórias de ajuste fiscal.