IPCA é o maior em 12 anos

Correio Braziliense - 07/02/2015

Inflação de janeiro atinge 1,24% e fecha em 7,14%, no acumulado de 12 meses, acima da meta. Reajustes da energia elétrica e de alimentos pesaram para que o indicador iniciasse 2015 em alta

BÁRBARA NASCIMENTO 
CÉLIA PERRONE

A inflação não tem dado trégua nos últimos meses e corrói cada vez mais o orçamento do trabalhador brasileiro. Puxado, sobretudo, pelo aumento nos preços da tarifa de energia elétrica e dos alimentos, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de janeiro atingiu o maior patamar em 12 anos, 1,24%. Esse é o pior resultado para o mês desde 2003. Na mesmo período do ano passado, o indicador havia ficado em 0,55%. O acumulado em 12 meses estourou e muito o teto da meta estipulada pelo governo, de 6,5%, atingindo 7,14%, o maior percentual desde setembro de 2011. A expectativa é de que em fevereiro venha no mesmo ritmo: com a alta de combustíveis, a carestia deve continuar forte este mês. 

Em Brasília, a inflação supera a média nacional no acumulado em 12 meses, 7,20%. Em janeiro, os brasilienses viram os preços ficarem 0,78% mais altos. O maior peso regional, no entanto, ficou com o estado de São Paulo, onde o aumento das tarifas de energia e transporte fizeram a carestia saltar 1,51% no mês. 

O aumento da energia elétrica impulsionou grande parte da alta do IPCA em janeiro. Ao subir 8,27%, impulsionou o item habitação. Juntos, os setores de alimentação e bebidas (1,48%), habitação (2,42%) e transportes (1,83%) foram responsáveis por 85% do indicador de janeiro. E a expectativa é de que o reajuste das contas de luz continue pesando no índice. Ontem, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou aumento na bandeira tarifária vermelha, que passará de R$ 3 para R$ 5,50 pela mesma quantidade utilizada. O impacto dessa alta deve vir em março. 

Alimentos 
No supermercado, os preços devem continuar subindo nos próximos meses, por conta do período de entressafra. "Tradicionalmente, temos inflação alta no começo do ano, mas, em 2015, isso está sendo agravado por pressões climáticas, que pressionam ainda mais os alimentos, e pelo reajuste dos preços administrados, como energia e tarifas de transporte público", aponta Flávio Combat, economista-chefe da Concórdia Corretora. Só em janeiro, a batata-inglesa teve alta de 38,09%, acumulando, em 12 meses, uma alta de 50%. O feijão-carioca e a carne subiram, no mesmo período de comparação, mais de 20%. "Esperamos que esse movimento nos alimentos comece a ser revertido somente em abril, mas vivemos um período de anormalidade climática e isso afeta tudo: as plantações e os pastos, que elevam o preço da carne", emenda Étore Sanches, economista da consultoria LCA. 

O governo segurou, em 2014, por conta das eleições, vários reajustes na tentativa de evitar uma disparada do IPCA. O preços represados, que estão sendo corrigidos agora, serão os principais responsáveis por puxar para cima a inflação deste ano, apontam os especialistas. Além disso, o ajuste fiscal, realizado pelo governo, em busca do reequilíbrio das contas públicas, envolve aumento de vários impostos que estavam desonerados, e deve ajudar a pressionar o indicador. 

Diante da situação, os especialistas esperam que 2015 chegue ao fim com um resultado muito acima do teto da meta para o IPCA. A expectativa do mercado é de que fechemos o ano em torno de 7%, de acordo com o boletim Focus do Banco Central do último 30 de janeiro. 

Alternativas 
Para tentar driblar os preços altos, os consumidores têm dedicado mais tempo às compras. Pesquisam em vários supermercados, dividem as compras em mercados diferentes para aproveitar os preços mais baratos de cada um. Tudo para economizar. Munida de uma lista com preços de vários supermercados, Vanda Camargo reclama dos preços. "Está tudo caríssimo! Há menos de duas semanas paguei R$ 3 no tomate, agora está custando R$ 6,49. Não vou comprar", decide. 

Ela conta que recebe um tíquete-alimentação no valor de R$ 870 e teme que esse valor não dê para as necessidades da família este mês. Mas a funcionária pública não lamenta só os preços dos alimentos. O problema vai além: aluguel e luz já estão mais caros e prometem subir mais. "E o serviço cada vez pior: com muitos cortes por causa dos picos de consumo", avalia. 

"O preço está absurdo", exclama a empresária Letícia Minare Brauna, 28 anos, na fila da carne. Ela adiantava as compras para o churrasco que vai fazer no carnaval. "No dia a dia já substituí a carne por frango e peixe, mas num churrasco não tem como. Não dá para revezar com pão de alho", ironiza. Ela revela que de dezembro para janeiro o quilo do contrafilé passou de R$ 17 para R$ 24 e a picanha, que era encontrada por até R$ 23, não custa agora menos que R$ 33. Na tentativa de não extrapolar o orçamento, ela procura nos mercados mais baratos e compra verduras em feiras populares. 

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Luz sobe em março

Correio Braziliense - 07/02/2015

RODOLFO COSTA

O consumidor deve preparar o bolso para mais um aumento na conta de luz. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou, ontem, o reajuste do sistema de bandeiras tarifárias. O valor da bandeira vermelha - em vigor desde janeiro -, que custava R$ 3 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos por mês, será elevado para R$ 5,50, um aumento de 83%. Para a bandeira amarela, o custo extra vai saltar de R$ 1,50 para R$ 2,50 por 100kWh, uma elevação de 66%. A proposta ainda será discutida pelos diretores da Aneel em audiências públicas previstas entre 9 e 20 de fevereiro. Contudo, se não houver alterações no texto, os novos valores passam a valer a partir de 1º de março. 

A correção do sistema, aliada ao reajuste médio entre 45% e 50% anunciado pelas distribuidoras, deve provocar um aumento médio de 61% para o consumidor final, avaliou o consultor Ricardo Savoia, da Thymos Energia. "O racionamento ainda não foi decretado pelo governo, mas o reflexo desses aumentos já provoca uma racionalização", analisou. No atual cenário de bandeira vermelha, que deverá perdurar ao longo de todo o ano, uma conta de R$ 65,20 vai subir para R$ 74,15 com o reajuste, quase R$ 9 a mais. Os valores levam em consideração que o consumo médio residencial do brasileiro é de 163kWh, segundo cálculos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do governo federal. 

O acréscimo extra na conta de luz vai contribuir para o equilíbrio do caixa das distribuidoras. O ajuste na bandeira tarifária deve gerar uma arrecadação adicional de R$ 7,2 bilhões. Como a previsão anterior era de que fossem acumulados R$ 10,6 bilhões, agora, a expectativa é de que sejam arrecadados R$ 17,8 bilhões em 2015. O brasileiro também será o responsável por pagar a Conta de Desenvolvimento Energético (CDE) este ano. O impacto no bolso será de até 26% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A conta, de R$ 23,21 bilhões, será arrecadada por meio de cotas das empresas e será repassado para os consumidores. 

Tamanha pressão vai gerar um forte impacto na inflação, prevê o gerente de regulação da Safira Energia, Fábio Cuberos. "Ao longo de todo o ano, as contas virão com a bandeira vermelha. O reajuste vai pressionar ainda mais a alta dos preços ao consumidor. A realidade é que brasileiro precisará torcer para que o país se livre do racionamento, o que provocaria uma queda do Produto Interno Bruto (PIB)", disse. 

A expectativa dos especialistas, contudo, não é favorável. A estimativa é de que as chuvas não serão suficientes para recuperar o nível de reservatório. 

Chuvas 
A falta de chuva levou o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) a reduzir mais uma vez a previsão do nível dos reservatórios das hidrelétricas. Para as regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por 70% da energia produzida no país, a expectativa de chuvas passou de 52% para 51% em uma semana, levando a previsão de do nível de reserva de água de 19,7% para 19,5% da capacidade. 

As novas projeções também sugerem volume menor de chuvas nas regiões Sul e Norte, com exceção da Região Nordeste, que, no cenário atual, apresenta o nível mais baixo do país.