O rebaixamento da classificação da Petrobras por empresas de rating era mais que previsto, ainda que não com a intensidade e a rapidez com que a Moody's agiu. 

Ela colocou a empresa em "grau especulativo", com risco de calote, e derrubou sua avaliação em dois degraus. Na Fitch e na Standard & Poor's, a Petrobras se mantém um degrau acima dos "junk bonds". A Fitch, que dá à companhia duas notas acima do grau especulativo, avisou que está reavaliando a classificação, com perspectiva de possível rebaixamento. Na S&P, ela está na fronteira do grau de investimento. 

A Moody's errou a dose com seu rebaixamento duplo. A ausência do balanço é uma questão que agora parece estar encaminhada e a ameaça de que a Petrobras chegue até abril sem uma peça auditada é pequena, assim como a de, por isso, ter de pagar US$ 56 bilhões antecipadamente - de fato, um pesadelo. Por outro lado, a perda do grau de investimento poderia acontecer a qualquer momento, dada a enorme lista de dificuldades que infernizam a companhia. É o conjunto das circunstâncias que pesa. 

A Petrobras mais que dobrou seu endividamento bruto em pouco menos de três anos. Ele passou de R$ 155,6 bilhões no quarto trimestre de 2011 para R$ 331,7 bilhões no terceiro trimestre de 2014. A marcha acelerada de pesados investimentos que se tornaram obrigatórios para a empresa levou-a a se tornar a petroleira mais endividada do mundo. Sua alavancagem - relação entre dívidas e geração de caixa - saltou para 4,63, acima dos 4 onde começa a zona de perigo. 

Essa situação insustentável castigou as ações da empresa, trazendo-lhe perda de valor de mercado de US$ 202 bilhões, em relação a 23 de setembro de 2010, quando foi capitalizada -um absurdo sob qualquer parâmetro. Diante disso, ou a Petrobras reduzia seu passo de gastos ou encontrava meios de elevar suas receitas. Aqui o destino contábil da empresa chocou-se com o destino estratégico dado pelo acionista controlador. 

Pelas regras do sistema de partilha, às quais foram acoplados programas como o de nacionalização, os compromissos da Petrobras são necessariamente crescentes e seus custos, altos. Pelo lado das receitas, houve forte compressão dos preços domésticos dos combustíveis, durante muito tempo inferior aos preços pelos quais a companhia os importava. A queda pela metade das cotações do petróleo inverteu essa equação, mas deprimiu suas receitas em dólar, moeda na qual está 70% de sua dívida total. A desvalorização do real tornou a equação financeira mais desfavorável ainda. 

O que não se vê nos balanços é igualmente ruim. O sistema de governança da Petrobras é ineficiente e desleixado, na melhor hipótese. 

O espaço para a corrupção em uma diretoria até há pouco dividida em "capitanias hereditárias" era enorme e foi devidamente preenchido. Há um escândalo de grandes proporções que arrasta as maiores empreiteiras do país e dezenas de políticos, cujas consequências são imprevisíveis. Pelo peso que a Petrobras tem na cadeia produtiva, investimentos começam a ser paralisados em cadeia. Perder o grau de investimento era questão de tempo e ele parece ter chegado da pior maneira. 

O contágio da Petrobras na elevação de custo do crédito externo a empresas brasileiras já vinha ocorrendo e deve piorar o acesso e custos com a reavaliação das empresas de rating, mesmo que a reputação delas seja muito ruim. 

Já o risco de contágio sobre a classificação da dívida soberana é outra história. A Moody's diz ter considerado um aporte do Tesouro à Petrobras capaz de elevar a dívida pública bruta a 70% do PIB, alta, mas bem manejável. A contabilidade criativa do primeiro quatriênio da presidente Dilma levantou desconfiança que não havia sobre a capacidade de pagamento do país. O temor é exagerado, se ocorrer de fato a mudança de rumos esperada com a ascensão de Joaquim Levy à Fazenda. 

As agruras em boa parte previsíveis da Petrobras fortalecem a posição de defensor do ajuste fiscal de Levy no interior do governo. É preciso evitar qualquer risco de perda de grau de investimento e deram-se passos no caminho certo. O jogo está longe de ganho e apenas em seu início. As chances de cumprir o ajuste prometido se darão com os cortes no Orçamento, que ainda não foi votado. Os investidores, por seu lado, dão indícios de que não batem pé na meta cheia (1,2% do PIB) e se contentariam com um movimento inequívoco na direção dos superávits.