O recuo da produção e da comercialização de veículos em 2014 não apenas foi expressivo - as quedas em relação a 2013 foram de 15,3% e de 7,1%, segundo a associação das montadoras (Anfavea) -, como ajudou a empurrar para baixo os indicadores industriais, dado o peso do segmento automobilístico no setor secundário. A produção industrial medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caiu 3,2% entre os últimos 12 meses até novembro e os 12 meses anteriores.

Foram produzidas, no ano passado, 3,14 milhões de unidades, 566 mil menos do que em 2013 (3,71 milhões). As exportações de autoveículos montados foram as que mais caíram (40,9%, de 566 mil para 334 mil). O valor total exportado cedeu 30,4%, de US$ 16,5 bilhões para US$ 11,5 bilhões. No mesmo período, houve um corte de pessoal de 7,9%, inferior ao da queda da produção.

Nas vendas totais, inclusive de importados, a diminuição foi de 270 mil unidades, de 3,77 milhões para 3,50 milhões.

As montadoras já parecem convencidas de que há pouco a fazer na tentativa de recuperar, em 2015, o que foi perdido em 2014.

O presidente da Anfavea, Luiz Moan, prevê um aumento da produção de apenas 4,1% neste ano. A recomposição das exportações está na agenda do setor, com vistas a aumentar a participação brasileira nos mercados do México e da Colômbia. Mas será melhor que a estratégia não dependa de incentivos fiscais, pois nessa hipótese corre o risco de não vingar.

O comportamento do setor de veículos, no ano passado, refletiu a perda de dinamismo do mercado consumidor e o enfraquecimento da renda real dos trabalhadores, muitos dos quais trocam o emprego em segmentos mais nobres, como na indústria, por outros no setor de serviços, que usualmente paga salários mais baixos. É pouco provável que essa situação se altere nos próximos meses. Além disso, não deverá ser fácil para as montadoras transferir para os preços finais a cobrança do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), reduzido até o mês passado. Tampouco as condições de crédito deverão mudar para melhor.

Um fator a mais que poderá pesar contra a retomada do setor de veículos foi a antecipação de compras no mês passado, para evitar o risco do acréscimo de IPI. Entre novembro e dezembro, as vendas cresceram 25,6%, de 294 mil para 370 mil unidades, e, comparativamente a dezembro de 2013, aumentaram 4,6%.